Amigos,
É impossível ignorar: a Inteligência Artificial generativa chegou e já está mudando a forma como trabalhamos e vivemos. Eu mesmo, como escritor e teólogo, vejo o potencial imenso que ela tem para a produtividade: pode organizar ideias, sugerir estruturas, agilizar tarefas repetitivas. É, sem dúvida, um avanço fascinante.
Mas, quando a conversa sai do campo da produtividade e entra no campo da pesquisa e da reflexão — especialmente a teológica —, meu coração de pastor e estudioso fica mais cauteloso.
A IA nos dá uma perigosa ilusão de onisciência. Com um “prompt” bem escrito, parece que podemos ter a resposta para qualquer pergunta em segundos. Mas aqui mora o perigo, e eu vejo dois grandes problemas.
O primeiro é a confiabilidade. Para a pesquisa séria, a agilidade não serve de nada sem a fidelidade às fontes. E a IA, em seu estado atual, ainda falha muito nisso. Ela não leu todos os livros da sua estante. Na verdade, ela só conhece o que está disponível e indexado na internet. E, acreditem, a sabedoria do mundo é muito maior do que o Google. Além disso, mesmo quando damos a ela o material certo — um artigo em PDF, por exemplo —, eu já vi acontecer várias vezes: ela pode “alucinar”, alterar uma citação importante, resumir de forma imprecisa. Para a produtividade, um pequeno erro pode ser irrelevante. Para a teologia, um pequeno desvio pode ser uma grande distorção.
O segundo problema, e o meu maior receio, vai além da precisão dos fatos. É o retrocesso da reflexão. A IA nos entrega um texto pronto em segundos. Mas o conhecimento e a sabedoria não nascem na velocidade. Eles nascem no processo lento: na luta com um texto difícil, na pausa para pensar, na conexão inesperada que surge na quietude, na ruminação de uma ideia. A IA nos oferece um atalho que, muitas vezes, pula a parte mais importante da jornada: a reflexão profunda, o trabalho intelectual que molda nosso próprio pensamento.
Então, a IA é do mal? De forma alguma. Ela é uma ferramenta.
Gosto de pensar nela como um estagiário incrivelmente rápido, mas um pouco descuidado. Ótimo para organizar a mesa, buscar referências iniciais e fazer um primeiro rascunho de ideias. Mas você nunca o deixaria assinar o relatório final ou fazer o diagnóstico do paciente.
Ela pode ser uma aliada na produtividade, mas não substitui a leitura atenta de um bom livro, o estudo sério de fontes confiáveis e, principalmente, a reflexão cuidadosa que acontece na interação entre a mente humana, a Palavra e o Espírito de Deus.
No fim das contas, o chamado para o cristão não é apenas ser mais produtivo, mas para ser mais sábio. E a sabedoria, meus amigos, não é construída com velocidade, mas com profundidade e discernimento.
Com carinho,
Marlon Anezi
Se esta reflexão te ajudou a pensar sobre seu próprio uso da IA, salve-a como um lembrete. Adoraria ler nos comentários: como você tem buscado equilibrar a busca por produtividade com a necessidade de uma reflexão mais profunda?
Que, em um mundo de respostas rápidas, tenhamos a coragem de cultivar as perguntas profundas. É nelas, e não nos atalhos, que a verdadeira sabedoria floresce.
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