Sabe, às vezes eu olho ao redor e tenho a impressão de que a vida cristã se divide em dois grandes grupos.
De um lado, o grupo da “cabeça”. São aqueles que amam a teologia, devoram livros, conhecem a sã doutrina e a defendem com firmeza. A estante deles é cheia, e a mente, afiada.
Do outro lado, o grupo do “coração”. São os que buscam uma fé viva, uma devoção sincera, que se alegram na comunhão e valorizam a certeza da presença de Deus no dia a dia. A fé deles é cheia de piedade e confiança.
E se eu for sincero, eu não só já vi esses dois grupos, como já tive meus momentos em ambos os lados. Já senti o orgulho de “saber mais” e também já busquei uma fé com mais devoção e menos estudo. Por isso, eu me pergunto: será que precisamos mesmo escolher um lado?
A resposta que encontro na Palavra é um sonoro não. Uma fé cristã autêntica não vive nos extremos; ela floresce no equilíbrio. Ela acontece quando a cabeça e o coração resolvem andar de mãos dadas.
O apóstolo Paulo, talvez o maior intelecto da igreja primitiva, nos dá um alerta sério. Ele diz que, mesmo que ele conhecesse “todos os mistérios e toda a ciência”, se não tivesse amor, ele seria um absoluto nada (1 Coríntios 13.2). O conhecimento, quando não nos leva a amar mais a Deus e às pessoas, se torna um peso morto. Uma teologia que não gera compaixão é apenas uma coleção de fatos vazios.
Mas o mesmo Paulo também alerta seu jovem discípulo, Timóteo, sobre o perigo do outro extremo. Ele prevê um tempo em que as pessoas não suportariam a “sã doutrina” e buscariam mestres que apenas coçassem seus ouvidos com o que eles queriam ouvir (2Timóteo 4.3). Uma fé baseada só em sentimentos, sem o alicerce da verdade, é como uma casa na areia. Pode ser bonita e devota, mas não aguenta a primeira tempestade.
Então, para onde olhamos?
Olhamos para Jesus. E n'Ele, essa divisão simplesmente não existe; a distância que às vezes colocamos entre a teologia e a vida desaparece, já que n'Ele cada palavra de ensino era inseparável de seus atos de compaixão.
Jesus ensinava com uma autoridade e um conhecimento das Escrituras que deixava os doutores da lei maravilhados. Sua mente era a mais brilhante que já existiu. Ao mesmo tempo, Ele passava madrugadas em oração, chorava com os que choravam e cultivava intimidade com o Pai.
Jesus vivia uma espiritualidade teológica e uma teologia espiritual. A verdade que Ele conhecia aquecia Seu coração, e o amor em Seu coração O movia a viver e ensinar a verdade.
Esse é o nosso alvo. E como caminhamos nessa direção?
Que o nosso estudo seja uma oração. Que a gente se aprofunde na Palavra não para ganhar discussões, mas para sermos transformados por ela.
Que a nossa oração seja bíblica. Que a gente permita que a verdade da Escritura molde nossos desejos e palavras diante de Deus.
Que a nossa fé nos leve à ação. A teologia de verdade sempre nos empurra para fora, para servir, amar e agir com compaixão em favor do próximo.
O caminho cristão não é uma escolha entre frieza intelectual e uma devoção sem rumo. O caminho é Cristo — a perfeita união entre graça e verdade.
A minha oração é que a gente caminhe junto, cultivando uma fé com a mente sempre renovada pela verdade e o coração ardente pelo Evangelho.
Com carinho,
Marlon Anezi
Se esta reflexão te encorajou a buscar esse equilíbrio, salve-a para ler novamente. E me conte nos comentários: você tende a se inclinar mais para o grupo da “cabeça” ou do “coração”? Vamos conversar!
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