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Desconstruindo templos, construindo comunidade

Áquila e Priscila os saúdam afetuosamente no Senhor, e também a igreja que se reúne na casa deles.1Co 16.19

A Igreja Primitiva reunia-se nas casas dos crentes, o que nos remete a um período muito distinto do atual para a Igreja. No século XXI, convivemos com uma Igreja institucionalizada, com CNPJ, que possui templo e capital (tanto financeiro quanto humano), se organiza com formalidade, e, especificamente no Brasil, assim como em muitos países do mundo, está em relação neutra com o estado laico. A Igreja Primitiva precisava se esconder, cultuava em casas, e os cristãos viviam como cidadãos irregulares diante da tirania do Imperador Nero, que se sentia traído pelos cristãos, pois estes não lhe demonstravam abertura quando o assunto era prestar a reverência exigida pelo imperador romano.

No século IV, a Igreja passou a ter templos quando Constantino se converteu ao Cristianismo. Desde então, a religião cristã passou a ser a oficial do Império Romano. A Igreja recebeu doações de terrenos que pertenciam ao império romano para a construção de templos. Esses templos, assim como a união da Igreja com o Império, trouxeram à Igreja poder, supremacia e riquezas acumuladas ao longo dos séculos. A estética passou a ser muito valorizada nos templos, e a Igreja não era mais sinônimo de comunidade, mas sim de um local à parte com cultura própria. Cada vez mais, a Igreja se distanciou do formato simples e essencial que fazia parte das reuniões do primeiro século.

A história da Igreja cristã é longa e merece atenção de cada um de nós que deseja se posicionar em prol de uma Igreja mais próxima daquela que foi erigida por Cristo. Enquanto hoje conhecemos a Igreja como um templo ou ainda uma instituição, a Palavra de Deus nos revela que a Igreja, na verdade, são as pessoas, o grupo de cristãos que se reúne. O local, o espaço físico, é apenas um detalhe; a Igreja é o povo de Deus na terra, o povo que foi escolhido e nomeado por Ele para viver para a glória d’Ele, aguardando a volta de Jesus Cristo que virá para buscar a Sua Igreja, a Sua noiva.

É necessário considerar em nosso tempo a simplicidade com que somos chamados a viver Igreja. Diversas denominações pelo mundo adotaram para o nosso tempo um formato de Igreja que tornou-se palco de artistas, lugar de comércio e de muitas outras atividades que não poderiam ser relacionadas com a essência da Igreja na terra, que é adorar e proclamar Cristo aos quatro cantos do mundo. O relato bíblico nos relembra a humildade e humanidade do que é ser Igreja.

Por Marlon Anezi


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