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A pergunta que nunca me fizeram sobre dons espirituais

Eu preciso confessar uma coisa: por muito tempo, eu não soube bem o que pensar sobre curas e o dom de línguas. Talvez você também já tenha se sentido assim. A gente fica no meio de um debate que parece interminável, tentando encaixar esses milagres em caixinhas teológicas, e no processo, eu percebi que corria o risco de perder o mais importante: o coração de Deus por trás deles.

A verdade é que, ao focar no como e no quando esses dons se manifestam, eu estava deixando de perguntar o porquê. E foi meditando na Palavra que aprendi algo interessante. O apóstolo Paulo nos dá uma pista valiosa:

“Assim que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis; e a profecia não é sinal para os infiéis, mas para os fiéis.” (1 Co 14.22)

E se as curas e as línguas fossem, antes de tudo, sinais proféticos? Pistas que Deus deixou no caminho para nos contar algo sobre o futuro?

Pense, por exemplo, nas curas que Jesus realizou. Elas não eram apenas atos de compaixão momentânea. Eram o cumprimento de uma promessa antiga de Isaías (Is 35.5-6) e, ao mesmo tempo, um trailer do que está por vir. Cada cego que via, cada surdo que ouvia e cada coxo que saltava era um vislumbre do céu na Terra. Era Jesus nos dizendo: “Vejam, é para isso que eu vim. A restauração completa está chegando, um dia onde não haverá mais dor, nem doença, nem morte.” As curas eram profecias vivas, um gostinho da eternidade no meio do nosso tempo.

Da mesma forma, o dom de línguas em Pentecostes foi muito mais do que um fenômeno impressionante. Eu lembro da história da Torre de Babel, onde a arrogância humana resultou em confusão e divisão. As línguas nos separaram. E então, em Atos, Deus faz o movimento contrário. Ele derrama Seu Espírito, e pessoas de todas as nações ouvem as maravilhas de Deus em seu próprio idioma.

Aquele dom era o antídoto de Deus para o que aconteceu no episódio da Torre de Babel. Era um sinal profético de que, em Cristo, a barreira da separação estava caindo. Era Deus mostrando ao mundo que Ele estava formando um novo povo, uma família unida não por uma língua ou cultura, mas pelo Seu Espírito. Assim como as curas de Jesus, o dom de línguas aponta para o futuro, para aquele dia glorioso em que pessoas de “toda tribo, língua, povo e nação” estarão juntas, unidas, diante do Cordeiro.

Mas e hoje? Esses dons ainda acontecem?

Eu, particularmente, acredito que sim, eles podem acontecer. Entendo que talvez não sejam a regra, mas a exceção. No entanto, eu percebi que a pergunta mais importante não é “com que frequência eles acontecem?”, mas sim “o que a história deles nos ensina?” O grande propósito profético desses sinais já ecoou pelo primeiro século e atualmente continua a nos guiar.

A verdade é que, ao me fixar no debate sobre a manifestação desses dons, eu posso perder a mensagem central que eles carregam: Deus está em uma missão de reconciliação. Ele quer curar não apenas nossos corpos, mas toda a criação. Ele quer não apenas unir nossas vozes, mas nossos corações.

Talvez eu precise, e talvez nós precisemos, parar de apenas procurar pelo sinal e começar a viver a realidade que ele aponta. Viver como pessoas que sabem que a cura definitiva está a caminho. Viver como um povo que, apesar das diferenças, busca a unidade que o Espírito nos deu.

As curas e as línguas nos lembram que a história ainda não acabou e que a promessa de um mundo plenamente restaurado é a nossa esperança final.

Marlon Anezi

Essa reflexão fez sentido para você? Como você enxerga o papel desses sinais em sua caminhada? Deixe um comentário, eu adoraria saber o que você pensa.

Se esta carta te tocou, salve para ler de novo ou compartilhe com alguém que também possa ser encorajado por ela.

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