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O batismo a partir do Catecismo Maior de Lutero

No catecismo maior de Lutero, dentre diversos ensinos importantes para a vida cristã, encontramos o sacramento do Batismo, neste artigo meu objetivo é expor cada um dos importantes ensinos elencados por Lutero em seu catecismo maior sobre o Batismo.

Primeiramente, o batismo é uma instituição divina, algo de extrema importância no contexto da fé cristã. De acordo com Lutero, não deve ser visto como um mero “vestir uma roupa”, mas sim como um ato elevado e magnífico, instituído pelo próprio Deus para a salvação do ser humano.

O segundo ponto importante que Lutero nos ensina a respeito do batismo é que Deus é quem batiza e não o homem. Não devemos avaliar a pessoa pelas suas obras, e sim as obras pela pessoa. Portanto, por ser realizado por Deus, o batismo passa a ter valor não por quem o administra, mas pela promessa divina que o acompanha.

Terceiro ponto: basta a água e a Palavra de Deus unida à água para que o batismo tenha validade. Como ensinado por Agostinho: “quando a palavra se junta ao elemento, forma-se o sacramento”. Assim, não é a água em si que realiza algo, mas a Palavra de Deus que lhe confere eficácia. Lutero afirma: “Pela palavra, o batismo adquire o poder de ser um banho do renascimento” (p. 110).

Quarto ponto: o propósito do batismo é nos tornar bem-aventurados, ou seja, fazer com que pertençamos ao Reino de Cristo e vivamos com Ele eternamente. Dessa forma, o batismo não é apenas um rito externo, mas uma realidade espiritual que transforma a vida do cristão, concedendo-lhe a promessa da vida eterna.

Quinto ponto: qual é a única prerrogativa para a pessoa que será batizada? A fé. No entanto, essa fé não é um mero assentimento intelectual, mas um dom que vem do coração, concedido pelo próprio Deus. Apesar disso, não é a fé que garante a validade do batismo, mas sim a Palavra de Deus no ato do batismo.

De acordo com Lutero, muitos separatistas questionam a validade do batismo infantil, alegando que as crianças não podem crer. Sua resposta a essa objeção é que a prova de que Deus aprova o batismo infantil está na própria obra visível de santificação que Ele realiza na vida daqueles que foram batizados ainda crianças. Além disso, por séculos, os cristãos foram batizados na infância, e invalidar essa prática seria o mesmo que afirmar que, durante todo esse tempo, não houve cristãos genuínos. Lutero ainda argumenta que diversos Pais da Igreja e pré-reformadores reconheceram o batismo infantil como legítimo e autêntico.

Sexto ponto: o batismo é um grande presente para o cristão, um tesouro que contém dentro dele tudo o que é necessário para viver a fé até o fim da vida. Lutero enfatiza que “o batismo promete e proporciona: superação do diabo e da morte, perdão do pecado, graça de Deus, todo o Cristo e o Espírito Santo com seus dons” (p. 112). Assim, o batismo não é apenas um evento isolado, mas um fundamento contínuo da vida cristã.

Sétimo ponto: Lutero ensina que a vida cristã é um batismo diário, iniciado uma vez e em constante andamento. Esse batismo diário acontece na luta contra o pecado, no arrependimento e na renovação espiritual, em que as virtudes vão se manifestando na vida do cristão, enquanto o velho homem vai sendo cada vez mais enfraquecido. Portanto, na vida cristã, caminhamos diariamente no batismo, renovando nossa fé e nosso compromisso com Deus.

Oitavo ponto: “Mesmo que fôssemos submersos cem vezes na água, o batismo é um só”. Portanto, não existe rebatismo com água, pois o batismo verdadeiro acontece uma única vez e permanece eficaz ao longo da vida do cristão. No entanto, há um “renovar do batismo” que ocorre sempre que, após o pecado, recorremos à graça de Deus para mortificar a velha natureza e nos fortalecer na fé. Esse processo acontece através do arrependimento e da confiança na promessa de Deus, que nos acompanha desde o batismo.

Finalizo com este pensamento de Lutero sobre o batismo: “Por isso, cada um deve considerar o Batismo como a roupa que deve usar todos os dias, para que sempre esteja na fé e nos seus frutos, amortecendo a pessoa antiga e crescendo como nova pessoa”. (p. 118) O batismo, portanto, é uma realidade presente na vida do cristão, garantindo-lhe o perdão dos pecados e a comunhão com Deus diariamente.

Por Marlon Anezi

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