Quando, no contexto da Igreja, fala-se na palavra “mundo”, por vezes compreendemos o termo sob uma conotação negativa ou até mesmo como algo do qual devemos nos afastar. Porém, esta não é a compreensão bíblica correta do termo. É possível definir o conceito de mundo em seu sentido restrito e amplo.
No sentido restrito, há textos bíblicos que falam do mundo caído, mais especificamente, o mundo após as consequências do pecado. No sentido amplo, o conceito de mundo diz respeito a tudo que foi criado por Deus, e, como Gênesis afirma, tudo o que Deus criou é bom. Portanto, sob o conceito amplo, o mundo não pode ser considerado ruim, pois foi criado por Deus e considerado por Ele como bom.
O sentido restrito, que se refere ao mundo caído, está representado em textos como:
“Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo” (1 João 2.15-16).
“Sabemos que somos de Deus, e que todo o mundo está no maligno” (1 João 5.19).
“Vós sois de Deus, filhinhos, e vós os tendes vencido; porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo” (1 João 4.4).
“Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” (1 João 2.15).
Não há erro algum em falar sobre o mundo sob este aspecto. A ênfase em seu erro e maldade provoca polêmicas, mas é o que dá o norte para que o povo de Deus venha a discernir quem são e o comportamento que devem possuir. Porém, é uma pena que muitas pessoas não conseguem fazer essa distinção e acabam generalizando, criando uma imagem negativa do mundo, como se este fosse o seu significado por completo, sem considerar que ainda há muitas coisas boas no mundo, criadas por Deus. Afinal, é somente pela misericórdia divina que o mundo se mantém e é sustentado por Ele. Isso é maravilhoso! E é por isso que podemos olhar para a beleza da vida e de tudo o que Deus nos provê. Nós, seres humanos, também produzimos algo de bom a partir da renovação que o Espírito Santo provoca em nossas vidas, porque a imagem e semelhança de Deus é reestabelecida em nós através de Jesus. Dessa forma, as nossas boas obras também contribuem para que o mundo seja um lugar melhor.
Portanto, não há só maldade e destruição no mundo; ainda vemos e desfrutamos do que restou da criação. Alguns textos que falam sobre o mundo em seu sentido amplo, enquanto criação de Deus, são:
“No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1).
“E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom” (Gn 1.31).
“Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos” (Sl 19.1).
“Do Senhor é a terra e a sua plenitude; o mundo e aqueles que nele habitam. Porque ele a fundou sobre os mares, e a firmou sobre os rios” (Sl 24.1-2).
Ainda há outro versículo muito conhecido; contudo, este fala sobre a totalidade do conceito de mundo, em seu aspecto amplo e restrito. Jesus veio para resgatar o mundo por completo: enquanto criação e em seu aspecto caído, porque Deus amou o mundo.
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
Jesus não veio restituir apenas as pessoas do mundo caído; Ele veio restabelecer a ordem por completo. No Seu retorno a esta terra, Cristo vai restabelecer não apenas os seres humanos, mas toda a Sua criação.
A Igreja faz parte do mundo criado por Deus; ela está no mundo. E mesmo que devamos nos afastar do “mundo caído”, ou seja, das obras da carne e dos valores mundanos que nos afastam de Deus, somos chamados a pregar para o mundo caído com o objetivo de resgatar aqueles que abrirem seus corações para a mensagem de Deus. Como disse Paulo: “Assim, eu me torno tudo para todos a fim de poder, de qualquer maneira possível, salvar alguns” (1 Co 9.22).
Deus deseja que estejamos entre as pessoas do “mundo caído” para que possamos dar testemunho de nossa fé, principalmente através da maneira como vivemos. Portanto, não cabe à Igreja viver isolada do mundo, mas sim olhá-lo com misericórdia e aprender a conviver com ele, assim como fez Jesus quando esteve por aqui.
Por Marlon Anezi
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