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Loucura pela fé

Não se enganem. Se algum de vocês pensa que é sábio segundo os padrões desta era, deve tornar-se “louco” para que se torne sábio. 1Co 3.18

Durante todo o testemunho bíblico é possível acompanhar como Deus atuou através de pessoas que a sociedade considerava pessoas “loucas”. Atente-se à história de Noé, pregou por cento e vinte anos que ia chover em um local que nunca choveu, e construiu uma arca para que sua família não perecesse frente ao Dilúvio, para que uma espécie de cada animal fosse preservada. Abraão agiu como “louco” ao levar Isaque para o sacrifício, foi pela loucura que Moisés abandonou as riquezas do Egito e decidiu defender um escravo que fazia parte do seu povo, assassinando um guarda egípcio. Também pode se dizer que foi pela loucura igualmente que Josué e Calebe avistaram a terra prometida e mesmo que lá habitassem gigantes de três metros de altura, creram que iriam a conquistar. E quanto à Davi, o pastorzinho de Israel que acreditou que mataria um gigante com cinco pedras. Estas são apenas algumas de muitas histórias de loucura presentes na Bíblia, histórias em que o ser humano fugiu ao racional agindo contrariamente ao que a lógica lhe dizia.

Mas não é possível dizer que isso partiu destes homens, houve um despertar divino que provocou tais atitudes, a loucura que provém da fé não é a loucura humana que faz por fazer, realiza sem propósito, a loucura que Deus provoca em alguém para que este aja por fé está sempre relacionada à um objetivo, seja este conhecido pela pessoa ou não. Por vezes, Deus não revela o porquê pede certas coisas, Ele apenas pede, e o homem deve a partir disso fazer conforme o que Deus ordenou com a intenção de que os propósitos de Deus sejam cumpridos. O que é interessante é que aquele que age de acordo com a vontade de Deus, raramente irá agir da forma que a maioria das pessoas age, Paulo diz: “Não se enganem. Se algum de vocês pensa que é sábio segundo os padrões desta era, deve tornar-se “louco” para que se torne sábio.” (1Co 3.18) Novamente, a sabedoria divina e humana entram em oposição na epístola aos Coríntios, para Paulo pensar que é sábio por estar agindo da forma que a maioria das pessoas age é enganar-se. Você sabe o que é uma pessoa politicamente correta? O politicamente correto faz o que é correto frente a maioria das pessoas, ele não está preocupado com a essência dos seus atos, com a ética que está no cerne das questões, ele procura agir corretamente de acordo com os padrões da maioria das pessoas, seu medo é ser o chato, o impopular, é ser o mal-educado, o antissocial. O medo do politicamente correto é entrar em oposição e ser rejeitado, há nele uma crença oculta de que seguindo os padrões do tempo atual e se portando o mais próximo possível dos valores da maioria das pessoas ele estará seguro. Poderá criticar, mas não ser criticado, poderá se desfazer daqueles que não seguem seu padrãozinho “politicamente correto”, mas aqueles que se desfizerem dele, não terão argumentos, serão chamados de preconceituosos.

Quando paramos para pensar nisso vemos que nossa sociedade cada vez mais tende a tornar as pessoas mais iguais, e os cristãos são tentados a igualar-se para viver em paz com todos. Porém, cabe a nós lembrarmos que princípios não são negociáveis, os propósitos de Deus não são negociáveis, ao buscar a paz não podemos negociar a nossa identidade. Ser sábio de acordo com o mundo caído custa ao cristão um preço muito caro, para ser politicamente correto no mundo de hoje é preciso ser conivente com muitos princípios que a sociedade tem praticado e que não estão embasados na Palavra de Deus, em Rm 12.2, Paulo fala: “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”

Noé, Abraão, Moisés, Josué, Calebe, Davi e tantos outros não se conformaram com o tempo em que viveram, não se moldaram a partir do padrão da não oposição e do politicamente correto, não procuraram ser iguais, antes procuraram ouvir aquilo que a voz de Deus lhes dizia e a partir desta obediência à voz de Deus foram considerados “loucos” por aqueles que conviveram com eles. Eram loucos? Se ouvir a voz de Deus e obedecer é ser louco, sim, eles foram loucos. Isso vale para nós hoje, se posicionar-se do lado de Deus na sociedade é ser louco, então sim, somos loucos quando afirmamos e vivemos nossa fé em Deus.

Por Marlon Anezi

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