Sabe, poucas palavras são tão centrais para a nossa fé — e, ao mesmo tempo, tão mal compreendidas — quanto a palavra “graça”. Nós a cantamos em hinos e a citamos em orações, mas, no dia a dia, nosso coração vive em uma luta constante para realmente entendê-la.
A verdade é que a graça de Deus é o grande paradoxo do Evangelho: ela é, ao mesmo tempo, totalmente gratuita e infinitamente cara. E a nossa saúde espiritual depende de vivermos nessa tensão.
É muito fácil para nós cairmos em um de dois extremos, em duas valas que ficam nas margens da estrada da fé.
A primeira vala é a do legalismo: a tentação de tentar “pagar” pela graça.
Nossa mente, acostumada com a lógica do mundo, quer transformar tudo em uma transação. “Ok, Deus me deu a graça, agora o que eu preciso fazer para merecê-la ou retribuí-la?” E então, transformamos o arrependimento e o discipulado em moedas de troca.
Mas o Evangelho nos ensina que o arrependimento não é o preço que pagamos pela graça; é a postura de quem reconhece que não tem como pagar. É a mão vazia se estendendo para receber um presente. Da mesma forma, o discipulado — seguir a Cristo e obedecer à Sua Palavra — não é uma dívida que pagamos, mas o fruto natural que brota de um coração que foi transformado por esse presente. Ninguém precisa pagar por um presente. A essência de um presente é que ele é de graça.
A segunda vala é a da “graça barata”.
Do outro lado da estrada, há o perigo oposto, que o teólogo Dietrich Bonhoeffer chamou de “graça barata”. É a graça sem custo, sem transformação, sem consequências. É o perdão que não nos leva a abandonar o pecado. É o ingresso para o céu sem a submissão ao senhorio de Cristo em nossa vida. É querer o Salvador, mas não o Senhor.
Essa graça distorcida é, na verdade, uma negação do Evangelho, pois ela ignora o valor do presente.
Então, qual é o verdadeiro valor da graça?
Para encontrar o equilíbrio, precisamos tirar os olhos de nós mesmos e olhar para a cruz. A graça é gratuita para nós, mas ela não foi barata para Deus. Ela custou tudo. Custou a vida do Seu Filho unigênito.
A cruz é a etiqueta de preço da graça.
Quando entendemos o custo que a graça teve para Cristo, somos protegidos das duas valas. Percebemos que ela é valiosa demais para ser tratada como algo banal ou sem poder de transformação (adeus, graça barata!) Ao mesmo tempo, percebemos que seu preço já foi pago integralmente, de uma vez por todas, e que qualquer tentativa nossa de adicionar um “pagamento” é uma ofensa ao sacrifício perfeito de Jesus (adeus, legalismo!)
Então, se não podemos pagar e não devemos baratear, qual é a nossa resposta a um presente tão incompreensível?
É a única resposta possível: fé, gratidão e uma vida rendida.
Não por obrigação, mas por amor. Não para conquistar, mas em resposta a quem já nos conquistou. Que nunca caiamos na presunção de achar que podemos comprar a graça, nem na tentação de esvaziá-la de seu poder de nos transformar.
Com carinho,
Marlon Anezi
Se esta reflexão te ajudou, salve-a para ler novamente. E eu te convido a pensar: na sua caminhada, para qual desses dois extremos você tende a se inclinar mais — o de tentar “pagar” pela graça ou o de recebê-la sem permitir que ela te transforme?
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