Já faz algum tempo que quero falar sobre este assunto. Creio que
chegou o momento. Primeiramente, gostaria de dizer que este texto trata da
minha perspectiva sobre o assunto. Existem outros olhares que diferem do meu,
o que significa que não há uma conclusão absoluta quanto a esta questão; eu
classifico-a como um adiáforo. Adiáforos são pontos facultativos, opcionais, ou
seja, indiferentes.
Ouvir música secular ou não, quando o assunto é vida cristã, é
indiferente, pois a música secular faz parte de muitas outras coisas das quais
participamos na vida secular. Se ouvir música secular fosse pecado, teríamos
que considerar viver no mundo secular como pecado, assistir filmes e programas
seculares como pecado, comprar em mercados seculares, utilizar camisetas
seculares, etc. Proibir a música secular seria demonizar a vida comum, o que é no
mínimo uma grande ignorância e falta de noção.
Por vezes, a música secular é atacada como se fosse ela o próprio demônio, enquanto diversas outras influências seculares, como filmes, televisão, redes e mídias sociais, permanecem intactas. Não penso que nenhum desses deva ser atacado, mas é intrigante como há uma implicância sem fundamento contra a música que fala das coisas da vida, como o amor entre um casal, por exemplo. Apesar de pensar que todas estas mídias, assim como a música secular, não devam ser demonizadas, considero essas críticas como generalizadas. Algumas pessoas fecham-se em uma bolha onde apenas a música cristã ou gospel é aceitável, apenas os filmes gospel, apenas o canal da igreja, e perde-se a noção de como Deus também está presente na vida comum, nas coisas comuns da vida, e inclusive nas músicas que não citam o Seu nome.
Há muitos anos, quando essa questão sobre música ainda me afetava, lembro-me de ter lido certa vez em um material que há três tipos de música: adoração, secular e profana. Adoração é a música dedicada a Deus, a secular fala das coisas comuns da vida, e a profana é aquela que ofende a Deus de alguma forma, incita ao pecado e/ou rebaixa o ser humano através de palavras de baixo calão. Diante dessa possível divisão, posso dizer que adoração e música secular são saudáveis e podem ser ouvidas tranquilamente. Quanto à música profana, por outro lado, esta sim é nociva, portanto, penso que neste caso se deve ter um cuidado especial.
O que por vezes acontece é que as pessoas consideram qualquer música secular como profana, como se qualquer música que não fale diretamente sobre Deus O ofendesse, e isso não tem nenhum sentido. Enquanto pessoas que vivem em um mundo secular, conversamos sobre diversos assuntos no nosso dia a dia, assistimos diversas mídias, participamos de aulas e trabalhamos em locais que não necessariamente incluirão Deus em seus discursos, e isso não significa que estamos ofendendo-O, pois faz parte da vida em seu ambiente secular.
Há ainda um texto bíblico que aplico ao contexto da música secular. O apóstolo Paulo fala em Tt. 1.15: “Para os puros, todas as coisas são puras; mas, para os impuros e descrentes, nada é puro. Pelo contrário, tanto as suas mentes como as suas consciências estão corrompidas.” O que determina o puro e o impuro não é o elemento em si, mas o nosso estado que determina o que é puro e o que é impuro.
Por exemplo, em relação a um abusador infantil, uma criança é considerada uma tentação ou ainda uma pedra de tropeço para ele, enquanto para alguém que ama e protege aquela criança, ela é uma benção em sua vida. Qual dos dois a criança realmente é? Nenhum dos dois. Ela é, a partir de Deus, uma criatura feita à Sua imagem e semelhança e, em Cristo, uma filha e uma nova criatura. No entanto, o estado corrompido do abusador torna em sua mente a criança como uma tentação e para aqueles que amam aquela criança, ela é uma bênção, algo construído a partir de um olhar carregado de afeto. É o nosso olhar que determina o que, para nós, é uma tentação ou não, o que é impuro ou não.
A partir deste parâmetro, vamos analisar a música secular. É a mente corrompida humana que pode tornar a música secular uma pedra de tropeço. A partir do Espírito que habita em cada crente, há liberdade em Deus para ter um olhar purificado sobre as coisas, não estamos relegados à apenas reagir a estímulos. Ao escutar uma música, não podemos ser imediatamente influenciados a fazer tudo o que aquela música diz, caso ela aborde temas ou opiniões com os quais não concordamos.
Aqui há pontos divergentes; há músicas que ofendem a Deus, e, de
fato, há músicas com elementos que não concordamos, que não conversam com
nossos valores, ou que não fazem sentido em nosso atual momento de vida. No
caso de ofender a Deus, que é o da música profana, o princípio elencado a
partir de Tt 1.15 não se aplica; a ofensa a Deus sempre é ofensa. Porém, nos
outros casos envolvendo a música secular, é uma questão de perspectiva. O olhar que
colocarmos sobre a música determinará se ela é para nós pura ou impura. E ela
só será impura a partir de um olhar corrompido, que surge de um coração
corrompido. Compreendendo isso, veremos que o problema não está na música em
si, mas no coração que problematiza uma música que não ofende a Deus, mas que,
para aquele coração, é considerada uma pedra de tropeço ou ainda uma tentação
que o arrasta para o pecado. Cabe fazer nestes casos uma verdadeira análise do
coração, porque é muito mais fácil culpar a música quando, na verdade, o
coração é que é podre e consegue transformar uma linda obra de arte em
escândalo.
Por Marlon Anezi
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