Por vezes, nossas reflexões sobre
o Natal giram em torno do significado deste evento e não caminham para um
questionamento sobre como estamos vivendo-o. Qual significado estamos
atribuindo a ele? Vejo muitas pessoas atordoadas de um lado para o outro, no
trânsito, na rua, nos supermercados e até mesmo nas reuniões familiares, às
vezes, por sobrecarga, mas uma sobrecarga que elas colocaram sobre si mesmas.
Para muitos, o Natal é sinônimo de cansaço, mais uma tentativa de agradar aos
outros a todo custo, de fazer, fazer e fazer mais e mais. Essa pessoa cansada
de fazer incansavelmente, por vezes, também passa a cobrar dos outros, devido à
sobrecarga experimentada; quando isso acontece, não há como escapar do
estresse.
Todo final de ano, ouvimos na
Igreja que o significado do Natal é Jesus. Sim, de fato, acredito que seja. No
Natal, cantamos, refletimos e celebramos Sua vinda, Seu nascimento neste mundo.
Mas, até hoje, posso dizer que não testemunhei famílias que compreendam o que é
viver o Natal a partir deste significado. Apenas cantar músicas sobre Jesus não
basta, ler sobre Jesus e a história do seu nascimento, encenar o presépio ou
qualquer coisa do tipo, não é suficiente. E aqui não estou dizendo que você
deva fazer mais do que isso. Na verdade, bem pelo contrário, é preciso fazer
diferente. O Natal não deveria ser esse momento de sobrecarga e cobrança, ou
até de exagero de presentes, comida e enfeites, não porque seja errado, mas
porque isso também nos sobrecarrega. Pensamos que o Natal é época de fazer
incansavelmente, e, na verdade, não é.
Uma das histórias que mais nos
ensinam sobre o Natal não está nos textos que lemos na época de Natal. É a
história de Maria e Marta, em Lucas 10.38-42. Você deve lembrar-se desta
história. Jesus vai visitar as duas irmãs, e cada uma o recebe de uma forma
diferente. Enquanto Maria senta aos pés de Jesus e fica apenas o ouvindo, Marta
denuncia Maria por sua inatividade, pois enquanto Maria ouvia Jesus, Marta se
ocupava com o trabalho da casa. A irmã que buscava fazer o trabalho da casa diz
a Jesus: “O senhor não se importa que a minha irmã me deixe sozinha com todo
este trabalho? Mande que ela venha me ajudar.” (v. 40) O que você acha que
Jesus fez? Mandou Maria ajudar a sua irmã? Não, bem pelo contrário, defendeu o
direito de Maria continuar ali sentada e ainda aprovou sua atitude, dizendo que
ela escolheu a “melhor parte” e que ninguém tomaria dela esta parte.
Quando chego a casa de alguém,
não espero um banquete com múltiplas opções de cardápio, não admito inclusive
que a pessoa tenha limpado a casa o dia todo para receber minha visita. Quando
visito alguém, preciso apenas de coisas simples, um lugar para sentar e
conversar. Sim, caso eu vá para uma refeição, esperarei que haja comida; um
copo d’água também pode ser importante em momentos de sede. Mas nada que
precise causar sobrecarga em alguém. Acredito que não só eu, mas geralmente, as
pessoas não precisam de muito para gostar de estar em um ambiente. Não é
preciso muito trabalho para criar um ambiente aconchegante porque, por vezes,
nós mesmos, nossa companhia e uma boa prosa já cumprem a melhor parte. Como
isso se aplica ao Natal? Jesus, nesta história, se demonstra como uma pessoa
simples que também não precisava que Marta o recebesse cheia de tarefas. Ele
diz a ela: “Só uma coisa é necessária”. Há um hino no Hinário Luterano que fala
“Só uma coisa é necessária, a boa parte, ouvir Jesus”. É exatamente isso! No
Natal, todos somos um pouco Maria, Marta ou Jesus.
Jesus é o visitante que
sabiamente não esperará mais do que momentos agradáveis na presença dos
familiares. Ele quer que as pessoas relaxem e conversem, aproveitem aquele
momento. Maria, igualmente, está recebendo seus familiares, preocupada em lhes
servir o mais importante: sua presença e atenção. Marta está preocupada com as
tarefas de casa; ela precisa entender que no Natal, assim como na vida, somente
uma coisa é necessária, a boa parte. Aproveite o Natal junto de seus
familiares, sem exageros e sem sobrecarga! Tenha um feliz Natal!
Por Marlon Anezi
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