Amigos,
Quem de nós nunca sentiu o gosto amargo da mágoa? Aquela ferida que não fecha, aquela conversa que repassamos mil vezes na mente, aquele ressentimento que nos acorrenta a uma pessoa ou a uma situação do passado.
Quando guardamos mágoa, nos tornamos reféns. A pessoa que nos feriu pode estar a quilômetros de distância, vivendo a vida dela, mas nós a carregamos conosco para todos os lugares. Cada vez que contamos a história da nossa dor, o cérebro revive a mesma angústia, e damos àquela pessoa o poder de nos ferir de novo e de novo.
É um fardo pesado, que, como diz o livro de Jó, “torna a vida amarga e tira a alegria” (Jó 5.2).
E a saída para essa prisão invisível, o Evangelho nos ensina, é um caminho paradoxal e, à primeira vista, injusto: o perdão.
Eu gosto de pensar que, na raiz da palavra perdoar, está a ideia de perder.
Ao perdoar, nós conscientemente abrimos mão. Nós perdemos o nosso “direito” à vingança. Nós perdemos o nosso direito de cobrar a dívida, de exigir justiça com nossas próprias mãos. Parece um ato de derrota, de fraqueza.
Mas, ao perdermos esse direito, nós ganhamos algo infinitamente mais valioso: a nossa própria liberdade. Ao perdoar, nós também perdemos o peso do ressentimento, o veneno do rancor, a amargura que consumia nossa energia. As algemas que nos prendiam àquela pessoa e àquela dor, finalmente, se quebram. Nós perdemos a nossa dor para ganhar a nossa paz.
Essa lógica de “perder para ganhar” é o próprio coração do Evangelho. Jesus nos coloca diante de uma escolha crucial: na vida, você quer operar na moeda da justiça ou na da misericórdia?
Ele nos avisa que a medida que usamos para os outros será a medida usada para nós. Se insistirmos na justiça implacável para quem nos ofendeu, é essa mesma justiça que pedimos a Deus para nós mesmos. Mas, se oferecemos a misericórdia, é a misericórdia que encontraremos. Se perdoarmos, seremos perdoados (Mateus 6.14-15).
“Eu sei”, você pode pensar, “mas é tão difícil!”. E é mesmo. Perdoar não é um sentimento; é uma decisão da vontade, muitas vezes uma decisão que precisamos de ajuda para tomar. Jesus nos dá os primeiros passos:
Comece com uma oração. A ordem d’Ele é radical: “orai pelos que vos perseguem” (Mateus 5.44). Orar por quem nos feriu é o ato de entregar a nossa causa nas mãos de Deus e pedir que Ele comece a mudar o nosso próprio coração. É admitir que não conseguimos sozinhos.
Tente mudar a sua lente. Com a ajuda de Deus, peça para parar de enxergar a pessoa apenas como “meu ofensor” e comece a vê-la como Deus a vê: uma criatura também amada por Ele, também falha, também desesperadamente necessitada da mesma graça que nós.
Perdoar não é fácil. Mas carregar o peso da mágoa é infinitamente mais pesado. Que possamos, hoje, escolher o caminho da leveza.
Que esta seja a nossa oração: Senhor Deus, ajuda-nos com nossas mágoas. Liberta-nos do ressentimento e do rancor que nos prendem ao passado. Ensina-nos a viver em Teu perdão, perdoando para sermos perdoados, pelo amor de Jesus. Amém!
Com carinho,
Marlon Anezi
Se esta reflexão te tocou, salve-a. Há alguma “dívida” que você está cobrando de alguém, e que hoje Deus te convida a “perder” para que você possa ser livre?
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