Pensamos que somos donos de tudo. Donos do próprio corpo, da vida, do tempo, da casa em que moramos, da roupa que vestimos, dos móveis de nossa casa, da natureza, da verdade, da capacidade motora e intelectual que possuímos, quando na verdade somos apenas administradores de tudo aquilo que Deus colocou em nossas mãos. Foi Deus quem nos concedeu a oportunidade e a incumbência de administrar estes bens; Sua vontade é que compreendamos que tudo é d’Ele, mas por graça nos foi dado este direito de usufruir dos bens que Ele nos emprestou, pelo tempo determinado por Ele.
Nossa tendência é totalmente
contrária a esta realidade; queremos que as coisas sejam nossas, não
emprestadas. Queremos tê-las para sempre, não pelo tempo determinado por Deus,
e isso inclui as pessoas que passam pelas nossas vidas. Nos apegamos àquilo que
amamos e fechamos os nossos olhos para o fato de que Deus determinou um tempo
certo para que uma pessoa esteja presente entre nós e um tempo para que ela
parta para uma outra realidade. Pensamos que depende de nós, porque, apesar de
pouco conseguirmos fazer para que as coisas se mantenham em ordem, lá no fundo,
gostaríamos que tudo dependesse de nós. Este sentimento de buscar o controle
nos cega para a realidade de que somos infinitamente limitados e que Deus é
quem de fato sabe todas as coisas; afinal, Ele criou todas as coisas e por isso
possui sabedoria mais do que o suficiente para decidir sobre o futuro.
O livro de Gênesis diz que Deus
criou o ser humano para cuidar do jardim do Éden. O jardim não era de Adão,
tanto que após a queda no pecado, Deus simplesmente tira o ser humano do jardim
e coloca anjos na guarda dos portões para que o homem não possa mais usufruir
de nada que outrora estava sob seus cuidados. A fragilidade da vida e dos bens
materiais é conhecida quando os perdemos. Neste momento, é natural nos
esquecermos de que tudo está nas mãos de Deus, sejam nossas vidas ou os bens.
Como cantamos no hino 206 do hinário luterano: “O mundo é Teu, Senhor”. Tudo é
d’Ele, mas nem sempre é fácil reconhecer isso. Diante da perda e da catástrofe,
quão difícil pode ser dizer: o mundo é Teu, Senhor. Diante da tristeza por ter
algo tirado de nossas mãos, é fácil se amargurar e se enraivecer com a
limitação que se apresenta diante de nós.
Superamos estes momentos? Às
vezes, sim, mas nem sempre. A vida se encarregará de nos distrair e nos
lembraremos, hora ou outra, quão desolador foi aquele sentimento; as saudades
do que tínhamos ficam para sempre. Quando aprendemos, porém, a ressignificar
este sentimento, constatamos que é possível ressoar em nossos corações a
gratidão pelo pouco que foi desfrutado. Porém, a saudade fica e ela não é
inútil; ela é um prenúncio das promessas de Deus em nossos corações, voltaremos
a ter o que tínhamos de outro modo. Adão perdeu o jardim do Éden, e não sabemos
ao certo se Adão foi salvo, mas ele recebeu a promessa de um jardim tão
precioso quanto o Éden. Moisés não entrou na Terra Prometida, mas entrará na
Terra Prometida por Deus a todos aqueles que o amam. Jó perdeu tudo o que
tinha, mas ainda em vida foi abençoado por Deus com pelo menos o dobro do que
possuía.
A saudade não existe para nos
destruir, mas sim para nos consolar e nos alertar para um futuro de promessas
de Deus que em muito superam tudo aquilo que possamos ter perdido no passado.
Embora talvez você nunca tenha pensado sobre isso, Deus coloca em nossos
corações saudades de algo que está por vir. Administrar os bens de Deus nesta
terra, apesar de em um primeiro momento trazer um certo desconforto ao nosso
coração, não é uma má notícia. Deus é o proprietário; se fôssemos nós,
acredite, estragaríamos tudo. Mas Ele sabe o que faz, confie em Seus planos e
entregue a Sua vida e tudo o que você tem em Suas mãos. As promessas d’Ele são
maravilhosas e não se comparam com qualquer coisa que já tenhamos
experimentado.
Por Marlon Anezi
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