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Mostrando postagens de maio, 2023

A coragem de ser considerado "louco"

Uma das minhas maiores tentações é a de querer agradar a todo mundo. Existe um desejo dentro de mim, talvez dentro de todos nós, de sermos vistos como pessoas razoáveis, equilibradas, que se encaixam bem. Antes de tomar uma posição ou defender um princípio, muitas vezes surge aquela vozinha interna que calcula os riscos:  “O que vão pensar de mim? Vou parecer radical demais? Chato? Desconectado da realidade?” É o medo de ser mal interpretado, de entrar em oposição e ser rejeitado. A gente tem a sensação de que, se seguirmos os valores da maioria, se nos portarmos de forma “politicamente correta”, estaremos seguros. Criticaremos o que todos criticam e aplaudiremos o que todos aplaudem. É um caminho de menos atrito, de mais aceitação. E foi no meio dessa minha luta interna que me deparei com as palavras do apóstolo Paulo, que viraram a minha lógica de cabeça para baixo: “Não se enganem. Se algum de vocês pensa que é sábio segundo os padrões desta era, deve tornar-se ‘louco’ para que ...

O mundo que Deus ama (e o mundo que não devemos amar)

Há uma palavra que usamos o tempo todo na igreja e que, dependendo do dia e do sermão, pode soar como duas coisas completamente diferentes: a palavra “mundo” . Num domingo, ouvimos que “Deus amou o mundo de tal maneira...”. No outro, ouvimos o apóstolo João nos advertir: “Não ameis o mundo”. Então, qual dos dois está certo? Somos chamados a amar ou a odiar o mundo? A resposta, como em muitas coisas na nossa fé, está em entender que a Bíblia usa a mesma palavra para falar de duas realidades distintas. Primeiro, há o mundo-criação . Este é o mundo que lemos em Gênesis 1. É a obra de arte de Deus, tudo aquilo que Ele fez e declarou ser “muito bom”. É a beleza de um pôr do sol, a majestade das montanhas, a complexidade da vida. Este mundo, mesmo ferido pelo pecado, ainda “declara a glória de Deus” (Salmo 19.1) e é sustentado a cada instante por Sua misericórdia. Este é o mundo que somos chamados a cuidar, a apreciar e a ver como uma dádiva. Mas, dentro dessa boa criação, há outra realidad...

Eu sou o meu pastor?

Se há um mandamento que a nossa cultura prega com fervor, é este: “Confie em si mesmo”. Vivemos em um mundo competitivo que exige de nós uma constante autopromoção. Somos bombardeados com mensagens para sermos “super-homens” e “supermulheres”, para termos o controle de nossas vidas, para sermos os melhores. E, em certa medida, a autoconfiança é útil. Ela nos dá segurança para agir. Mas há uma linha tênue e perigosa entre a confiança saudável e a autoconfiança cega que nos faz pensar que somos algo que não somos. A Bíblia é uma galeria de retratos de pessoas e reinos que tropeçaram exatamente nessa linha. Os profetas de Baal no Monte Carmelo, tão confiantes em um deus que não existia. Os construtores da Torre de Babel, tão confiantes em sua capacidade de alcançar os céus. O povo nos dias de Noé, tão confiante de que a chuva nunca viria. Todas essas histórias nos forçam a fazer a pergunta que o Salmo 23 nos sussurra ao coração: Quem é, de fato, o nosso Pastor? É o Senhor quem nos guia, o...

Perdoar é perder (e essa é a melhor notícia)

Amigos, Quem de nós nunca sentiu o gosto amargo da mágoa? Aquela ferida que não fecha, aquela conversa que repassamos mil vezes na mente, aquele ressentimento que nos acorrenta a uma pessoa ou a uma situação do passado. Quando guardamos mágoa, nos tornamos reféns. A pessoa que nos feriu pode estar a quilômetros de distância, vivendo a vida dela, mas nós a carregamos conosco para todos os lugares. Cada vez que contamos a história da nossa dor, o cérebro revive a mesma angústia, e damos àquela pessoa o poder de nos ferir de novo e de novo. É um fardo pesado, que, como diz o livro de Jó, “torna a vida amarga e tira a alegria” (Jó 5.2). E a saída para essa prisão invisível, o Evangelho nos ensina, é um caminho paradoxal e, à primeira vista, injusto: o perdão. Eu gosto de pensar que, na raiz da palavra perdoar , está a ideia de perder . Ao perdoar, nós conscientemente abrimos mão. Nós perdemos o nosso “direito” à vingança. Nós perdemos o nosso direito de cobrar a dívida, de exigir justi...

Os óculos que mudam a forma como vemos o mundo

Você já tentou explicar algo da sua fé para um amigo e sentiu que ele simplesmente... não entendeu? Não por maldade, mas como se vocês estivessem falando línguas diferentes, operando em frequências distintas. O apóstolo Paulo nos ajuda a entender essa dificuldade. Ele fala de duas maneiras de perceber a realidade: a do “homem natural” e a do “homem espiritual”. O “homem natural” é aquele que opera apenas com a razão humana, com a lógica do que se pode ver, tocar e medir. Para essa perspectiva, as coisas de Deus — a cruz, a ressurreição, a graça — soam como “loucura” (1 Coríntios 2.14). Não é que a pessoa seja menos inteligente; é que ela está tentando ler um livro divino sem a ajuda do seu Autor. E aqui está a grande verdade: a Palavra de Deus precisa do seu verdadeiro Intérprete para ser compreendida. E o seu Intérprete é o próprio Autor: o Espírito Santo. Sem a Sua luz em nossa mente e em nosso coração, as Escrituras podem parecer apenas um conjunto de regras, histórias e ideias. C...