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A fé pós-moderna no acaso

O anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo. Lc 2.10 

Imagine os pastores em Belém ao receberem a notícia do anjo do Senhor de que o Salvador estava nascendo, naquele instante, em uma estrebaria próxima dali. Havia expectativa por parte deles, assim como havia dos reis magos que também o procuravam através da estrela e foram prontamente ver. Certamente também havia alegria e esperança nos corações daqueles que foram ver o menino Jesus deitado em uma manjedoura.

Fico pensando se o nascimento de Cristo fosse hoje e um anjo trouxesse esta boa notícia, como as pessoas reagiriam? Talvez, com um ar de descrédito, diriam: "não pode ser verdade, não está no Google" ou então questionariam: "Ele é o Salvador de quê? Não preciso ser salvo por ninguém". Nos dias de hoje, a apatia em relação às verdades divinas é grande. Me questiono se as boas novas de salvação que o anjo afirmou que seriam "de grande alegria para todo o povo" estão de fato sendo recebidas com alegria pelas pessoas.

Sim, a intenção era essa: causar alegria e trazer esperança, pois a salvação de todo o ser humano reside n'Ele, se apresenta na figura e obra de Jesus Cristo. O Deus Conosco, o Redentor, Aquele que perdoa os pecados de toda a humanidade.

O problema das pessoas do nosso tempo não é a falta de fé. Porque, de alguma forma, todos vivem crendo em algo, mesmo que seja em nada. Crer em nada exige fé. Para ser cético, é necessário fundamento, é preciso raciocinar colocando sempre descrédito em tudo, para quando entrar em contato com alguém com fé em algo, possa prontamente manter sua posição cética. Só tem este tipo de atitude quem de fato crê na posição que adotou e, por isso, se dá ao trabalho de defender tal posição e se manter nela.

É inegável que todas as pessoas acabam exercitando sua fé. A grande questão é: no que o indivíduo pós-moderno tem apoiado sua fé? Na atualidade, muitas pessoas não acreditam no conceito de "pecado", consequentemente, não acreditam que precisam ser salvas de alguma coisa. Como será para elas motivo de alegria a vinda do salvador? Não há significado para elas o ato salvífico de Jesus.

No Natal, este significado acaba sendo transferido para os presentes, que simbolizam, de certa forma, o maior presente recebido por nós, a salvação. Só que, para essas pessoas, os presentes se tornam um fim em si mesmos, o maior presente é esquecido e nem ao menos acaba sendo recebido por fé, porque a fé foi colocada no acaso. Muitos recebem o presente de Natal e se contentam com isso, como se não houvesse mais. Recebem uma vida cheia de possibilidades e não percebem que ela é um prelúdio, é apenas um pedaço do que está por vir. Vivem como se tudo fosse terminar aqui e agora. O apóstolo Paulo já dizia: "se é só para esta vida que esperamos em Cristo, somos de todos os homens os mais dignos de lástima." (1Co 15.19)

Sim, crer no acaso é triste, é no mínimo desalentador. Vivemos em uma sociedade que vive essa tragédia. Age como se não precisasse de salvação; o foco é no hoje, no agora; a vida é apenas esta que estamos vivendo neste momento; não há pecado, portanto tudo é permitido se me faz feliz. E assim, muitos vivem, porque é mais fácil pensar e viver assim. Ignoram os sinais de Deus, negam a vida que Ele ofereceu a todos, negam a morte de Cristo na cruz e Sua ressurreição. Negam a possibilidade de estarem errados. Negam, juntamente com tudo isso, a oportunidade de possuir fé, esperança e salvação.

Por Marlon Anezi

 


Comentários

  1. Excelente reflexão! Todo indivíduo crê em algo, ainda que seja em si mesmo. Os "independentes de Deus" erguem altares para deuses modernos em seus corações e não percebem o quão religiosamente pagãs são suas atitudes. Enquanto dizem amar a liberdade, aprisionam a si mesmos, negando a liberdade que Cristo proporciona. É uma pena que o homem, que tanto pediu para que Deus saísse de cena, hoje viva a mercê do deus que ele mesmo cultiva em seu estômago.

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    Respostas
    1. Verdade, Bruno! Estamos vivendo tempos complicados. O evangelho, em sua essência, torna-se cada vez mais obsoleto, porque as pessoas não compreendem que precisam ser salvas. Este evangelho que vem de encontro ao homem e o tira da escuridão, anunciado pelo anjo aos pastores em Lc 2 é cada vez mais difícil de se conectar com as pessoas. E disso decorrem vários problemas...

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