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É preciso se libertar da mágoa e do ressentimento

O ressentimento torna a vida amarga e tira a alegria. Jó 5.2

Nos nossos dias, não é novidade para grande parte das pessoas que guardar mágoa, rancor ou ressentimento não fazem bem. É normal nos sentirmos magoados quando passamos por desapontamentos, somos feridos por alguém ou sofremos alguma injustiça. Além de mágoa, outros sentimentos como raiva e indignação podem vir junto e nos fazer reféns deste mal que nos aprisiona à pessoa que nos prejudicou e nos deixou chateados.

Mas para que antes possamos entender porque precisamos nos libertar da mágoa, precisamos entender os seus efeitos e consequências em nosso ser. Quando guardamos mágoas, o nosso cérebro produz substâncias químicas e hormônios ligadas ao estresse, que limitam as nossas ações e prejudicam nosso bem-estar. Portanto, guardar mágoas impossibilita o nosso corpo de se sentir bem.

A mágoa também consome muita energia, pois cada vez que contamos o que aconteceu, os mesmos sentimentos são desencadeados. Mesmo que o fato tenha acontecido há muito tempo, com a existência da mágoa o cérebro não fará distinção entre o presente e o passado, fazendo com que pareça que a dor reaparece a cada vez que a situação é lembrada. Sem a existência da mágoa, porém, o fato poderia ser lembrado com a ausência ou diminuição da dor provocada por aquele episódio.

Cada vez que contamos a história da nossa dor, ressaltando o quanto fomos vítimas daquela pessoa e enfatizando o quanto ela foi cruel conosco, continuamos dando poder a ela. Ficamos presos num papel que não deveria ser mais o nosso: o de vítimas. Precisamos ultrapassar esse momento, precisamos nos curar.

No livro de Jó 5.2 está escrito assim:

“o ressentimento torna a vida amarga e tira a alegria.”

A raiz da palavra perdoar vêm de “perder”, ao perdoar nós decidimos perder, porque deixamos de reivindicar algo que alguém nos tirou. Ao perdoar desistimos de cobrar ou lutar por justiça, desistimos de pensar em vingança.

Perdoar é perder porque não teremos de volta o que foi nos tirado quando nos fizeram mal (mesmo quando existe a possibilidade de restituição de alguma forma). Inclusive, quando deixamos de reivindicar nossa justiça e perdoamos, também perdemos algo que estava nos atrapalhando emocionalmente: a mágoa, o ressentimento e o rancor. E acompanhado de todos estes sentimentos nos libertamos das algemas que nos prendiam à pessoa ou pessoas que nos magoaram de forma tão desoladora, tornando nossa vida amarga.

Perdoar, também é doar, no livro A importância do perdão de John Arnott, ele fala sobre o perdão de uma maneira muito interessante e forte. Ele diz:

“Nós devemos dar a outros o perdão que não merecem quando não há nenhuma dúvida de que nós fomos feridos, violados e que eles pecaram contra nós. Sim, há uma dívida não liquidada. Eles nos devem. Mas nós podemos lhes dar um presente não merecido: o perdão. Nós podemos caminhar na misericórdia de Deus e dizer: “Eu quero que a misericórdia triunfe sobre a justiça”.”

Ao perdoar, doamos um presente ao outro, mas ainda assim, precisamos perdoar não por causa do outro e sim de nós mesmos, porque precisamos nos livrar da bagagem pesada que carregamos ao não liberar o perdão.

Outra verdade a respeito do perdão é que ao perdoar somos perdoados. Jesus nos fala sobre isso em Mateus 6.14,15:

“pois, se perdoardes aos homens as suas ofensas, assim também vosso Pai celeste vos perdoará. Entretanto, se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas.”

Neste texto, Jesus nos faz um chamado ao perdão, mostrando a solução para a mágoa e também para recebermos perdão da parte de Deus.

Em Mateus 5.7, Cristo disse: “bem aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.” Em Mateus 7.2 também afirmou: “pois com o critério com que julgardes, sereis julgados; e com a medida que usardes para medir a outros, igualmente medirão a vós.”

Eis a pergunta: justiça ou misericórdia, o que nós realmente queremos? Estarmos presos à mágoa e ressentimento ou libertos pelo poder do perdão? Conforme os ensinamentos de Cristo se julgarmos seremos julgados, se tivermos misericórdia receberemos misericórdia, se perdoarmos seremos perdoados. Jesus não poderia ser mais claro em suas explicações sobre como é importante viver a misericórdia se libertando das mágoas.

Mas perdoar nem sempre é fácil, existem situações que exigem de nós um esforço e um desprendimento maior. Algumas atitudes podem ser tomadas para nos ajudar a verdadeiramente perdoar alguém. Primeiramente, devemos orar por aquela pessoa. Jesus nos ensina isto em Mateus 5.44:

“eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem.”

Não é uma tarefa fácil, e Jesus sabe disto, e por isso Ele quer nos ajudar, quando oramos estamos pedindo ajuda. O primeiro passo é orar pelas pessoas que queremos perdoar e pedir forças a Deus, pois perdoar é uma atitude de coragem.

Outro passo importante é mudar a atitude em relação à pessoa que nos feriu. Para perdoar, devemos modificar a maneira como enxergamos aquela pessoa. Ao invés de nos preocuparmos com o que ela pode nos fazer, precisamos nos perguntar: o que esta pessoa significa para Deus? A partir disso a reconhecemos como uma criatura que Deus ama. E deste modo é possível não mais se preocupar e sentir-se mal toda vez que pensa no que aquela pessoa fez.

Perdoar não é fácil, mas devemos começar reconhecendo que possuímos mágoas e que elas não nos fazem bem. E por isso precisamos tirá-las de nosso coração para nos vermos livres e assim viver em alegria e amor cristão para com todas as pessoas indistintamente.

Oração: Senhor Deus e Pai! Ajude-nos com nossas mágoas Senhor, que possamos todos os dias nos sentirmos libertos do ressentimento, do rancor, dos sentimentos que nos prendem a pessoas que nos magoaram e a episódios da vida que nos machucaram profundamente. Senhor nos ajude a não perdermos de vista a importância do perdão para o nosso bem-estar, assim como para a nossa vida como um todo. Nos auxilie a vivermos em Teu perdão, perdoando e sendo perdoados, pelo amor de Jesus. Amém!

Por Marlon Anezi







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