Nos últimos dias, mais uma notícia nos chocou: aluno e professor, trocaram socos após a saída de uma aula no Distrito Federal. Imagens que rodaram os noticiários e as redes sociais não nos deixam mentir — são imagens duras, desconcertantes, que revelam muito mais do que simplesmente um conflito entre duas pessoas. Elas escancaram a ferida aberta de uma sociedade que já não sabe mais dialogar e viver civilizadamente.
A partir da fé cristã podemos olhar de forma séria, honesta e, ao mesmo tempo, consoladora para esse tempo. Primeiramente, não nos cabe romantizar a condição humana. Ao olhar para as Escrituras, sem titubear afirmamos que o ser humano, desde a queda, vive uma condição de ruptura com Deus, consigo mesmo, com o outro e com a criação. A violência, portanto, não consiste em um acidente da história. Ela é fruto direto dessa desconexão, desse estado de homo incurvatus in se — o ser humano curvado sobre si, dominado por seus desejos, seus medos, sua arrogância e sua autossuficiência.
Quando vemos aluno e professor trocando socos, o que está diante de nós não é apenas a quebra de uma relação educacional, mas a ruptura da própria vocação humana de cuidar, ensinar, proteger e conviver. O espaço da escola — que deveria ser lugar de formação, de diálogo, de construção — torna-se mais um campo de batalha onde egos feridos, dores não tratadas e ausência de limites se encontram.
Mas aqui, uma denúncia e um anúncio precisam ser feitos. A denúncia é clara: o ser humano separado de Deus é incapaz de gerar verdadeira paz. A inclinação ao mal, descrita em Gênesis 8.21, se manifesta nas palavras que ferem, nas mãos que agridem, nos sistemas que oprimem e nas relações que se desfazem. Por outro lado, há o anúncio: Deus, em Cristo, não se conformou com a nossa condição. Ele entrou na nossa história, carregou nossa violência, nossas dores, nossos pecados e, na cruz, respondeu à violência humana com graça, perdão e reconciliação.
Por isso, quando olhamos para a violência nas escolas, a primeira pergunta que surge não é simplesmente “como resolver isso?”, mas “o que isso diz sobre nós enquanto sociedade, enquanto famílias, enquanto seres humanos necessitados de redenção?” A escola reflete o que somos. Se falta empatia, é porque ela falta na sociedade. Se falta respeito, é porque ele também está ausente nas famílias, nas redes sociais, nas relações. Se há violência, é porque nossa cultura está adoecida.
O caminho do Evangelho, no entanto, é outro. Ele não ignora a gravidade da situação, mas também não nos entrega ao desespero. Na cruz, Deus não apenas expôs o pecado humano — Ele ofereceu a cura. E essa cura começa quando reconhecemos nossa falência, nossas limitações e nos rendemos Àquele que disse: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5.9).
O papel da Igreja e até da comunidade escolar, portanto, não é apenas coibir a violência — o que, sim, é necessário —, mas também ser espaço de construção de humanidade restaurada, onde a dignidade é lembrada, onde o outro não é visto como inimigo, mas como alguém igualmente carente de graça. A escola precisa voltar a ser lugar de cuidado, de afeto, de disciplina saudável, de limites que não ferem, mas que formam. E isso começa quando paramos de terceirizar responsabilidades e olhamos para o nosso papel como pais, cidadãos, educadores e, sobretudo, como filhos de Deus chamados a viver a reconciliação que recebemos em Cristo.
A violência nas escolas não nos apresenta apenas um problema pedagógico, é, antes de tudo, um problema espiritual, humano e social. E a resposta definitiva está n’Aquele que transforma corações de pedra em corações de carne. Que Deus nos dê sabedoria, coragem e graça para mesmo que em meio ao caos sermos porta-vozes do Seu Reino.
Por Marlon Anezi
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