Em 1517, Martinho Lutero fixou 95 teses sobre a justificação pela fé na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. Suas colocações procuravam questionar as práticas da igreja de sua época e trazer à tona a mensagem central do evangelho: somos justificados, ou seja, aceitos por Deus, não por nossas obras, mas pela fé em Jesus Cristo. A Reforma Protestante foi desencadeada por esta atitude e a forma como a fé cristã passou a ser compreendida foi reformulada. Mas, 507 anos depois, que relevância as 95 teses tem para o mundo atual?
1. A justificação pela fé nos liberta da ansiedade espiritual
Vivemos em uma sociedade que muitas vezes coloca sobre nós a pressão intensa para sermos “perfeitos”, seja sob o aspecto moral, profissional ou social, somos constantemente levados a crer que temos que ser cada vez melhores em tudo. Essa busca incessante por performance pode gerar uma ansiedade constante, até em nossa vida espiritual.
As 95 teses de Lutero nos lembram que não é pelo nosso esforço ou desempenho que somos aceitos por Deus. A justificação é um presente da graça divina. Estamos livres do fardo de tentar “ganhar” o favor de Deus por meio de boas obras ou rituais religiosos. A mensagem de Lutero é: não precisamos viver com medo de não sermos bons o suficiente para Deus. Em Cristo, já somos aceitos.
2. Contra o consumismo espiritual
Na época de Lutero, as indulgências estavam sendo vendidas como uma forma de “comprar” o perdão de pecados. Hoje, mesmo que não hajam indulgências, há um “mercado” religioso que busca constranger os fiéis de todas as formas possíveis a que deem contribuições financeiras cada vez mais pesadas. Você já ouviu falar em “trízimo”? Sim, essa aberração existe, acredite. Muitas vezes, a bênção de Deus é tratada como algo que podemos adquirir por meio de práticas ou investimentos materiais, como se o favor de Deus fosse um produto a ser comprado.
As críticas de Lutero são uma crítica à mercantilização da fé que ocorria no século XVI, porém, no século XXI esta mercantilização opera de outras formas. A justificação pela fé nos ensina que o relacionamento com Deus não pode ser comprado ou comercializado. Deus nos alcança pela graça, de graça.
3. Igualdade diante de Deus
Outra mensagem central das 95 teses é a de que todos os seres humanos são iguais diante de Deus, pois todos dependemos da mesma graça. Esta concepção desafia qualquer sistema que tente estabelecer hierarquias espirituais entre as pessoas. No século XVI, havia uma forte separação entre o clero e os leigos, mas Lutero reafirmou o sacerdócio de todos os crentes.
Atualmente, as teses de Lutero continuam importantes para combater qualquer tipo de elitismo religioso. Todos temos acesso direto a Deus pela fé em Cristo, sem intermediários.
4. Foco no evangelho, não nas obras
Em nossos dias, muitas vezes somos tentados a acreditar que nossa moralidade ou boas obras são o que nos tornam aceitáveis diante de Deus e dos outros. A cultura do “faça mais, seja melhor” pode até nos levar a crer que podemos “comprar” nosso lugar no céu com boas ações.
Mas a justificação pela fé, exposta nas 95 teses, nos chama a focar na obra de Cristo por nós. Nossas boas ações são importantes, sim, mas como uma resposta à graça que já recebemos, e não como um meio de conquistar o favor de Deus.
As 95 teses de Lutero e a doutrina da justificação pela fé se constituem de uma mensagem viva e atual. Em um mundo que frequentemente tenta nos fazer crer que nosso valor depende de desempenho, status ou conquistas, as teses de Lutero nos relembram que nossa identidade está em Cristo e na graça que Ele nos oferece gratuitamente.
Por Marlon Anezi
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