Hoje vamos refletir sobre como a fé cristã pode nos guiar no enfrentamento do racismo, inspirados pela história de Harriet Tubman, retratada no filme Harriet de 2019.
Para aqueles que ainda não assistiram ao filme, Harriet conta a história real de Harriet Tubman, uma mulher negra que nasceu escravizada nos Estados Unidos e, após conquistar sua própria liberdade, se dedicou a resgatar centenas de pessoas através de uma rede secreta conhecida como Underground Railroad. Em sua jornada, Harriet enfrentou perigos, suportou ameaças de morte e desafiou um sistema que via pessoas negras como propriedade — tudo isso sustentada por uma fé inabalável em Deus. Ela acreditava que era guiada por visões divinas, que lhe davam força e coragem para sua missão. Com isso, Harriet Tubman se tornou um símbolo de liberdade, coragem e resistência.
A trajetória de Harriet, como o filme nos mostra, coloca o racismo e mais diretamente a escravidão como uma afronta direta à vontade de Deus para suas criaturas. Nos Evangelhos, Cristo nos ensina que todos foram criados à imagem de Deus e têm o mesmo valor diante d’Ele. O racismo, por sua vez, contraria esses princípios, pois trata pessoas negras como menos dignas e até mesmo indignas de liberdade e respeito.
No contexto cristão, o racismo não é apenas uma injustiça social; ele é uma forma de pecado, pois rejeita a verdade de que todos somos irmãos em Cristo. Harriet Tubman viveu esse princípio ao se colocar em risco por amor ao próximo, vivendo o mandamento de “amar o próximo como a si mesmo”. Sua fé não era passiva; pelo contrário, ela atuava no mundo para aliviar o sofrimento e transformar realidades, reconhecendo que o amor a Deus é inseparável do amor ao próximo.
A história de Harriet também nos lembra que Deus é um Deus de justiça, que liberta os cativos e defende os oprimidos. A própria missão de Jesus é anunciada por Lucas como libertação aos oprimidos: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para proclamar libertação aos cativos…” (Lucas 4.18). Harriet incorporou essa mensagem, sabendo que sua luta não era apenas por liberdade de um sistema escravocrata, mas por dignidade e igualdade. Sua missão representa o compromisso cristão com a justiça, que não se conforma com a opressão, mas luta ativamente contra ela.
O racismo é parte das consequências do pecado no mundo, ele surge da corrupção humana que se coloca como superior ao outro e por isso maltrata e desumaniza o outro, desconsiderando-o como criatura de Deus. Harriet Tubman, com sua fé, representa o chamado cristão para lutar contra essas injustiças estruturais e que a fé verdadeira exige ações transformadoras.
No dia da consciência negra, a vida e o exemplo de Harriet Tubman nos desafiam a uma reflexão: estamos, como cristãos, vivendo nossa fé de maneira a confrontar o racismo? A fé cristã nos chama não apenas à reflexão, mas à ação concreta em favor da dignidade de cada pessoa. Assim, ao lembrarmos e honrarmos a luta de Harriet, somos chamados a reexaminar nossas atitudes e práticas, para que a mensagem de Cristo se manifeste em atos de justiça, amor e respeito por todos, especialmente pelos que ainda enfrentam as marcas do racismo.
Por Marlon Anezi
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