Pensar o ser humano é um desafio milenar. Muitos teóricos de diversas áreas do conhecimento já tentaram definir a condição humana. A partir de um olhar moral pode-se inferir a seguinte pergunta: o ser humano é bom ou mau? A pergunta sugere uma resposta que define, é isto ou aquilo, porém a resposta para esta pergunta nunca é simples, antes é complexa e paradoxal. A antropologia teológica define o ser humano a partir daquilo que Deus revela sobre ele, o que nos leva a considerar três aspectos importantes: o ser humano como criatura, como pecador e como alguém que pode ser redimido em Cristo.
No relato bíblico da criação, Deus cria o ser humano e tudo o que ele cria é “bom”. Enquanto criação divina o ser humano apresenta em sua raiz natural uma bondade original, portanto, a criatura foi criada boa, assim como o restante da criação de Deus. No entanto, com a queda, a relação entre o ser humano e Deus é profundamente afetada. A queda traz a corrupção do pecado, uma “deturpação” da bondade original. O pecado se manifesta como uma rebeldia contra Deus e separa a criatura do Criador. Contudo, essa separação não anula a bondade fundamental da criação, mas transforma o modo como o ser humano se relaciona com Deus e com o mundo.
Mesmo após a queda, Deus não abandona sua criação. Como destaca Bonhoeffer, o mundo criado, embora caído, é preservado por Deus. A obra de Deus continua sendo boa, pois reflete a bondade do Criador. O problema não está na criação em si, mas no rompimento da comunhão perfeita entre Deus e o ser humano. Esta ruptura faz com que o ser humano viva em rebeldia, em um estado de pecado, o que afeta profundamente sua natureza e suas ações.
Mas além de ser criatura e pecador, ainda há uma terceira identidade que pode ser elencada ao ser humano. De acordo com Bayer, a identidade humana é dada por Deus e não pode ser conquistada ou produzida por esforço próprio. O ser humano não pode ser definido apenas por sua condição de pecador, mas pela nova realidade dada por Deus através de Cristo. A redenção oferecida em Jesus reconstrói a identidade da criatura, permitindo que ela seja, simultaneamente, criatura, pecador e justo. Isso significa que, pela fé, o ser humano pode ser renovado e restaurado, mesmo enquanto permanece pecador.
Assim, o ser humano é bom enquanto criatura de Deus, mas é corrompido pelo pecado. A maldade é vista na sua rebelião e no distanciamento de Deus, mas essa não é sua identidade final. Em Cristo, podemos ser restaurados à comunhão com Deus, recebendo uma nova identidade como filhos de Deus. O batismo, por exemplo, é um símbolo dessa transformação, nele nos tornamos justificados, apesar de nossa condição pecadora.
O ser humano não é apenas bom ou mau, ele é criatura, criada boa por Deus, é má, deturpada pelo pecado, e justa, perante Deus por causa de Jesus Cristo. Nem todos possuem a terceira identidade, na qual o ser é renovado e torna-se filho de Deus. Vale ressaltar que o mal não define a essência final daqueles que tem a sua identidade restaurada por Jesus, a última identidade sempre é aquela que será mais presente nas nossas vidas. Assim como Lutero afirmou, somos simultaneamente justos e pecadores, o velho e o novo homem seguem lutando em nós continuamente até a eternidade, mas sob a guia do Espírito o novo homem prevalece em nossas vidas.
Por Marlon Anezi
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