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“Ela não é alguém para lutar contra; ela é sua família”

Dias atrás, minha esposa e eu assistimos a um filme chamado “Greta”. A história é sobre uma adolescente rebelde e com ideações suicidas que, por não saber como lidar com ela, a mãe a envia para a casa dos avós.
                      
É um filme intenso, mas a cena que ficou comigo, que se tornou um sermão para o meu coração, foi um momento de conflito. A avó, exausta com o comportamento da neta, explode com ela por um motivo banal. Mas o avô, com uma calma e uma sabedoria profundas, se vira para a esposa e diz uma frase que me parou:

“Ela não é alguém contra quem você tem que lutar. Ela é sua família, carne da sua carne.”

Nessa frase, ele capturou uma verdade que nós, como Igreja, precisamos desesperadamente reaprender. Uma verdade que o apóstolo Paulo descreveu com uma bela metáfora:

“Quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele; quando um membro é honrado, todos os outros se alegram com ele.” (1 Coríntios 12.26)

A Igreja não é um clube de pessoas perfeitas. É um corpo. E quando um dedo do pé está quebrado, a cabeça não consegue se concentrar direito. Quando o estômago dói, o corpo inteiro se sente fraco. A dor de um membro afeta o corpo inteiro. Ou, pelo menos, deveria.

Mas, sejamos honestos, nem sempre agimos assim.

Quando um irmão em nossa comunidade está de luto, muitas vezes oferecemos frases prontas em vez de um silêncio respeitoso e um ombro amigo. Quando alguém luta com uma crise de saúde mental, nós o criticamos, nos afastamos ou tentamos “consertá-lo” com versículos fora de contexto.

Em vez de nos colocarmos ao lado da pessoa que sofre, muitas vezes nos colocamos contra ela. Como a avó do filme, focamos no comportamento irritante, na atitude rebelde, e nos esquecemos de olhar para a dor profunda que está por trás de tudo aquilo.

E por que é tão difícil para nós “sermos corpo” hoje?

Talvez seja por causa da nossa cultura individualista, que nos ensina a cuidar apenas da nossa própria vida e a ver os problemas dos outros como “deles”. Talvez seja por causa da nossa rotina apressada, que nos deixa sem tempo e sem energia para uma comunhão que vá além do “oi, a paz do Senhor” no domingo.

Isso nos deixa com uma pergunta difícil, para a qual eu não tenho uma resposta pronta: Como podemos, em meio a essa cultura, resgatar a beleza e a profundidade de sermos um corpo que realmente sofre junto e se alegra junto?

A solução não é simples, mas talvez comece com uma decisão. A decisão de adotar a postura daquele avô.

A de, antes de confrontar, tentar compreender. A de, antes de julgar o comportamento, lembrar que aquele que sofre “é sua família, carne da sua carne”. A de escolher a empatia em vez da crítica, e o apoio em vez do afastamento.

Que o Senhor nos ajude a sermos esse tipo de família.

Com carinho, 

Marlon Anezi


Se esta reflexão te tocou, salve-a. Pense em alguém da sua comunidade de fé que está sofrendo. Qual seria o primeiro passo para “sofrer com ele”, em vez de lutar contra ele?

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