Você já leu um versículo que conhece desde criança e, de repente, se perguntou: “Será que estou entendendo isso direito?” Ou talvez já tenha ouvido alguém tirar uma conclusão de um texto bíblico que te fez pensar: “Nossa, eu nunca vi isso aí... de onde essa pessoa tirou isso?”
Nessa jornada de leitura da Palavra, que é um aprendizado constante para todos nós, eu percebi que existem dois extremos muito comuns que podem nos desviar do caminho. Já observei isso em mim e em outros: de um lado, a tendência de se apegar apenas ao “preto no branco” do texto. Do outro, o impulso de “viajar” em nossas próprias ideias sobre o que a passagem poderia significar, correndo o risco de colocar nossas palavras na boca de Deus.
Tudo começou a mudar quando eu entendi a importância de usar duas “lentes” para a leitura. Duas palavrinhas que parecem técnicas, mas que são incrivelmente práticas: referência e inferência.
Lente 1: A Referência (O nosso chão firme)
Pense na referência como o chão firme onde nós pisamos. É simplesmente o que o texto explicitamente diz. São os fatos, as palavras, a mensagem clara e direta. É a nossa âncora de segurança.
Vamos pegar o versículo mais famoso da Bíblia, João 3.16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”
Qual é a referência aqui?
Deus amou o mundo.
Ele deu Seu Filho único.
Quem crê n'Ele não perece.
Quem crê n'Ele tem a vida eterna.
Isso é inegociável. É o que está escrito. Começar por aqui nos protege de inventar coisas.
Lente 2: A Inferência (A vista a partir do chão firme)
A inferência é a vista bonita que temos a partir desse chão firme. É a conclusão lógica que podemos tirar com base no que está escrito, mesmo que a frase exata não esteja lá. É o “então, isso significa que...”.
Voltando para João 3.16, o que podemos inferir? O texto diz que Deus “deu” Seu Filho e que a vida eterna é para quem “crê”. Nós podemos inferir, com segurança, que a salvação é um presente da graça de Deus, e não algo que conquistamos por nosso esforço ou mérito. O versículo não usa a frase “a salvação não é por obras”, mas essa verdade está totalmente implícita ali.
O perigo de usar apenas uma lente
O problema acontece quando usamos apenas uma dessas lentes.
Se ficamos só na referência, nossa leitura se torna superficial. Sabemos os fatos, mas o nosso coração não é aquecido. A Bíblia vira um livro de regras ou de histórias distantes, sem a verdade que nos liberta.
Por outro lado, se pulamos só para a inferência, sem um chão firme, corremos um risco enorme. É aqui que nascem as interpretações subjetivas, o famoso “Deus falou comigo que...”, sobre algo que não tem nenhum fundamento no texto. Nossas ideias e sentimentos se tornam a autoridade, e não a Palavra de Deus.
Então, como encontrar o equilíbrio?
Comece sempre no chão firme da referência. Pergunte-se: “O que este texto está dizendo de fato?”. Depois, com os pés bem firmes ali, olhe ao redor:
Qual é o contexto do capítulo e do livro?
O que outras passagens da Bíblia dizem sobre esse mesmo assunto?
Só então, com segurança, faça a inferência: “Ok, com base em tudo isso, o que essa verdade implica para a minha vida?”.
Aprender a usar essas duas lentes não é sobre se tornar um teólogo profissional. É sobre amar a Deus e a Sua Palavra o suficiente para querermos ouvi-Lo com o máximo de clareza e fidelidade possível.
Que o Senhor nos dê sabedoria nessa jornada.
Com carinho,
Marlon Anezi
Se estas “duas lentes” foram úteis para você, salve este texto para consultar na sua próxima leitura bíblica. E eu adoraria saber nos comentários: qual desses dois erros você se vê cometendo mais — ficar só no “preto no branco” ou “viajar” na interpretação?
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