Pular para o conteúdo principal

Os óculos que mudam a forma como vemos o mundo

Você já tentou explicar algo da sua fé para um amigo e sentiu que ele simplesmente... não entendeu? Não por maldade, mas como se vocês estivessem falando línguas diferentes, operando em frequências distintas.

O apóstolo Paulo nos ajuda a entender essa dificuldade. Ele fala de duas maneiras de perceber a realidade: a do “homem natural” e a do “homem espiritual”.

O “homem natural” é aquele que opera apenas com a razão humana, com a lógica do que se pode ver, tocar e medir. Para essa perspectiva, as coisas de Deus — a cruz, a ressurreição, a graça — soam como “loucura” (1 Coríntios 2.14). Não é que a pessoa seja menos inteligente; é que ela está tentando ler um livro divino sem a ajuda do seu Autor.

E aqui está a grande verdade: a Palavra de Deus precisa do seu verdadeiro Intérprete para ser compreendida. E o seu Intérprete é o próprio Autor: o Espírito Santo. Sem a Sua luz em nossa mente e em nosso coração, as Escrituras podem parecer apenas um conjunto de regras, histórias e ideias. Com Ele, elas se tornam a voz viva de Deus para nós.

É o Espírito que nos transforma em “homens e mulheres espirituais”. E ser espiritual não significa ser mais inteligente, mais santo ou melhor que os outros. Pelo contrário. Significa reconhecer, com humildade, que não dependemos de nós mesmos. Lembre-se de quando Pedro confessou que Jesus era o Cristo. Jesus lhe disse: “Isso não foi revelado a você por carne ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus” (Mateus 16:17).

A sabedoria espiritual é um presente, não uma conquista.

E é aqui que Paulo diz algo poderoso e que, muitas vezes, é mal interpretado: o espiritual “julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém” (1 Coríntios 2.15).

A palavra “julgar” aqui não tem o sentido de sentar em um trono para condenar o mundo com um dedo em riste. Significa, antes de tudo, discernir. É a capacidade, dada pelo Espírito Santo, de perceber, sentir e entender as coisas a partir da perspectiva de Deus.

Eu gosto de pensar nisso de uma forma bem prática: Jesus se torna os óculos do cristão.

Quando colocamos esses “óculos”, o mundo não muda, mas a nossa forma de enxergá-lo, sim. Começamos a discernir o que é bom, para reter, e o que é mau, para nos afastarmos (1Tessalonicenses 5.21). Essa capacidade nos é dada, em primeiro lugar, para nos guiar em nossa própria vida com Deus.

E o que fazemos com essa nova visão? Uma pessoa que usa a sabedoria divina para se sentir superior e apedrejar os outros está usando os óculos de Jesus de forma errada.

Quando enxergamos o mundo através de Cristo, sim, nós percebemos o erro, o pecado, a dor. Mas, ao mesmo tempo, olhamos para o pecador com o coração de Jesus: com compaixão, com um desejo de restaurar, e não de destruir.

O convite de Deus para cada um de nós é para que sejamos espirituais. E o caminho para isso não é acumular mais informações, mas cultivar mais humildade. É esvaziar nosso orgulho e nossa autossuficiência para que o Espírito tenha espaço para nos iluminar com a verdadeira sabedoria, que é o próprio Cristo, nosso Senhor.

Com carinho, 

Marlon Anezi


Se esta reflexão te ajudou, salve-a. E me conte nos comentários: como a imagem de “Jesus como nossos óculos” pode mudar a forma como você enxerga uma situação desafiadora na sua vida hoje?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Afinal, o que é aconselhamento cristão?

Vamos ser sinceros: a expressão “aconselhamento cristão” pode ser um pouco confusa, não é mesmo? Para alguns, soa como uma conversa com o pastor. Para outros, parece uma terapia com oração no final. Há quem pense que é um estudo bíblico focado nos seus problemas. A verdade é que essa confusão é normal, porque o aconselhamento cristão se parece um pouco com tudo isso, mas não é exatamente nenhuma dessas coisas. Eu percebi que a melhor forma de entender o que ele é , é primeiro esclarecer algumas coisas que ele não é . Então, vamos pensar juntos sobre isso? 1. É a mesma coisa que o pastor faz? Sim e não. O que o seu pastor faz ao visitar um enfermo, confortar uma família enlutada ou tomar um café para saber como você está se chama “cuidado pastoral”. É um cuidado lindo, espontâneo e vital para a saúde da igreja. O aconselhamento pode ser parte desse cuidado, mas ele é mais estruturado — geralmente com hora marcada, em um lugar reservado, focado em uma questão específica. E a grande notí...

Duas lentes para ler a Bíblia com mais clareza

Você já leu um versículo que conhece desde criança e, de repente, se perguntou: “Será que estou entendendo isso direito?” Ou talvez já tenha ouvido alguém tirar uma conclusão de um texto bíblico que te fez pensar: “Nossa, eu nunca vi isso aí... de onde essa pessoa tirou isso?”                   Nessa jornada de leitura da Palavra, que é um aprendizado constante para todos nós, eu percebi que existem dois extremos muito comuns que podem nos desviar do caminho. Já observei isso em mim e em outros: de um lado, a tendência de se apegar apenas ao “preto no branco” do texto. Do outro, o impulso de “viajar” em nossas próprias ideias sobre o que a passagem poderia significar, correndo o risco de colocar nossas palavras na boca de Deus. Tudo começou a mudar quando eu entendi a importância de usar duas “lentes” para a leitura. Duas palavrinhas que parecem técnicas, mas que são incrivelmente práticas: referência e inferência . Lente 1: A Referência (...