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Aconselhamento cristão e psicologia

Qual é o princípio norteador do Aconselhamento Cristão? O mesmo princípio norteador da vida cristã: a Palavra de Deus. Mas é benéfica a utilização da Psicologia juntamente com o uso da Bíblia? Desde que se mantenha a Bíblia como princípio norteador, sim. Ou seja, a Psicologia entra no Aconselhamento como recurso auxiliar, útil para conhecer a experiência humana. Aconselhamento Cristão não consiste em apenas pegar a Bíblia e sair aplicando à vida das pessoas. Contudo, nem todos concordam com a perspectiva de que a Psicologia é benéfica em seu uso no Aconselhamento Cristão; seria inviável fazer um levantamento de todos os teóricos do Aconselhamento. De acordo com Dieter Joel Jagnow, o número de abordagens de Aconselhamento Cristão ultrapassa o número de quatrocentas. Porém, trago aqui alguns nomes que concordam com o uso e outros que não concordam com o uso da Psicologia no Aconselhamento Cristão.

Paul Vitz, apesar de ser professor de Psicologia da Universidade de Nova York, possuía uma visão negativa da Psicologia Humanista de Carl Rogers, portanto, criticava inclusive tudo o que descendia da perspectiva, como as teorias de Maslow e Rollo May. Afirmava que estava acontecendo um crescente deslocamento da Adoração a Deus para a deificação do eu. Ou seja, de acordo com Vitz, a Psicologia tornou o homem um deus e ensinou às pessoas um processo de auto adoração.

Jay Adams, pastor reformado, é uma das grandes referências quando o assunto é Aconselhamento Cristão. Muitos seminários teológicos tradicionais se basearam em sua metodologia para nortear o ensino e prática de aconselhamento de seus futuros pastores. O aconselhamento de Jay Adams também é conhecido como Aconselhamento Noutético. Este estilo de Aconselhamento trabalha a metodologia do confronto, no qual o aconselhando deve ser confrontado ao longo do processo de Aconselhamento. Além disso, Jay Adams acredita que a Bíblia e somente ela deve ser utilizada para o Aconselhamento, considerando que na Palavra de Deus há tudo que precisamos para realizar o processo com o aconselhando. É interessante ressaltar que esta perspectiva beira ao fundamentalismo, pois na própria Bíblia há Psicologia. É o mesmo que demonizar os conhecimentos históricos, por exemplo. Por que demonizá-los se a Bíblia está carregada de conteúdo histórico? Ou então, demonizar a cultura, será válido? É claro que não; a cultura está presente em tudo em nossas vidas, inclusive na Bíblia. A Psicologia não deveria ser rechaçada, visto que ela fala das coisas pertinentes à nossa psique, à nossa mente e alma. Claro, ela pode carregar dentro de algumas abordagens ideias não tão exatas do ser humano, mas com um bom filtro é possível se desfazer de alguns conceitos sem jogar toda a Psicologia no lixo.

Por outro lado, há vários nomes no Aconselhamento Cristão que apoiam o uso da Psicologia enquanto recurso auxiliar que se submeterá ao crivo da Palavra de Deus. Alguns deles são: Anton Boisen, o primeiro teólogo a escrever para várias revistas americanas especializadas em psiquiatria, psicologia e ciências em geral; Leslie Weaterhead, que defendia uma forma cristã de psicossíntese, um método pelo qual fosse possível, após o desmanche realizado após a análise psicanalítica, construir o aconselhando a partir de Cristo; Gary Collins, doutor em Psicologia que descobriu no Aconselhamento Cristão o que faltava nas terapias seculares. Contudo, não deixou de lado a Psicologia. No livro Aconselhamento Cristão - Edição século XXI, descreve conceitos psicológicos e os relaciona à vida cristã e aos conceitos bíblicos sem grandes dificuldades, procurando uma perspectiva conciliatória. Howard Clinebell, o pastor metodista, igualmente propõe uma abordagem holística de Aconselhamento ao traçar um olhar não apenas aos aspectos espirituais do aconselhando, mas também aos aspectos emocionais, sociais e biológicos. O olhar para a pessoa em seu aspecto integral se revela uma abordagem que novamente procura integrar o Aconselhamento Cristão com a Psicologia, mas não apenas com ela e sim com outras ciências e conhecimentos. Para uma visão integral do ser humano, é preciso entender os diversos contextos da vida humana e não tornar tudo uma questão meramente espiritual ou emocional.

Dependendo do teórico que responderá à pergunta que dá origem ao título deste texto, teremos respostas distintas. Ou seja, não há um consenso sobre o assunto. Contudo, posso afirmar que a perspectiva que recomendo é a que procura a conciliação entre a Palavra de Deus e a Psicologia. Afinal, a ciência e o conhecimento também são revelações de Deus para o homem, não revelação teológica e óbvio, neste quesito não podem ser comparadas à Bíblia. Mas por vezes se enquadram enquanto revelação natural, social ou ainda psicológica. Deus também se mostra através do conhecimento que lê e explica a vida humana e o ser humano. Certas formas estreitas e preconceituosas de pensar a Psicologia precisam ser derrubadas da nossa mente para que possamos colher dos tesouros que estão presentes na ciência psicológica para o auxílio e cura das almas no Aconselhamento Cristão.

Por Marlon Anezi




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