Por amor do seu nome [...] Salmos 23.3
A humildade é uma característica difícil de ser vivida e experimentada. É uma qualidade de caráter tão boa que se, em algum momento, você pensa ser humilde, já deixará de sê-lo. Normalmente, pessoas humildes não sabem que são.
Como então posso buscar ser humilde diante disso? Procurando pensar e viver como alguém humilde. Talvez você nunca tenha pensado sobre isso, afinal, vivemos em um mundo competitivo. A arrogância, que parece tão boa como um fator intimidador nesta luta pela sobrevivência, pela atenção do outro e pelo reconhecimento não alcançado, na verdade, é muito nociva dentro de nós. Como um antídoto para o peso da arrogância, apresento-lhe: a humildade.
Conheça agora dois motivos pelos quais você não deve deixar a semente da arrogância germinar dentro de si.
1. A arrogância é um peso em nossas costas.
Compartilho da reflexão do autor Max Lucado: “Você poria uma sela nas costas de seu filho de cinco anos? Iria Deus sobrecarregar você com arrogância? De jeito nenhum.” Talvez você nunca tenha percebido isso, mas a arrogância é um peso. Por quê? Porque quando somos altivos aos nossos próprios olhos, precisamos manter uma postura à altura de nossa autoimagem, e manter este comportamento despende muita energia. Muitas vezes, não apenas isso, mas estresse e preocupação. Porque não estamos preocupados em ser quem somos, mas ostentar uma imagem. A isso damos ainda um outro nome: vaidade. A arrogância e a vaidade doentias são um peso em nossas vidas e por isso, Deus não quer que vivamos aumentando nossa autoimagem, Ele nos quer humildes, para que não carreguemos um fardo muito pesado, o qual não fomos criados para lidar.
2. Deus detesta a arrogância.
Na palavra de Deus, encontramos em vários lugares os sinais da desaprovação de Deus em relação à arrogância. Ele não apenas desaprova como também odeia. Max Lucado usa uma metáfora significativa para exemplificar isso: “O que uma refeição de larvas causa ao nosso estômago, o orgulho humano causa ao de Deus.” Tamanho mal faz a arrogância para Deus que Ele inspirou Salomão a escrever no livro de Provérbios: “O temor do Senhor consiste em aborrecer o mal; a soberba, a arrogância [...]” (Pv 8.13). “Abominação é para o Senhor todo arrogante de coração” (Pv 16.5). Enquanto a humildade vai adiante da honra, “a soberba precede a ruína” (Pv 16.18). Entender que Deus não gosta disso é um dos principais passos na compreensão do quanto isso precisa ser afastado de cada um de nós urgentemente.
3. A Igreja deve afastar de si a arrogância.
Às vezes percebo que na Igreja cristã, de um modo geral, existe uma tendência a que alguns procurem uma preservação da autoimagem diante dos outros, principalmente quando está relacionada a uma figura de liderança. Muitas vezes, a necessidade de reafirmar uma imagem de superioridade frente aos outros promove brigas, intrigas, e coisas que não fazem parte dos planos de Deus para o seu corpo, os conhecidos “jogos de vaidade”. É muito fácil o ego humano tornar-se um deus dentro da Igreja; portanto, é necessário vigiar não apenas fora de si, mas dentro de si próprio. Será que estamos nos sentindo inseguros de alguma forma e com a necessidade de reafirmar uma posição através de atitudes que demonstrem arrogância? Será que o medo de perder status ou posição nos leva a agir de forma impulsiva como defensores incondicionais de nossa imagem?
O apóstolo Paulo aconselhou aos filipenses: “Nada façais por vanglória” (Fp 2.3), devendo inclusive considerar outros como superiores a nós mesmos. Quantas pessoas eu conheço que estão dispostas a praticar isso? Muito poucas, talvez dê para contar nos dedos. Por quê? A moeda do mundo pós-moderno envolve construção da imagem, status. Enquanto estivermos subjugados a esta cultura, não nos sentiremos atraídos pela humildade de Cristo, pela mensagem da cruz. Pela mensagem do amor de Deus presente no Salmo 23. Que mensagem é esta? A mensagem do Deus que tudo faz. A mensagem que revela que eu não tenho do que me orgulhar. Deus nos dá descanso, paz, bênçãos e um lar no céu; porém, não fomos nós que conquistamos isso, Ele morreu em nosso lugar e nos deu. Você consegue compreender isso?
O Salmo 23 utiliza as seguintes expressões: “Ele me faz...” “Ele me guia...” “Ele refrigera a minha alma...” “Tu estás comigo...” “A tua vara e o teu cajado me consolam...” “Preparas uma mesa...” “Unges a minha cabeça...” Todas essas expressões demonstram que não é Davi, o escritor do Salmo 23, quem faz; é Deus quem faz. Não é o Marlon quem faz alguma coisa, é Deus. Por isso, devemos nos preocupar com a arrogância, porque ela é uma declaração de amor ao nosso ego, de miopia em relação ao que somos, mas ao mesmo tempo uma dificuldade de compreensão de quem Deus é.
4. Não sabemos lidar com os elogios.
Já parou para pensar por que é Deus quem faz? Não só por conta do que vou dizer agora, mas entenda que um dos principais motivos é este. Porque quem faz leva a honra, recebe louvor pelos atos feitos. E Ele sabe que nós não sabemos lidar com os elogios de outras pessoas. Quando eu me refiro a não saber lidar, penso em um balão sendo cheio. Ele é enchido até o ponto de estourar. Assim é nosso ego, como um balão: se você deixar que as pessoas inflem seu ego com bajulações, elogios ou qualquer outra maneira de engrandecer você, a qualquer momento você estará pronto para se estourar. Por isso, pessoas arrogantes podem ser consideradas balões cheios. Deve ser bem desconfortável viver como um balão cheio, não é verdade? Deus quer nos livrar disso, desta situação tão desagradável de ter que defender a própria autoimagem; muitas vezes, uma imagem míope de si mesmo, distorcida. É como se vivêssemos uma peça de teatro onde o nosso ego ocupa todo o palco, e a ofensa dirigida a nós é a atração principal. Por isso, Deus pega o crédito por tudo o que é feito e existe, para que não pensemos que somos mais do que somos e nos sintamos atacados por qualquer coisa.
Max Lucado afirma que: “Deus pega o crédito, não porque precise dele, mas porque sabe que não podemos lidar com ele. Não nos contentamos com um pouco de adulação; nossa tendência é engolir toda ela. A exaltação aumenta a nossa cabeça e encolhe o nosso cérebro, e logo começamos a pensar que temos algo a ver com a nossa sobrevivência. Bem rápido nos esquecemos de que fomos feitos do pó, e resgatados do pecado.” Viemos do pó e para ele voltaremos; não podemos perder isso de vista.
5. Tudo existe por causa d’Ele.
O mundo foi criado por Ele e para Ele; o apóstolo Paulo anuncia esta verdade na epístola aos Colossenses. Deus faz o que faz, não por amor ao nosso nome, porque somos importantes demais e merecemos alguma coisa, mas por amor do seu nome. Isso mesmo, por causa do Seu nome. Aquilo que Davi muito sabiamente escreve no Salmo 23.3 está ligado ao motivo pelo qual Deus é bom e nos supre, não para engrandecer o nome de qualquer um de nós. Mas porque Ele é aquele que deve ser reverenciado pela eternidade. Não há destaque para nenhum outro nome; apenas o Seu é digno de glória. Não cabe a nós reivindicarmos glória, através de atitudes de arrogância e soberba. Sabendo que tudo foi criado por Ele e para Ele, a vida torna-se mais leve, e aprendemos a exigir menos reconhecimento a nós mesmos.
6. Deus ama a humildade.
Alguns versículos bíblicos ensinam que Deus ama a humildade, a mansidão e a modéstia. Jesus certa vez afirmou: “Sou manso e humilde de coração” (Mt 11.29). Deus afirmou: “Habito com o contrito e abatido” (Is 57.15). Ele também disse: “Eis para quem olharei: para o pobre e abatido de espírito” (Is 66.2). Sendo presunçosos e vivendo com arrogância diante das pessoas, será impossível sermos humildes, pois só é possível apresentar uma atitude ou outra. Muitos homens de fé que estão na Bíblia optaram por viver uma vida humilde ao invés de se apresentar através de seus grandes feitos. Um exemplo disso é Paulo, que ao se apresentar dizia: “Paulo, servo de Deus” (Tt 1.1). João Batista que certa vez também afirmou: “É necessário que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30). Grandes homens tiveram que calçar as sandálias da humildade, caso as tirassem, trocariam a grandeza por pequenez.
Diante de todas estas considerações, trago aqui alguns conselhos para aprender a viver de forma humilde.
1. Tenha um olhar honesto para consigo.
Não devemos pensar nem menos e nem mais do que somos. Ou seja, viver de forma humilde não é se inferiorizar ou adoecer por conta da baixa autoestima. Ser humilde quer dizer que você sabe quem é, incluindo defeitos, limitações e aprendeu a olhar para o outro a partir de uma perspectiva empática, por compreender quem você é.
2. Não leve o sucesso tão a sério.
Este é um grande conselho; não deveríamos correr tanto atrás de fama, sucesso, status, ou qualquer outro nome que queiram dar a isso. É preciso entender que em sucesso ou não, somos a mesma pessoa, não devemos nos sentir superiores por ter ou não influência, dinheiro ou qualquer outra suposta vantagem em relação a outras pessoas. Moisés alertou em Deuteronômio: "E se acrescentar a prata e ouro, e se multiplicar tudo quanto tens, não se eleve o teu coração e te esqueças do teu Deus" (Dt 8.13,14). O sucesso prestigiado pelo mundo, bem como as riquezas são frágeis, nossa felicidade não pode depender nem se basear neles. O sábio Salomão disse: “Como saiu do ventre de sua mãe, assim nu voltará, indo-se como veio; e nada tomará do seu trabalho que possa levar na sua mão” (Ec 5.15).
3. Declare a importância dos outros.
Por vezes estamos tão preocupados olhando para nós mesmos que esquecemos que o brilho de outros precisa ser reconhecido e ressaltado. O apóstolo Paulo sabia disso, por isso aconselhou os filipenses: “Cada um considere os outros superiores a si mesmo” (Fp 2.3). Se cada um de nós souber aplaudir o colega, souber reconhecer as qualidades dos outros e aquilo que fazem de bom, não estaremos dando um presente apenas a eles, mas a nós mesmos através de uma atitude que nos ajudará a nos colocar no nosso lugar, de apoiadores de outras pessoas.
4. Não exija os melhores lugares.
Um dos conselhos que mais gosto dos vários que Jesus deu é esse: ‘‘[...] quando fores convidado, vai tomar o último lugar; para que, quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, senta-te mais para cima. Ser-te-á isto uma honra diante de todos os mais convivas.’’ (Lc 14.10) Para ser humilde, é preciso ter paciência e consciência de que sua atitude não é exigir reconhecimento, honra ou qualquer outra coisa, mas antes escolher para si um lugar qualquer, e se for convidado para um lugar mais elevado em importância, poderá optar por ir ou não. Almejar honras é um peso que a arrogância pode colocar em nosso coração, portanto, devemos antes procurar ser aquele que senta nos últimos lugares, assim tudo o que vier depois disso é lucro.
5. Fale de maneira humilde.
Quando Ana orou ao Senhor em forma de canção, disse: ‘‘Não multipliqueis palavras de orgulho. Nem saiam coisas arrogantes da vossa boca.’’ (1Sm 2.3). No momento em que alguém passa a se auto elogiar constantemente, tira a oportunidade de outros fazerem isso. Quer receber elogios? Pare de se auto elogiar, faça algo relevante e seja paciente.
6. Esteja ao pé da cruz.
Ao pé da cruz é onde temos um encontro com o nosso motivo de glória: a vitória obtida por Cristo no Calvário. Paulo afirmou: ‘‘Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo.’’ A vitória de Jesus é a nossa vitória, recebida de graça. Ali Ele verteu o sangue que perdoou os nossos pecados e nos trouxe vida. É para a cruz que devemos voltar nossos olhos e nosso coração. Tudo foi criado por Ele, é por Ele e para Ele. É ao pé da cruz que nos lembramos que mesmo tudo sendo por Ele e para Ele, Ele decidiu morrer por você, para que n’Ele a nossa vida existisse. Todos precisamos de uma pausa ao pé da cruz e, no amor de Deus, encontrarmos uma glória indescritível: a de sermos amados por Cristo apesar daquilo que somos. Procure viver de forma humilde e você certamente colherá os frutos disso em você e no seu relacionamento com os outros.”
Por Marlon Anezi
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