É provável que, nos últimos anos, você tenha ouvido falar — ou até se emocionado assistindo — a série The Chosen. É inegável: estamos diante de um fenômeno. Uma produção sobre a vida de Jesus que rompeu as bolhas da igreja e alcançou milhões de corações ao redor do mundo, muitos dos quais talvez nunca tivessem aberto uma Bíblia.
E antes de qualquer análise, eu preciso dizer, como teólogo e como cristão: que bom que isso está acontecendo. O fato de uma série sobre Jesus gerar tanta conversa e interesse já nos diz muito sobre a sede que o nosso tempo ainda tem de Deus, de sentido, de um encontro com o transcendente.
Por isso, tenho pensado muito sobre essa obra, não como um crítico de cinema, mas como alguém que ama a Cristo e a Sua Palavra.
O grande acerto: um Jesus com poeira nos pés
A primeira coisa que precisamos celebrar em The Chosen é a sua coragem de abraçar o escândalo da encarnação. O Verbo se fez carne. Carne real, que sente fome, que se cansa, que conta piadas, que se entristece e que sorri.
A série acerta em cheio ao nos mostrar discípulos cheios de defeitos, medos e manias, muito parecidos conosco. E nos apresenta um Jesus que não flutua acima da vida, mas que pisa o chão da existência. Um Jesus com poeira da Galileia nos pés, que olha para pessoas comuns e quebradas e diz: “Vem e segue-me”.
Na teologia, especialmente na tradição da Reforma, aprendemos que Deus se revela na fraqueza, na humanidade, na cruz. Ver um Jesus tão humano não diminui a Sua divindade; pelo contrário, reafirma a glória de um Deus que se esvaziou por amor a nós.
O cuidado necessário: a seta e o Alvo
Dito isso, com a mesma seriedade com que celebramos, precisamos também cultivar o discernimento. E o primeiro ponto de cuidado é este: The Chosen é uma seta, não o Alvo.
A série é uma interpretação artística, uma mediação humana, limitada e falível. Ela não é, e nem pretende ser, um substituto das Escrituras. A Palavra de Deus é a nossa única regra de fé e vida. É a voz viva de Deus que nos salva, confronta e consola. Por isso, a melhor maneira de assistir à série é com a Bíblia aberta no colo, permitindo que a arte nos intrigue, mas que a Palavra nos instrua.
O segundo cuidado é não substituir a Pessoa pela imagem. O Jesus da fé cristã não é o ator talentoso que o interpreta. O nosso Senhor é o Deus encarnado, crucificado e ressuscitado que vive e reina. Ele não cabe numa tela. A série pode nos dar vislumbres sensíveis d'Ele, mas é na vida real que realmente o conhecemos.
Onde o encontro real acontece?
E isso nos leva à pergunta mais importante: onde encontramos esse Jesus real, que não é um personagem?
A série pode despertar a sede, mas a Água Viva é oferecida a nós de forma segura e certa nos lugares que o próprio Cristo estabeleceu: na Palavra pregada que ecoa em nossa comunidade, na água do Batismo que nos enxerta em Seu corpo, e no pão e no vinho da Santa Ceia, onde Ele mesmo se dá a nós.
Esses são os meios da graça. Nenhuma obra de arte, por mais brilhante que seja, pode substituí-los.
No fim das contas, vejo The Chosen como uma valiosa oportunidade. Que ela seja uma porta de entrada, um ponto de partida. Que ela sirva como aquela seta que aponta para a cruz e para o túmulo vazio. E que, ao assistir, sejamos todos tomados por um desejo de querer mais: mais da Palavra, mais do Evangelho, mais do Cristo real.
Porque a boa notícia, que nenhuma série pode conter, continua sendo esta: o mesmo Jesus que olhou nos olhos de Pedro, Mateus e Maria Madalena é o Jesus que hoje, através de Sua Palavra e Espírito, olha nos meus e nos teus olhos e diz: “A paz esteja com você”.
E isso, nada pode substituir.
Com carinho,
Marlon Anezi
Se você tem assistido à série, eu adoraria saber: qual cena ou momento de The Chosen mais te tocou e te levou a pensar mais em Jesus e nas Escrituras? Vamos conversar nos comentários.
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