Amigos,
Quero compartilhar com vocês uma cena que o teólogo A.W. Tozer descreveu e que nunca saiu da minha cabeça. Em seu leito de morte, John Wesley, o grande pai do Arminianismo, começou a cantar um hino de Isaac Watts, um fervoroso Calvinista.
Tozer, ao observar essa cena, fez a pergunta que talvez muitos de nós tenhamos medo de fazer em voz alta: se, na hora da morte, o que importava para Wesley era o consolo em Cristo — independentemente de quem o escreveu —, por que, em vida, nós gastamos tanta energia cavando trincheiras teológicas opostas?
A pergunta de Tozer é um bálsamo para o nosso tempo, uma era de polarização extrema.
Somos constantemente pressionados a nos posicionar de forma binária. Na política, ou você é de direita ou de esquerda. Se tenta buscar um caminho de centro, é atacado pelos dois lados. Vivemos em uma cultura de guerra de opiniões, onde a neutralidade é vista como traição.
E esse mesmo espírito de “ou está comigo ou está contra mim” invadiu a vida da Igreja. Somos pressionados a escolher um uniforme: a camisa do Calvinismo ou a do Arminianismo, como se essas fossem as duas únicas maneiras de amar a Deus e de ler a Bíblia.
Mas a história da Igreja é muito mais vasta, e a nossa fé, muito mais profunda do que essa briga. A minha própria tradição, a luterana, por exemplo, é anterior a todo esse debate e não se encaixa perfeitamente em nenhuma das duas caixas. É perfeitamente possível viver uma espiritualidade cristã saudável e profunda sem se prender a essas categorias.
Então, o que fazemos com a pressão para tomar um partido em guerras que, muitas vezes, não fazem sentido para nós?
A resposta é um convite à liberdade e à autonomia espiritual.
Primeiro, afaste-se da pressão. Reconheça quando alguém não está buscando o diálogo, mas apenas recrutando soldados para a sua briga. Você não tem a obrigação de entrar em todas as batalhas.
Segundo, abrace a sua liberdade. Você tem o direito de dizer: “Eu ainda estou aprendendo sobre isso”. Ou: “Eu não me sinto confortável com nenhum dos extremos”. Ou, simplesmente: “Eu prefiro focar naquilo que nos une em Cristo”.
No fim de sua reflexão, Tozer conclui que a resposta para toda essa ansiedade teológica é simples: descansar em Deus.
Nossa fé não depende de dominarmos teorias complexas sobre a predestinação ou o livre-arbítrio. A obra de Cristo por nós basta. O verdadeiro chamado da nossa fé não é vencer debates, mas, como disse o profeta Miqueias, “praticar a justiça, amar a misericórdia e andar humildemente com o nosso Deus” (Miqueias 6.8).
Não compre a briga dos outros. Descanse em Deus. Essa é a verdadeira paz do Evangelho.
Com carinho,
Marlon Anezi
Se esta reflexão te trouxe um pouco de paz, salve-a. E para aprofundarmos essa conversa sobre como encontrar descanso em meio à polarização, quero te fazer um convite para a nossa live sobre o assunto.
Assista logo abaixo:
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