Porque pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um. Romanos 12.3
A autoconfiança é um tema muito presente no mundo pós-moderno. Afinal, vivemos em uma sociedade cada vez mais persuasiva e competitiva, essa transformação vem ocorrendo de acordo com a autora Susan Cain desde a segunda metade do século XX, e isso traz consigo a necessidade de autopromoção constante. Na sociedade atual é imprescindível sermos ou aparentarmos ser convincentes.
Apesar de a autoconfiança estar ligada a fatores sociais e culturais do mundo no qual habitamos, também faz parte de nosso ser em sua essência. Ou seja, é natural procurarmos a autoconfiança porque possuímos necessidade de autoestima e automaticamente com uma postura autoconfiante alavancamos nossa autoestima. A autoconfiança também nos auxilia a potencializar nossa performance e resultados em qualquer tipo de tarefa. Ser autoconfiante nos dá predisposição a atuar com mais segurança e foco.
Porém, é necessário haver um equilíbrio para que a autoconfiança não se estabeleça em excesso e nos torne cegos por conta de seus efeitos. Quando a autoconfiança é demais, pensamos ser algo que não somos, e isso é perigoso.
Ao longo da história de Israel, vemos como a autoconfiança em excesso destruiu pessoas. Quando o profeta Elias desafia os profetas de Baal a que o deus deles faça acender fogo da lenha posta sob o altar (1Rs 18.23-24) estes tentam realizar o sacrifício ao seu deus durante toda a manhã e tarde daquele dia. Mesmo não vendo os resultados esperados eles persistem em ficar o dia todo invocando um deus inexistente. Caso tivessem se arrependido no meio do processo receberiam perdão e não perderiam o desafio, sendo mortos à espada posteriormente. Eles estavam cegos por uma crença em algo que não existia.
Hoje nós assistimos esta crença exagerada ser incentivada em nós mesmos. “Seja o melhor!” “Tenha o controle sob a sua vida!” “Saiba tudo o que precisa para ter uma vida melhor!” Somos bombardeados com as ideias de que precisamos ser “super-homens” ou “supermulheres”.
E dentro deste panorama aqueles que pensam ter atingido um alto grau de eficácia ou eficiência naquilo para o qual se predispõem, são levados a pensar “eu sou bom”, “eu atingi o topo”, ou até mesmo “eu sou o melhor”.
Você percebe o perigo presente neste excesso de autoconfiança? Sempre é bom um pouco de cautela em relação à isso. O Salmo 23.1 diz: “O Senhor é o meu Pastor.” Será que o Senhor tem sido o nosso Pastor? Ou modificamos a frase para: “eu sou o meu pastor” ?
Fortes reinos do tempo do Antigo Testamento se orgulhavam de suas fortalezas, de seus exércitos, de sua alta organização, de seu comércio marítimo como no caso da cidade de Tiro. Nos livros de Isaías, Jeremias e Ezequiel vemos fortes repreensões e condenações vindas de Deus contra estes povos e Impérios. A soberba e o orgulho destes reinos eram atacados pelos profetas. Isto acontecia porque apesar da altivez que carregavam, estes Impérios não carregavam consigo a verdadeira força que está na humildade de depender do Senhor.
“Pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.” (Lucas 18.14)
Se voltarmos para trás no tempo e formos em Gênesis 11.1-9, iremos ver que Deus confundiu a língua daqueles que construíam a Torre de Babel porque pensavam que iriam construir uma torre que chegaria ao céu. No episódio da Arca de Noé, um aviso foi dado durante 120 anos por Noé. Ele pregou incessantemente que a chuva viria e destruiria tudo, porém o excesso de autoconfiança do povo fez com que debochassem e rissem de suas predições. (Gn 6.1 - 9.17)
A cautela é essencial para viver uma vida com os pés no chão. Precisamos aprender o quanto ela é importante para conseguirmos enxergar as coisas com humildade, não pensando que somos infalíveis, mas antes compreendendo nossas imperfeições. Sócrates dizia:
“conhece-te a ti mesmo”.
Quando procuramos conhecer a nós mesmos, sabemos que somos limitados, que “não devemos pensar de nós mais do que convém” como diz o Apóstolo Paulo. (Rm 12.3)
Por vezes pensamos que o nosso jeito de fazer as coisas é o melhor ou ainda o único certo, mas o Senhor nos ensina a confiarmos no jeito d’Ele.
Ao invés de nos desesperarmos e tentarmos de todos os modos resolver os nossos problemas, utilizando nossas próprias forças e métodos, deveríamos entregar mais nossas dificuldades a Deus para que Ele resolvesse. “Confia os teus cuidados ao Senhor, e ele te susterá; jamais permitirá que o justo seja abalado” (Sl 55.22)
Que possamos em vez de pensar “eu sou bom”, nos lembrarmos que Ele é bom. (Mc 10.18) Em vez de pensar: “eu tenho que ter o controle da minha vida.” Ele tem o controle sob a minha vida. O salmista retrata este pensamento: “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus.” (Sl 46.10)
Precisamos nos desvencilharmos de nossas atitudes egocêntricas e reconhecer que somos criados para vivermos como filhos que dependem de um Pai. Não somos autossuficientes, estamos ligados a Deus e uns aos outros por meio de relacionamentos que tem a intenção de nos fazer crescer e aprender todos os dias.
Por Marlon Anezi
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