Quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele; quando um membro é honrado, todos os outros se alegram com ele. 1Co 12.26
O filme “Greta” retrata a história de uma jovem rebelde que tem uma lista de coisas que deseja fazer antes de completar dezoito anos. Conforme vai realizando aquilo que está em sua lista, vai riscando seus objetivos. O que torna o filme intrigante é que Greta tem em sua lista o desejo de cometer suicídio antes dos seus dezoito anos. Qual o contexto de vida desta jovem? Seu pai também cometeu suicídio, quando Greta era ainda muito pequena, ela testemunhou tal ato; após isso, sua mãe passou a viver uma vida com outro homem, e Greta passou a sentir-se de escanteio, não mais amada por sua mãe.
Ao perceber que não conseguia mais lidar com os atos de rebeldia da filha, a mãe de Greta a envia para a casa dos avós, que também passam a se surpreender com a forma como sua neta se comporta e suas aspirações suicidas. Contudo, de todos os familiares, o avô de Greta é o que parece melhor conseguir lidar com a neta. Após vários momentos em que a avó de Greta confronta a neta por conta de seu comportamento sem limites, há um estopim onde ela briga com a neta porque esta contratou um serviço de TV a cabo sem consultar ninguém, pois queria assistir seu programa favorito de TV. O avô de Greta acalma sua esposa dizendo: “ela não é alguém contra quem você tem que lutar, ela é sua família, carne da sua carne. Ela só quer TV a cabo.” Neste momento, o avô mostrou uma compreensão superior, que poucas pessoas têm quando estão em um conflito. Poucas pessoas se perguntam: será que devo confrontar esta pessoa, ou posso tentar resolver isso de outra forma? Resolver de outra forma é sempre mais difícil, mas por vezes necessário. O filme acaba, com Greta rompendo com a ideia de se suicidar, pois por ideia do avô, sua mãe passa um tempo de qualidade com a filha sem a presença do padrasto, com o objetivo de “salvar a vida da filha”. De fato, a ideia que surgiu da sensibilidade do avô surtiu efeito.
Sensibilidade e uma compreensão superior; é isso que Paulo apresenta à Igreja de Corinto em 1Co 12.26. A partir de 1Co 12.12, o apóstolo fala sobre a unidade da Igreja; a ideia principal é: todos são membros do mesmo corpo. Conseguimos nos concentrar quando estamos com uma parte do corpo doendo? Independentemente da parte do corpo que estiver doendo, nosso cérebro terá dificuldades em concentrar-se diante da dor. Assim é, ou deveria ser, com a família da fé. Se um irmão ou irmã está enlutado(a), todos devem respeitar o momento do irmão e orar pelo consolo vindo do Espírito Santo. Eu poderia dizer que é importante buscar consolar a pessoa, mas por vezes, na tentativa de consolar, muitos acabam falando frases que não consolam, que não são empáticas com a dor do enlutado. Portanto, muitas vezes, uma postura de respeitar o luto, se entristecer junto à pessoa e orar por ela pode ser mais benéfico do que propriamente tentar consolar a pessoa.
Se um irmão ou irmã na fé está vivendo uma luta, como era o caso do filme “Greta”, em que a adolescente estava com ideação suicida, cabe aos irmãos na fé não demonizarem o suicídio, nem lutarem contra a pessoa, mas se colocarem ao lado dela procurando auxiliá-la. É fácil? Não, com certeza não é. Por isso, as atitudes mais comuns, quando surgem estas questões são: a incompreensão, a crítica, o conflito interpessoal, que na verdade não auxiliam a pessoa a sair daquela situação, apenas servem para determinar novamente as atitudes moralmente aceitáveis frente à pessoa ou às pessoas, mas não servem a um propósito maior, como o de se colocar ao lado como apoio; para daí então, naturalmente reintegrar a pessoa a uma vida comum.
Há atualmente diversos desafios em relação a isso. Ser corpo não
é nada fácil. Um desafio é o nível de ligação que os membros de uma determinada
Igreja têm entre si. Na sociedade atual, vivemos uma ética individualizante que
nos tira o senso de comunidade; este está cada vez menos presente entre as
pessoas. Outro desafio é o tempo, que por vezes nos desvincula de nossa
comunidade e nos leva à sociedade onde batalhamos pelo pão de cada dia,
estudamos, temos momentos de passeio e lazer, quando possível em shoppings
centers. E o corpo, a comunidade de fé, vive assim, cada um a sua vida.
Esta reflexão termina com um questionamento: como ser corpo na sociedade
pós-moderna? Nesta pergunta, não cabem respostas simplistas como: “basta ser
corpo do mesmo jeito que a igreja era corpo no tempo de Paulo”, porque, apesar
de a Igreja Primitiva ter os seus desafios, eram distintos dos que temos hoje.
Para esta pergunta não há respostas prontas, apenas tentativas de construir uma
realidade diferente para a Igreja no século XXI, que caminha cada vez mais em
sentido oposto aos princípios da unidade.
Por Marlon Anezi
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