É muito fácil enxergar a graça de Deus em parábolas como o Filho Pródigo, a Ovelha Perdida e a Parábola dos Trabalhadores na Vinha. Mas, e quando nos deparamos com a história do Dilúvio? Onde está a graça de Deus na história representada de Gênesis 6 a 9, conhecida como a Arca de Noé?
Normalmente, nesta história, enxergamos e ressaltamos o juízo de Deus. Porém, ela é principalmente uma história sobre graça e salvação, visto que Noé e sua família foram salvos. Sempre ouvimos por aí um discurso conhecido de que Noé teria pregado por 120 anos para que todos se arrependessem e entrassem na arca junto com ele. Porém, esta não é uma informação que procede das Escrituras. Sabemos, contudo, que Noé, de alguma forma, anunciou “que todos deviam obedecer a Deus” (2 Pe 2.5). O período em que isso aconteceu é indeterminado.
Contudo, o apóstolo Pedro também fala sobre o tempo em que Noé construía a arca como um período em que Deus esperou pacientemente para que o ser humano se arrependesse (1 Pe 3.20). O grito do juízo de Deus no episódio do Dilúvio é intenso, mas a Sua graça é ensurdecedora. Pedro fala também que foi pela água que Noé foi salvo e que esta água simboliza para nós hoje as águas do batismo. Mas essa água que salvou Noé não é a mesma água que levou à morte diversas pessoas e animais? Sim, a mesma água que salva, afoga. A água é apenas um elemento; Deus é quem salva através da água. O mesmo vale para o fogo: o fogo pode tanto queimar quanto salvar. Através do fogo na sarça, Deus chama a Moisés; através do fogo, Deus aparece na fornalha e salva os amigos de Daniel, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Deus salva como Ele quiser. É pela água que Ele poupa Noé, assim como pouparia a cada um que se arrependesse dos seus pecados naquele tempo.
Esta mesma paciência e espera que Deus teve com a humanidade no episódio do Dilúvio se manifesta atualmente. Gostamos de nos livrar de problemas; normalmente, os aniquilamos, e isso acontece de diversas formas. Por exemplo, através do aborto, pais tentam se livrar da responsabilidade de criar um filho. O ser humano mata e destrói para evitar problemas para si. Entretanto, o mesmo Deus que esperou pacientemente que a humanidade se arrependesse no período de Noé é o Deus que espera hoje que a Sua criação volte-se para Ele. Repare que, ao contrário de nós, Ele não se livra do problema, Ele não nos destrói. Mesmo sendo falhos e pecadores, Ele nos mantém vivos e nos dá esperança de salvação, se nós, contudo, não a negarmos seguindo por caminhos contrários aos Seus. Durante muitas gerações, Deus tem sido misericordioso conosco, não nos destruindo. “O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Pelo contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento.” (2 Pe 3.9) Sua vontade é que todos sejam salvos, por isso Ele espera e é paciente conosco.
Ao longo de toda a Escritura Sagrada, encontramos o mesmo testemunho de um Deus paciente e misericordioso que não tem pressa em se livrar do problema, porque nos ama e nos quer junto d’Ele eternamente.
“O Senhor é misericordioso e compassivo, paciente e transbordante de amor. Não acusa sem cessar nem fica ressentido para sempre; não nos trata conforme os nossos pecados nem nos retribui conforme as nossas iniquidades.” (Sl 103.8-10)
Ele poderia nos destruir, pois, assim como o povo do tempo de Noé, merecemos a Sua eterna condenação, mas Ele não o faz. “Graças ao grande amor do Senhor é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis. Renovam-se cada manhã; grande é a sua fidelidade!” (Lm 3.22-23)
“Senhor, Senhor Deus, misericordioso e piedoso, tardio em irar-se e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado.” (Êx 34.6)
Não é a água ou o fogo que salvam; estes são apenas elementos que podem ser utilizados por Deus para nos salvar. É antes de qualquer coisa a bondade e misericórdia d’Ele que nos salva, pois nos enxerga perdidos e nos encontra, perdoa e salva.
Por Marlon Anezi
Comentários
Postar um comentário