A Bíblia e a história da Igreja oferecem evidências que indicam que o domingo pode ser considerado o dia do Senhor. Em Apocalipse 1.11, lemos que João estava “em Espírito no dia do Senhor”, e muitos entendem que este dia era o domingo, dado que Cristo ressuscitou nesse dia. Enquanto os Adventistas defendem que o “dia do Senhor” se refere ao sábado, a tradição cristã primitiva adotou o domingo como o dia de culto, partilha do pão e lembrança da ressurreição de Cristo. Com o tempo, essa tradição se consolidou, contudo, é importante refletirmos sobre como aplicamos esse conceito de forma prática hoje.
Muitas vezes, o domingo é tratado com um legalismo semelhante ao dos fariseus. São impostas restrições e criam-se leis humanas que acabam distorcendo o verdadeiro propósito do dia (da mesma forma que os Adventistas fazem em relação ao sábado). O dia do Senhor deve ser um tempo para nos lembrarmos da vitória de Cristo sobre a morte e da salvação que recebemos por meio de Sua ressurreição. Quando transformamos o domingo em um conjunto de proibições – como não trabalhar, não praticar atividades comuns ou não desfrutar de lazer – estamos caindo no mesmo erro que Paulo advertiu os cristãos a evitarem.
O Novo Testamento deixa claro que não estamos mais obrigados a observar dias específicos, luas novas ou sábados, como era prescrito na Antiga Aliança (Cl 2.16,17). Ao pensarmos no domingo, o que realmente importa é o significado do dia: ele é uma oportunidade de celebrar a ressurreição de Cristo, não um fardo, um dia carregado de proibições. Quando impomos restrições que a Bíblia não exige, retrocedemos aos antigos rudimentos da Lei, propostos no Antigo Testamento e nos afastamos da liberdade que temos em Cristo. Ao estudarmos os escritos dos Pais da Igreja, percebemos que no período da Igreja Primitiva não havia um consenso estabelecido sobre o que de fato o sábado ou o domingo significavam para eles. Alguns concebiam o sábado de forma escatológica, enquanto outros se concentravam no domingo como o dia do Senhor. Entretanto, o ponto principal que precisa ser destacado, é que neste período não havia legalismo, e sim uma liberdade de interpretação.
Portanto, afirmar que o domingo é o único dia que pode ser considerado sagrado na semana e impor restrições às atividades desse dia não tem base sólida nas Escrituras, tão pouco nos testemunhos da Igreja primitiva. A nova vida no Espírito não pode resumir um mandamento a um costume de se privar de certas atividades em um determinado dia da semana, o mandamento transcende em muito esta compreensão. Ela está enraizada no descanso verdadeiro que encontramos em Cristo, que é o nosso sábado. Podemos, sim, usar o domingo para celebrar a ressurreição de Cristo, assim como podemos fazê-lo em qualquer outro dia de nossas vidas, e igualmente podemos no domingo descansar em Deus, passar tempo com a família e realizar diversas atividades sem culpa ou preocupação de transgredir um mandamento, pois Deus está conosco mesmo em meio aos momentos de lazer. Nosso descanso não está limitado a um dia específico, tão pouco a nossa inação em um determinado dia da semana. Nosso descanso está em Jesus, Ele nos oferece o verdadeiro descanso espiritual em qualquer dia, tempo e mesmo em meio aos nossos afazeres diários.
Por Marlon Anezi
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