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A coragem de ser considerado "louco"

Uma das minhas maiores tentações é a de querer agradar a todo mundo.

Existe um desejo dentro de mim, talvez dentro de todos nós, de sermos vistos como pessoas razoáveis, equilibradas, que se encaixam bem. Antes de tomar uma posição ou defender um princípio, muitas vezes surge aquela vozinha interna que calcula os riscos: “O que vão pensar de mim? Vou parecer radical demais? Chato? Desconectado da realidade?”

É o medo de ser mal interpretado, de entrar em oposição e ser rejeitado. A gente tem a sensação de que, se seguirmos os valores da maioria, se nos portarmos de forma “politicamente correta”, estaremos seguros. Criticaremos o que todos criticam e aplaudiremos o que todos aplaudem. É um caminho de menos atrito, de mais aceitação.

E foi no meio dessa minha luta interna que me deparei com as palavras do apóstolo Paulo, que viraram a minha lógica de cabeça para baixo:

“Não se enganem. Se algum de vocês pensa que é sábio segundo os padrões desta era, deve tornar-se ‘louco’ para que se torne sábio.” (1 Co 3.18)

Paulo diz que a sabedoria de Deus e a sabedoria do mundo andam em direções opostas. Tentar ser sábio aos olhos do mundo, buscando a aprovação da maioria, é, na verdade, um engano. A verdadeira sabedoria, aos olhos de Deus, muitas vezes terá a aparência de loucura para o mundo.

E então eu olho para a nossa história, para a galeria dos heróis da fé, e percebo que ela está cheia desses homens “loucos” abençoados.

Imagine a loucura de Noé, construindo um barco gigantesco debaixo de sol, pregando sobre uma chuva que nunca havia caído. Imagine a loucura de Abraão, disposto a entregar seu filho prometido, confiando em um Deus que parecia contraditório. Pense na loucura de Moisés, abandonando a segurança do palácio para se aliar a escravos, ou na de Davi, um pastorzinho, acreditando que poderia derrubar um gigante com uma pedra.

Esses homens e mulheres não agiram segundo a lógica da sua época. Eles não buscaram a paz negociando seus princípios. Eles não se conformaram. Pelo contrário, como Paulo nos exorta em Romanos 12.2, eles foram transformados pela renovação do entendimento, ousando viver a vontade de Deus, mesmo que isso os tornasse estranhos aos olhos de todos.

A verdade é que a “loucura” que provém da fé não é um ato irracional sem propósito. É uma obediência que nasce da intimidade com Deus. É ouvir a Sua voz e crer que o caminho que Ele aponta, por mais ilógico que pareça, é o melhor.

Talvez a pergunta que o Espírito nos faz hoje não seja: “Como posso evitar conflitos e ser aceito por todos?”, mas sim: “Você está disposto a parecer 'louco' por amor a mim?”

Isso não significa que devemos ser rudes, antissociais ou buscar a oposição por esporte. Significa que nossos princípios, nossa identidade em Cristo, não são negociáveis. Significa que a nossa bússola interna não é calibrada pela opinião da maioria, mas pela verdade eterna da Palavra de Deus.

Se ouvir a voz de Deus e obedecer é ser louco, então, sim, Noé, Abraão e Davi foram loucos. E se, hoje, em nossa sociedade, posicionar-se ao lado de Deus, viver e afirmar a nossa fé é ser considerado louco, então que sejamos alegremente loucos por Ele.

E você? Em que momento da sua vida você se sentiu “louco” por obedecer a Deus?

Com um abraço,

Marlon Anezi

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