Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de outubro, 2024

Fé é graça

Quantas vezes já ouvimos frases que consideram a fé enquanto uma conquista pessoal ou algo do qual alguém deva sentir orgulho? “Eu tenho fé”, dizem muitos cristãos ao perceberem que alguém demonstra algum tipo de incerteza, é quase como se fosse uma competição. Ao pronunciar que temos fé, é de costume que o façamos para reforçar o nosso ego, quando na verdade, fé não diz nada a nosso respeito, exatamente pelo fato de que a fé nos é dada, de graça, de forma totalmente indistinta. A fé, portanto, não é uma conquista ou uma virtude pessoal pela qual possamos nos orgulhar. A graça de Deus é absolutamente imerecida. Ela não depende de qualquer ação, disposição ou qualidade preexistente no ser humano. A salvação acontece pela graça e portanto, é resultado da iniciativa divina que decide salvar e por amor perdoar as nossas falhas e limitações. Em Efésios 2.8-9, o apóstolo Paulo dá testemunho desta salvação operada pela graça: “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não v...

O ser humano é bom ou mau?

Pensar o ser humano é um desafio milenar. Muitos teóricos de diversas áreas do conhecimento já tentaram definir a condição humana. A partir de um olhar moral pode-se inferir a seguinte pergunta: o ser humano é bom ou mau? A pergunta sugere uma resposta que define, é isto ou aquilo, porém a resposta para esta pergunta nunca é simples, antes é complexa e paradoxal. A antropologia teológica define o ser humano a partir daquilo que Deus revela sobre ele, o que nos leva a considerar três aspectos importantes: o ser humano como criatura, como pecador e como alguém que pode ser redimido em Cristo. No relato bíblico da criação, Deus cria o ser humano e tudo o que ele cria é “bom”. Enquanto criação divina o ser humano apresenta em sua raiz natural uma bondade original, portanto, a criatura foi criada boa, assim como o restante da criação de Deus. No entanto, com a queda, a relação entre o ser humano e Deus é profundamente afetada. A queda traz a corrupção do pecado, uma “deturpação” da bondad...

É necessário se posicionar teologicamente entre calvinismo e arminianismo?

Por esses dias, li um texto de A.W. Tozer onde ele mencionava o momento em que John Wesley, prestes a morrer, começa a cantar um hino de Isaac Watts, um compositor calvinista. Isso chamou a atenção de Tozer, pois Wesley, um arminiano, estava cantando um hino calvinista. Tozer então é levado a questionar por que duas teologias ou visões sobre a salvação, como o calvinismo e o arminianismo, precisam ser vistas como opostas, forçando as pessoas a se posicionarem de um lado ou de outro. Tozer pergunta: “Se John Wesley pode cantar um hino calvinista sendo arminiano, por que eu deveria me sentir obrigado a escolher um lado?” Em nosso tempo, em diversos contextos sociais, como a política, por exemplo, somos frequentemente pressionados a nos posicionar de forma binária – ou esquerda ou direita, neste contexto não há espaço para a neutralidade, em tempos de intolerância o centro não é considerado uma opção. Hoje, vivemos na cultura da guerra de opiniões. Se você decide se manter neutro, rapid...

Como a doutrina dos dois reinos nos ajuda em nossas decisões eleitorais?

Como cristãos, somos chamados a viver nossa fé de maneira responsável e coerente com a Palavra de Deus. As eleições se constituem enquanto um momento importante da nossa vida em sociedade e  uma doutrina que pode nos ajudar muito nesse processo é a doutrina luterana dos dois reinos. De acordo com Lutero, Deus governa o mundo de duas maneiras distintas, mas complementares: o governo espiritual e o governo temporal. O governo espiritual, também chamado de reino da graça, é o governo de Deus sobre o coração e a vida espiritual das pessoas, realizado por meio da pregação do evangelho e dos sacramentos. Já o governo temporal, ou reino da lei, representa o governo de Deus sobre a sociedade e o mundo, utilizando a autoridade e as leis para manter a ordem, a justiça e a paz. Nesse reino, Deus usa líderes e instituições civis para promover o bem-estar comum, mesmo que esses governantes não sejam necessariamente cristãos. Segundo Lutero, “Deus estabeleceu dois reinos, ambos criação de Deu...