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Menos barulho, mais verdade.

Às vezes, eu me sinto cansado. Assim como tantas pessoas que admiro, dedico boa parte da minha vida a estudar com seriedade, a buscar um entendimento que vá além da mera informação. E sinto na pele a frustração de ver, com um simples clique, todo esse trabalho ser ofuscado por um conteúdo superficial.

É aquela sensação de impotência ao ver um argumento bem construído ser ignorado, enquanto a opinião mais barulhenta, mesmo que vazia, rouba a cena. Acredito que, no fundo, essa é uma dor que muitos de nós compartilhamos.

Todos nós temos uma inclinação para o que é mais fácil. Gostamos de narrativas simples, que não desafiam o que já acreditamos. É mais confortável ficar na nossa bolha, ouvindo vozes que reforçam nossas certezas. Construímos nossas casinhas de tijolos sobre a areia, porque o trabalho de cavar até encontrar a rocha é exaustivo.

A verdade é que existem até nomes para isso, como o tal efeito Dunning-Kruger, que explica como a falta de conhecimento pode gerar um excesso de confiança. Ou o viés de confirmação que nos faz procurar aplausos para nossas próprias ideias.

Mas, para mim, a explicação mais antiga e profunda está na Palavra. Lendo Provérbios, me deparei com este versículo que parece ter sido escrito para o nosso tempo:

“O tolo não tem prazer no entendimento, mas sim em expressar a sua própria opinião.” (Pv 18.2)

Esse texto me lembrou que essa busca pela superficialidade não é um problema do nosso século; é uma condição do coração humano. A sabedoria exige humildade, escuta e paciência. A tolice, por outro lado, só precisa de um palco e de um microfone.

Então, o que nós fazemos com esse cansaço, com essa frustração?

Talvez eu precise me lembrar, e te lembrar também, que o valor do conhecimento e da verdade não é medido pelo reconhecimento imediato ou pela quantidade de curtidas. A semente plantada em terra boa cresce em silêncio. A casa construída sobre a rocha não faz alarde, mas permanece de pé quando a tempestade chega.

Nosso chamado, num mundo que grita, talvez seja o de falar mais baixo, com mais clareza, humildade e acima de tudo, com amor. Nosso papel não é vencer discussões, mas construir pontes. Não é provar que estamos certos, mas sim sermos o tipo de pessoa com quem vale a pena conversar e aprender.

O desafio é grande. Mas a recompensa de ver uma única flor brotar na aridez, e com seu perfume atrair quem está perdido no deserto, é maior ainda.

E você? Como tem lidado com essa realidade? Onde tem encontrado espaços para conversas mais profundas?

Com carinho,

Marlon Anezi

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