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O que fazer com as nossas falhas e pecados?

Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome. Sl 23.3
                                   

Reconhecer que somos falhos, por vezes, é difícil. O mundo em que vivemos vive de aparências, não há espaço para que as pessoas abram o seu coração e falem de suas angústias, de seus medos, de sentimentos tão humanos e internos. Quando criamos o Projeto MAB (Momento Aliviando a Bagagem) há cinco anos, eu e minha esposa pensávamos em um lugar onde isso fosse possível. Mesmo que dentro de nossa intenção houvesse uma tentativa de criar este espaço, vimos na prática que não é tão simples trazer à tona a vulnerabilidade de um grupo.

Muitas vezes, as pessoas tendem a se retrair, movidas pelo receio de que suas palavras possam ser usadas contra elas, ou pelo temor de serem julgadas por sua sinceridade. Em alguns casos, optam por manter seus problemas em segredo e tentar resolvê-los por conta própria, em vez de compartilhá-los com outros. Estabelecer um ambiente propício para a abertura e a confiança mútua representa um desafio significativo.

Para muitas pessoas é difícil compreender que somos pecadores, e como isso nos coloca em uma relação desigual em relação a Deus. Nós não merecemos o céu, não merecemos o amor de Deus, em nossas atitudes diárias não estamos dentro dos padrões divinos de justiça, retidão e santidade. Paulo já dizia: “Não há um justo, nem um sequer [...] Não há quem faça o bem, não há nem um só” (Rm 3.10, 12).

Deus, Ele sim de fato é justo. Ele é Santo, reto em todos os Seus caminhos. O Salmista diz: “Deus é um juiz justo” (Sl 7.11). “O Senhor é justo e ama a justiça” (Sl 11.7). Isaías descreve Deus como “Deus justo e Salvador” (Is 45.21). Deus é justo. Seus decretos são justos (Rm 2.5). Suas exigências são justas (Rm 8.4). Seus atos são justos (Dn 9.16). Daniel declarou: “Justo é o Senhor, nosso Deus, em todas as suas obras, que fez” (Dn 9.14). O autor Max Lucado diz: “Deus nunca é injusto. Ele nunca se entregou a uma decisão errada, experimentou a atitude errada, deu o passo errado, disse a coisa errada, ou agiu do modo errado. Ele nunca está atrasado ou adiantado demais, nunca é demasiadamente barulhento ou suave, rápido ou lento. Ele sempre esteve e sempre estará certo. Ele é reto.”

Não alcançamos esta justiça de Deus por nossas próprias atitudes, pela maneira como vivemos nossa vida diária. Não é justo que Deus aceite o injusto, assim como seria um cúmulo Harvard admitir um desistente do Ensino Fundamental.

A pergunta que devemos responder é: o que fazemos diante deste fato? O que fazemos quando percebemos que não alcançamos? O que fazemos ao compreender que erramos e que isso demonstra nossa indignidade em relação a Deus?

1. Alguns tentam esconder os erros. Muitos vivem como pessoas que não erram, não demonstram seus tropeços aos outros para que pareça que vivam uma vida isenta de problemas, de tentações e de falhas. Viver desta forma é triste, pois tentando enganar os outros nos enganamos, pensando que estamos acima da média e que os outros são inferiores, quando na verdade a única diferença dos outros está na aparência exterior dos atos e das palavras. Enquanto uns demonstram que de fato são falhos os outros escondem. Este tipo de hipocrisia não engana a Deus e nem as próprias pessoas que convivem com essa atitude arrogante.

Aquele que é cristão, mesmo já tendo passado por um processo de conversão irá errar. Mesmo que o não cristão erre dez vezes em um dia e o cristão erre duas vezes, o cristão não está no direito de se sentir superior, pois esses mesmos dois erros já o condenam diante de Deus, somente pelo perdão e justiças vindas d’Ele será possível que esses dois atos sejam perdoados e apagados, e então o cristão seja considerado justo.

2. Alguns carregam consigo a culpa. A culpa consome as pessoas. Muitos são consumidos diariamente pela culpa que carregam, atos do passado que não podem desfazer, coisas que perseguem a mente de muitos durante as suas vidas e que não são levadas à Deus em arrependimento, para que se tire o peso das costas e a vida flua normalmente.

O assunto é sério, a Psicologia se ocupa do assunto da culpa e muitas pessoas têm adoecido por causa dela. Outras, em estado terminal, sofrem muito e não conseguem se entregar à morte por causa dela. A culpa está no nosso cotidiano quando buscamos questionar: “de quem é a culpa por isso?”

Por vezes, esta atitude de encontrar culpados por coisas mínimas nos torna carrascos uns dos outros e não auxiliam a que este outro encontre o perdão. Somos mestres em achar a culpa do outro e não aquilo que possa redimi-lo, somos doutores em fazer com que o outro se sinta mal por um erro, mas não aprendemos ainda a levar as pessoas a se sentirem bem por se livrarem de um fardo de culpa. E isso é o que faz com que muitos se fechem, as pessoas não aguentam mais serem julgadas e na cultura em que vivemos basta falar sobre o que sente e como se sente para ser julgado de alguma forma.

Apesar do nosso mundo externo não nos ajudar, carregar a culpa é uma escolha nossa. O fato de Deus exigir justiça de nossa parte não significa que devamos nos sentir culpados, porque a justiça que Deus exige de nós, não está relacionada à atos perfeitos de santidade ou uma vida que não possui erro nenhum. O que nos torna justos e santos é a justiça e santidade de Cristo em nós.

3. Outros recebem o perdão e a justiça de Deus. Enquanto alguns vivem com máscaras e outros se culpam pelos seus atos, o cristão vive em paz por conta do perdão recebido em Cristo.

“Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus” (1 Pe 3.18).

Cristo morreu por nós exatamente porque não atingimos o padrão de justiça de Deus, nem antes da morte e ressurreição de Cristo, nem durante ela e nem atualmente. O homem nunca foi capaz de atingir este padrão, mesmo as pessoas consideradas mais santas na Bíblia, ou que viveram ao longo da História da Igreja Cristã não são justas ou santas em si mesmas. Foram perdoadas por Cristo e isso removeu a culpa pelos seus erros. Apesar de muitos não enxergarem esses erros, pessoas beatificadas, canonizadas também cometeram erros e precisaram do perdão divino através de Jesus Cristo para sua salvação.

Quando o salmista Davi disse: “Guia-me pelas veredas da justiça” (Sl 23.3). Ele certamente compreendia como precisamos ser salvos, guiados e orientados pela justiça de Deus, os caminhos humanos são incertos e tortuosos em si mesmos, porém quando Deus nos guia pelas veredas da justiça, além de nos levar adiante por um caminho sem culpa, como um presente atribui a nós a Sua própria justiça. Desta forma, mesmo sendo injustos somos justificados.

Para finalizar, Max Lucado afirma:

“A vereda da justiça é uma trilha estreita, sinuosa, subindo um monte íngreme. No cume do monte há uma cruz. Ao pé da cruz estão os fardos. Incontáveis fardos cheios de inumeráveis pecados. O calvário é um monte composto de culpas. Gostaria de levar a sua para lá também?”

A relação entre justiça e a cruz é mais profunda do que podemos imaginar, assim como a ligação entre perdão e justiça. Quando compreendemos que nossa salvação não depende apenas de nossas ações, mas também do ato contínuo de deixar para trás nossos fardos - problemas, culpas, preocupações, medos e falhas - no monte do Calvário, diante da cruz de Jesus, então encontramos o verdadeiro caminho para a reconciliação e o perdão. Somos convocados a ajudar outros a encontrarem paz perante a cruz de Cristo, de modo que os encargos sejam aliviados e a culpa seja substituída pelo perdão, possibilitando uma nova vida em Jesus.

Por Marlon Anezi






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