Mas as notícias a respeito de Jesus se espalhavam ainda mais e muita gente vinha para ouvi-lo e para ser curada das suas doenças, porém Jesus ia para lugares desertos e orava. Lucas 5.15,16
Nos evangelhos, conhecemos um Jesus ocupado. O Mestre prega, ensina, envia discípulos para evangelizar, come com pecadores, lê na sinagoga, cura enfermos e ressuscita mortos, Jesus fazia muitas coisas. Ele era solicitado por muitas pessoas, embora as multidões o buscassem para ouvir seus ensinamentos e serem curadas, se olharmos mais de perto veremos que Ele regularmente se retirava para lugares desertos a fim de orar.
A atitude de Jesus nos conduz a uma compreensão equilibrada na discussão sobre o que é mais importante: o cuidado com os outros ou autocuidado. O equilíbrio entre servir aos outros e cuidar de nós mesmos é a melhor forma de viver uma espiritualidade cristã saudável. Atualmente, há muitos discursos acontecendo nas redes sociais, sobre como devemos viver e para quem devemos viver: se para nós mesmos ou para os outros. Há debates que polarizam a questão: “cuide de si próprio! Você deve se priorizar” de um lado, “esqueça de si próprio! só encontra sentido na vida quem se dedica aos outros”, de outro. Os que defendem o autocuidado destacam a importância de cuidar de si, de ter tempo para descansar, praticar exercícios, se alimentar bem, afastar-se de pessoas que podem representar problemas, entre outras coisas que dizem respeito ao cuidado consigo.
O teólogo luterano Forell, no livro Fé Ativa no Amor, ensina que boas obras e grandes obras não são a mesma coisa. Enquanto as grandes obras podem ser feitas para nossa própria satisfação ou até para autopromoção, as boas obras são aquelas que beneficiam o próximo. Por exemplo: vestir-se bem pode ser uma grande obra, mas oferecer um casaco a alguém que precise é uma boa obra. A ética cristã impede-nos de viver isolados em nós mesmos, pois a partir do princípio ensinado por Forell, o amor e o cuidado com o próximo são colocados acima do autocuidado, pois isso causa impacto positivo na vida de outros. No entanto, Forell não chama o ato direcionado a si próprio como “má obra”; ele o chama “grande obra”. O que confere uma conotação negativa a essa ação é a comparação com a boa obra, colocada ao lado da boa obra, a grande obra diminui consideravelmente o seu valor para quem lê e entende que foi sobrepujada pelo valor do ato que impacta positivamente a vida das pessoas. Contudo, se não realizarmos obras que beneficiem a nós mesmos, chegará um ponto em que não conseguiremos mais realizar obras que beneficiem os outros. A grande obra pode tornar-se desta forma essencial para a existência da boa obra.
Negligenciar o autocuidado pode levar ao esgotamento. O extremo oposto também é nocivo, viver apenas para si nos conduz a uma vida egoísta e desequilibrada. Ao olharmos para a vida de Jesus, veremos que Ele também praticava o autocuidado. Para cuidar dos outros o Mestre tirava tempo para cuidar de si. Após longos dias de pregação e cura, Jesus buscava momentos de solitude e oração. Esses momentos em que Ele tirava para recarregar as energias espirituais o fortaleciam para fazer o “trabalho pesado” em Sua missão.
A pergunta que precisamos nos fazer é: temos desfrutado do autocuidado vivido por Jesus? Mesmo com sua missão intensa, Jesus separava momentos para orar e se fortalecer espiritualmente. Ele sabia a importância de cuidar de si para poder continuar cuidando dos outros. Assim, devemos aprender a praticar o autocuidado através da oração, entendendo que, enquanto servimos, também precisamos de momentos de descanso e renovação espiritual.
Por Marlon Anezi
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