A graça, por sua própria natureza, é um presente gratuito de Deus. Ela não pode ser barata para nós, pois não tem preço; ao mesmo tempo, é incomparavelmente valiosa, pois custou a vida de Jesus. Diferentemente de qualquer sistema humano baseado na troca ou no mérito, a graça de Deus não pode ser conquistada por esforço ou barganha. Sua essência está no amor incondicional de Deus, que nos alcança não por causa do que somos ou fazemos, mas apesar de nós.
Para nós, a graça é oferecida sem exigência de pagamento ou mérito, mas isso não significa que seja sem valor. O arrependimento, que brota da ação da lei ao nos convencer do pecado, não é uma moeda de troca para recebê-la, mas uma resposta ao entendimento do nosso estado diante de Deus. Quando a luz das Escrituras expõe nossa condição caída, através do arrependimento reconhecemos a necessidade do perdão e da transformação que só Deus pode operar.
Da mesma forma, o discipulado não é um preço que pagamos para merecer a graça, mas um reflexo natural da vida cristã. Quando alguém experimenta genuinamente o impacto da graça, sua resposta é seguir a Cristo, amar a Deus e obedecer às Suas orientações não como uma obrigação legalista, mas como fruto de um coração transformado. O verdadeiro discípulo não busca retribuir ou compensar o dom da graça, mas vive em resposta a ela, movido pela gratidão e pelo desejo de conformar sua vida à vontade de Deus.
Quando falamos sobre graça “preciosa” ou “cara”, precisamos entender o contexto. A graça não tem custo para nós, mas foi adquirida a um preço altíssimo por Cristo na cruz. Esse preço não pode ser minimizado nem relativizado. Jesus, sendo o próprio Deus encarnado, escolheu voluntariamente entregar Sua vida em nosso lugar, assumindo sobre Si o peso do pecado da humanidade. A cruz é a expressão máxima da justiça e do amor de Deus, reconcilia-nos com Deus e abre-nos um caminho de salvação.
Dietrich Bonhoeffer, ao falar sobre “graça barata”, alertava contra um evangelho que minimiza o custo do sacrifício de Cristo e não transforma a vida de quem a recebe. A graça barata é aquela que se proclama sem arrependimento, sem mudança, sem renúncia ao pecado. É uma graça distorcida, que tenta oferecer o perdão sem santidade, a salvação sem o senhorio de Cristo. Ao contrário, a graça verdadeira é poderosa, libertadora e eficaz, pois não apenas nos perdoa, mas também nos transforma à imagem de Cristo.
Portanto, a graça não pode ser vista como algo barato, no sentido de irrelevante ou banalizada, pois ela custou tudo para Jesus. Quem experimenta a verdadeira graça não permanece o mesmo, pois ela nos conduz a uma nova vida, marcada pelo amor, pela obediência e pelo desejo de glorificar a Deus.
No entanto, não podemos cair no erro de pensar que devemos pagar algo por ela, seja com boas obras, arrependimento ou discipulado. O perigo do legalismo está justamente na tentativa de condicionar a graça a uma performance moral ou religiosa. Qualquer ideia de mérito pessoal na salvação anula a essência do evangelho e nos coloca no caminho da autoconfiança, e não da dependência de Cristo.
A graça permanece sendo graça: gratuita para nós, mas adquirida pelo mais alto preço no sacrifício do Filho de Deus. Ela nos alcança como um presente imerecido e nos transforma para que vivamos em novidade de vida. Que nunca caiamos na tentação de barateá-la ao ponto de não permitir que ela mude nossas vidas, nem na presunção de pensar que podemos comprá-la com nossos esforços. A resposta adequada à graça é sempre a mesma: fé, gratidão e uma vida rendida ao senhorio de Cristo.
Por Marlon Anezi
Comentários
Postar um comentário