Amigos,
Hoje quero conversar sobre uma das tentações mais sutis e perigosas da vida cristã. Ela não chega com um estrondo, mas com um sussurro silencioso no coração do crente que já tem alguns anos de caminhada. É a tentação de achar que, de alguma forma, nós “chegamos lá”.
É o que eu chamo de espiritualidade cristã autossuficiente.
Ela começa assim: nós entendemos e celebramos que fomos salvos pela graça, por meio da fé. Mas, a partir daí, passamos a acreditar que a manutenção da nossa vida espiritual depende do nosso próprio esforço, da nossa disciplina, da nossa ética pessoal. A graça vira a “porta de entrada”, mas a caminhada, pensamos, é por nossa conta e risco.
E, cá entre nós, esse caminho é mais fácil para o nosso orgulho. É mais fácil confiar em nossa própria performance do que admitir, todos os dias, que ainda somos pecadores, que ainda falhamos e que continuamos a precisar do perdão de Deus tanto quanto no primeiro dia.
Essa autossuficiência é alimentada pela pressão que sentimos. Anos de igreja parecem colocar sobre nossos ombros a responsabilidade de sermos “moralmente melhores” que os outros, de não demonstrarmos fraqueza.
Mas Jesus nos ensinou um caminho radicalmente diferente. A vida cristã não é uma formatura onde recebemos um diploma de “santo”. É um nascer de novo que acontece todos os dias. É um “batismo diário”, como ensinava Lutero. A cada manhã, somos convidados a morrer para o nosso orgulho, para a nossa autossuficiência, e a renascer na dependência total da graça de Deus.
Isso nos lembra que a força do Evangelho não está no conjunto de regras que aprendemos a seguir. A força do Evangelho está no amor de um Deus que olha para a nossa imperfeição constante e, mesmo assim, insiste em manter Seu elo conosco através de Cristo. A única coisa que nos sustenta na fé não são nossas obras, mas o perdão que Ele nos oferece a cada novo dia.
O perigo de uma espiritualidade autossuficiente é que ela constrói nossa segurança em nosso próprio comportamento. E o nosso comportamento é um terreno instável, que sempre irá falhar. Ela faz a graça parecer algo para iniciantes, para os “fracos” que ainda não “aprenderam a andar na linha”.
A verdade libertadora é que somos todos fracos. E é por isso que a graça não é apenas o começo; ela é o começo, o meio e o fim da nossa jornada. Tudo o que fazemos de bom — nossa conduta, nossos princípios — é uma consequência da graça que opera em nós, e não uma condição para que ela opere.
Deus sabe que vamos falhar. Por isso, Sua graça não é apenas um evento passado, mas uma fonte sempre presente, nos oferecendo a chance de um recomeço a cada instante.
A verdadeira espiritualidade cristã não é sobre o quão forte você consegue ser sozinho. É sobre o quão profundamente você aprendeu a depender d’Ele.
Com carinho,
Marlon Anezi
Se esta reflexão te libertou do peso da autossuficiência, salve-a. E para aprofundarmos essa conversa sobre a nossa necessidade constante da graça, quero te fazer um convite para a nossa live sobre o assunto.
Assista logo abaixo:
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