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Como ser um cidadão do Céu (e votar na Terra)

Amigos,

Com as eleições se aproximando, a pressão e a ansiedade parecem aumentar. Somos inundados por informações, debates apaixonados, e a sensação de que o futuro da nossa nação está em jogo. E, em meio a tudo isso, surge a pergunta que muitos de nós fazemos em silêncio: como a minha fé em Jesus deve guiar o meu voto?

Para me ajudar a navegar por essas águas turbulentas, eu sempre volto a uma ferramenta poderosa que a Reforma Luterana nos deu: a doutrina dos dois reinos.

Martinho Lutero ensinava que Deus governa o mundo de duas maneiras diferentes, mas complementares. Gosto de pensar nisso como as “duas mãos de Deus”.

Com a Sua “mão direita”, Ele governa o reino espiritual. Este é o reino da graça, do Evangelho, da fé. É o trabalho da Igreja, que lida com o perdão dos pecados e com a promessa da vida eterna. O objetivo deste reino é salvar almas.

Mas Deus também governa com a Sua “mão esquerda” o reino temporal. Este é o reino da lei, do governo civil, dos prefeitos, juízes e presidentes. O objetivo deste reino não é salvar almas, mas manter a ordem, a justiça e a paz na sociedade, para o bem de todos — cristãos e não-cristãos.

Entender essa distinção nos oferece uma perspectiva clara e equilibrada para as nossas decisões eleitorais. E o que isso significa na prática?

1. Não estamos elegendo um Messias. A primeira coisa que essa doutrina faz é nos libertar da idolatria política. O candidato não é um salvador. O Estado não é a Igreja. A função do governo não é impor a fé cristã, mas garantir a justiça e o bem-estar comum para uma sociedade plural. Nós não votamos esperando que um político traga o Reino dos Céus à terra.

2. Somos chamados a participar com responsabilidade. Ao mesmo tempo, essa doutrina nos livra da apatia. Deus se importa com a justiça e a ordem neste mundo, e Ele nos chama, como cidadãos, para sermos Seus instrumentos no reino temporal. Votar não é “se sujar com o mundo”; é um ato de amor ao próximo, de buscar o bem da nossa cidade e nação.

3. O nosso critério é o bem comum. Então, como escolhemos? A doutrina dos dois reinos nos guia a olhar para os candidatos e perguntar: suas propostas promovem a justiça para todos? Eles têm um plano para cuidar dos mais vulneráveis — os pobres, as viúvas, os órfãos, os estrangeiros? Eles parecem ser pessoas que governarão com integridade e competência para o bem de toda a sociedade, e não apenas de um grupo?

No fim das contas, como cristãos, vivemos com uma cidadania dupla. Somos cidadãos do Brasil, chamados a trabalhar pelo bem da nossa pátria terrena. Mas nossa lealdade final e nossa esperança definitiva estão em nossa cidadania celestial. Sabemos que nenhum governo humano é perfeito, e nossa verdadeira paz não está no resultado de uma eleição, mas na promessa do retorno do nosso Rei, Jesus.

Que, ao nos aproximarmos das urnas, possamos fazê-lo com essa liberdade e responsabilidade. Sem idolatria, sem apatia, mas como cidadãos conscientes que amam a Deus e, por isso, servem ao próximo.

Com carinho e em oração por nosso país, 

Marlon Anezi

Se esta reflexão te ajudou, salve-a. E para aprofundarmos essa conversa sobre como nossa fé pode nos guiar em tempos de eleição, quero te fazer um convite para a nossa live sobre o assunto.

Assista logo abaixo:


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