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Nem sempre é hora de se posicionar

“E então, qual é o seu posicionamento sobre isso?”

                                     

A pergunta veio rápida, direta. Eu nem tive tempo de pensar. Era um assunto ligado à Teologia, minha área de estudo, mas, sinceramente, aquele determinado tema eu nunca havia investigado a fundo.

Fiquei em silêncio por alguns segundos. A pessoa à minha frente esperava uma resposta firme. Algo definitivo, sólido. Mas eu não tinha. E, mais do que isso, eu sabia que não poderia dar uma resposta apenas para parecer bem informado.

Nos dias de hoje, parece que todo mundo precisa ter uma opinião sobre tudo. Se posicionar virou uma urgência. Mas será que estamos realmente preparados para isso? Antes de nos apressarmos a dar uma resposta, precisamos lembrar de três verdades essenciais:

  1. Não sabemos tudo. O conhecimento é vasto demais para que possamos dominar todas as questões. À medida que estudamos, percebemos o quanto há para aprender. E reconhecer nossas limitações não é um sinal de fraqueza, mas de honestidade intelectual.

  2. Não estamos preparados para falar sobre todos os assuntos. Simplesmente não é possível ter estudado tudo com profundidade. Existem temas que exigem mais pesquisa, mais reflexão, mais maturação. Falar sobre algo sem o devido embasamento pode resultar em conclusões superficiais e até mesmo equivocadas.

  3. Se posicionar nem sempre é positivo. Muitas vezes, o silêncio é mais coerente do que uma opinião apressada. O desejo de ter sempre algo a dizer pode nos levar a defender ideias mal construídas ou a emitir julgamentos precipitados.

Quanto mais estudamos, mais descobrimos o quanto não sabemos. Por outro lado, quanto menos investigamos, mais certezas temos. É um paradoxo. Quem se aprofunda percebe a complexidade das questões, enquanto quem enxerga tudo de forma limitada toma posições rápidas, sem considerar diferentes perspectivas.

Aprendi algo valioso com meu professor Anselmo Graff: “Há certos pontos que é melhor deixar em aberto.” E sabe por quê? Porque há coisas que simplesmente não compreendemos e, em muitos casos, não há um consenso sólido sobre elas.

O matemático John Allen Paulos certa vez afirmou: “A medida da inteligência é a capacidade de suportar incertezas.” Sim, posicionar-se sempre não tem nada a ver com inteligência; muitas vezes, tem mais a ver com a incapacidade de lidar com o desconhecido.

Por isso, eu prefiro não me apressar para afirmar que “sei o que não sei”. Não quero ser mais uma voz ansiosa, que opina sem refletir, que ensina sem antes aprender. Prefiro ser cauteloso, porque a pressa em me posicionar pode trazer à tona apenas um reflexo da ignorância.

E você? Como lida com essa pressão para se posicionar?

Por Marlon Anezi



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