“E então, qual é o seu posicionamento sobre isso?”
A pergunta veio à queima-roupa, no meio de uma conversa. Direta, afiada. O assunto era teologia, a minha área de estudo, mas a verdade é que eu nunca havia me aprofundado naquele tema específico.
Por alguns segundos, o silêncio. A pessoa à minha frente esperava uma resposta firme, um veredito. Algo sólido. Mas eu não tinha. E, pior, eu senti a tentação de inventar uma resposta na hora, só para não parecer desinformado, para não quebrar a expectativa.
Vivemos na era do posicionamento instantâneo. Parece que ter uma opinião formada sobre tudo — do último debate teológico à mais recente polêmica política — se tornou uma urgência, quase uma obrigação moral. Ficar em silêncio é visto como fraqueza, indecisão ou ignorância.
Mas, com o tempo e com a ajuda de bons professores, aprendi que a sabedoria muitas vezes se manifesta não em respostas rápidas, mas em pausas reflexivas. Antes de nos apressarmos para ter uma opinião, talvez precisemos nos lembrar de algumas verdades libertadoras.
A primeira é a humildade de reconhecer: nós não sabemos tudo. O conhecimento é um oceano, e tudo o que conseguimos explorar é uma pequena faixa de areia na praia. Quanto mais estudamos, mais vasto o oceano nos parece. Admitir nossas limitações não é fraqueza; é honestidade.
A segunda é a coragem de admitir: não estamos preparados para falar sobre tudo. Há temas que exigem anos de estudo, de reflexão, de maturação. Falar sobre eles com a mesma rapidez com que comentamos sobre o tempo é desrespeitar sua complexidade e correr o risco de espalhar desinformação.
A terceira é a sabedoria de entender: nem sempre se posicionar é a melhor atitude. Muitas vezes, o silêncio ponderado é mais coerente e honra mais a Deus do que uma opinião apressada, nascida da ansiedade de ter sempre algo a dizer.
E aqui existe um paradoxo que eu observo todos os dias: quanto mais alguém estuda um assunto, mais cauteloso se torna em suas afirmações. E, por outro lado, quanto menos alguém investiga, mais certezas absolutas parece ter.
Lembro-me de um professor, Anselmo Graff, que me ensinou algo que me trouxe muita paz: “Há certos pontos que é melhor deixar em aberto.” Simples assim. Porque há coisas que simplesmente não compreendemos totalmente. Porque a inteligência não se mede pela quantidade de certezas que acumulamos, mas, como disse o matemático John Allen Paulos, pela “capacidade de suportar incertezas.”
Por isso, eu tenho feito uma escolha. Prefiro a honestidade de dizer “eu não sei o suficiente para opinar sobre isso” à presunção de afirmar um conhecimento que não possuo. Não quero ser mais uma voz ansiosa no coro de opiniões instantâneas. Prefiro o caminho mais lento do aprendizado, da escuta e da reflexão.
Afinal, muitas vezes, a pressa em ter um posicionamento revela apenas a nossa ignorância disfarçada de certeza.
Com carinho,
Marlon Anezi
Essa tem sido a minha jornada para encontrar paz em um mundo tão barulhento. E você? Como tem lidado com essa pressão constante para ter uma opinião formada sobre tudo? Adoraria ler sua perspectiva nos comentários.
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