Amigos,
Dias atrás, minha esposa e eu decidimos embarcar em uma pequena viagem no tempo. Começamos a assistir à novela Esperança, exibida originalmente em 2002. Para mim, é uma revisita: eu tinha apenas sete anos quando a vi pela primeira vez.
É incrível o que se pode aprender com essas tramas de época. Há um ar poético, um ritmo mais lento que nos conecta a um outro tempo, onde a vida talvez recebesse outros significados. Mas, para além da nostalgia, o que mais me impressiona agora, com um olhar de adulto, é o “sermão” escondido no coração daquele roteiro: a eterna e universal luta entre o amor e a sobrevivência.
Ao observar os personagens, percebo que todos nós, na novela e na vida, somos movidos por um de dois grandes impulsos que habitam nosso coração.
De um lado, temos o coração apaixonado. Ele é sonhador, idealista. Para ele, o que importa é o sentimento, a conexão, o propósito. O dinheiro, o status, as regras sociais... tudo isso é secundário. Ele acredita que o amor, por si só, é a força que move o mundo.
Do outro lado, temos o coração protetor. Ele é prático, objetivo, às vezes frio e calculista. Sua principal preocupação é a segurança, a estabilidade, a sobrevivência. Para ele, o amor só pode florescer sobre um terreno firme de provisão material e valores bem estabelecidos. É uma forma de cuidado, expressa através da responsabilidade.
A novela, ambientada na década de 1930, mostra o choque entre esses dois mundos de forma explícita. Vemos pais conservadores que, em nome da “segurança” da família, proíbem casamentos por diferenças de classe ou religião, tornando os filhos infelizes. A personagem Francisca, a “mão de ferro”, assume o papel de provedora após a morte do marido, e sua busca por sobrevivência é tão intensa que, por vezes, se transforma em controle, sufocando aqueles a quem ela tanto ama.
Mas o amor que ignora a realidade também se mostra frágil. Os filhos de Francisca, movidos por um ideal nobre, decidem dar aulas de graça para a comunidade. Um gesto lindo, mas que só é possível porque eles estão amparados pela riqueza e pelo trabalho rígido da mãe que tanto criticam.
E isso me faz pensar em nossas próprias vidas.
Quantos de nós não vivemos essa mesma tensão? Em nossas famílias, em nossas carreiras, em nossas decisões. Somos mais movidos pela paixão ou pela prudência? Pelos nossos sonhos ou pelos nossos medos?
A lição que a trama de Esperança parece nos sussurrar é que a vida floresce na busca pela harmonia entre esses dois polos. O amor precisa da segurança para não se tornar uma fantasia ingênua. E a sobrevivência precisa do amor para não se tornar uma prisão sem sentido.
Talvez um equilíbrio perfeito seja utópico em um mundo tão imperfeito como o nosso. Talvez seja um sonho a ser sempre perseguido. Mas é justamente essa busca, essa tensão entre o coração apaixonado e o coração protetor, que gera o movimento, o conflito, o crescimento e a beleza de nossas próprias histórias.
Com carinho,
Marlon Anezi
Se esta reflexão te fez pensar, salve-a. E me conte nos comentários: na sua vida, qual desses dois impulsos — o amor ou a sobrevivência — costuma falar mais alto? Como você busca harmonia entre eles?
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