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Corpus Christi e o pão que nos une

Amigos,

Nesta semana, muitos de nossos irmãos e irmãs da Igreja Católica celebram a festa de Corpus Christi, com suas belas procissões e tapetes coloridos. E eu creio que, independentemente da nossa tradição de fé, essa data nos oferece um belo convite: o de voltarmos nosso coração para o centro da nossa fé — o corpo e o sangue de Cristo, dados por todos nós.

A festa, como a conhecemos, tem suas raízes na história medieval da Igreja, nascida do desejo de celebrar de forma especial o sacramento da Eucaristia. E, ao longo dos séculos, tornou-se uma marca importante da piedade católica.                                      

É verdade que, ao longo da história, especialmente desde a Reforma Protestante, os cristãos passaram a entender a presença de Cristo na Santa Ceia de formas diferentes. Para nossos irmãos católicos, o pão e o vinho se tornam, em essência, o corpo e o sangue de Jesus (transubstanciação). Para nós, luteranos, Cristo está verdadeira e realmente presente no, com e sob o pão e o vinho. Para outros irmãos protestantes, a Ceia é um memorial do sacrifício de Cristo.

Essas diferenças são importantes e devem ser tratadas com seriedade e respeito.

Mas, em meio às nossas distintas compreensões doutrinárias, existe uma verdade que nos une de forma poderosa, um ponto de encontro para todos que amam a Cristo. Como bem disse um teólogo luterano, “a Ceia do Senhor é uma expressão de amor e união. É uma ocasião de comunhão não apenas com Cristo, mas também entre os irmãos e irmãs de fé.”

Seja como for que entendamos os detalhes do mistério, todos nós nos reunimos em torno da mesma mesa para celebrar o mesmo dom. Todos nós cremos que, naquele pão partido e naquele cálice derramado, lembramos e recebemos o presente mais precioso: o corpo e o sangue de Jesus, que nos perdoam, nos unem a Ele e nos unem uns aos outros como um só corpo.

E talvez a maior lição que a festa de Corpus Christi possa nos dar, para além de qualquer debate, seja esta: o presente do corpo de Cristo não se limita a uma quinta-feira no calendário.

A salvação, o perdão e o descanso que encontramos Nele transcendem qualquer data. Porque o Cristo que se deu por nós na cruz é o mesmo que ressuscitou e nos fez uma promessa que sustenta todos os nossos dias:

“Eu estou com vocês todos os dias, até o fim dos tempos.” (Mateus 28.20)

Então, que nesta semana, inspirados pela devoção de nossos irmãos católicos, possamos todos — luteranos, batistas, presbiterianos, pentecostais — parar e agradecer. Agradecer pelo corpo partido e pelo sangue derramado. Agradecer pelo Pão da Vida que nos alimenta e nos sustenta, não apenas na Ceia, mas em todos os dias da nossa caminhada.

Com carinho, 

Marlon Anezi




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