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A minha liberdade termina onde a fé do meu irmão começa?

Uma das notícias mais libertadoras do Evangelho é que, em Cristo, nós somos verdadeiramente livres. Livres da condenação da lei, livres da necessidade de lutar para provar nosso valor, livres do medo do julgamento. Essa liberdade é um presente precioso, o ar fresco que enche os pulmões da nossa alma.

Mas, como toda verdade profunda da nossa fé, essa liberdade vem acompanhada de uma responsabilidade igualmente profunda. É por isso que o apóstolo Paulo, depois de celebrar nossa liberdade, nos faz um alerta pastoral cheio de amor e sabedoria:

“Contudo, tenham cuidado para que o exercício da liberdade de vocês não se torne uma pedra de tropeço para os fracos.” (1 Coríntios 8.9)

O que Paulo está nos ensinando aqui?

Ele nos convida a mudar a pergunta que guia nossas ações. O cristão imaturo, muitas vezes, pergunta: “Eu tenho o direito de fazer isso? A Bíblia proíbe? É pecado?”. A pergunta é centrada em si mesmo, em seus próprios direitos e limites.

O cristão maduro, movido pelo amor que o Espírito Santo derrama em seu coração, aprende a fazer uma pergunta diferente, uma pergunta melhor: “Como a minha atitude vai impactar o meu irmão?”.

O foco se desloca de mim para o outro.

Uma “pedra de tropeço” não é simplesmente algo que ofende o gosto de alguém ou de que a outra pessoa “não gosta”. É muito mais sério. É um obstáculo que, por causa da nossa liberdade, nós colocamos no caminho de um irmão cuja consciência é mais fraca ou mais sensível. É uma atitude nossa que pode, sem querer, incentivá-lo a pecar ou até mesmo abalar a sua caminhada com Deus.

É aqui que entendemos o belo paradoxo da liberdade cristã, que Lutero resumiu tão bem. Em Cristo, somos “senhores livres de tudo, a ninguém sujeitos”. Essa é a nossa posição diante de Deus; estamos seguros em Sua graça. Mas, ao mesmo tempo, somos “servos de todos, a todos sujeitos”. Essa é a nossa postura diante do nosso próximo.

A nossa liberdade não é uma licença para o egoísmo; ela é o que nos capacita a servir. Porque não precisamos mais nos preocupar em defender nossos próprios “direitos”, estamos finalmente livres para cuidar da fé dos outros.

Não fomos chamados para sermos pedras de tropeço no caminho uns dos outros. Fomos chamados para fortalecer, para encorajar, para abençoar. Fomos chamados a usar nossa liberdade e nosso conhecimento não como uma arma para provar que estamos certos, mas como uma ferramenta para edificar a fé daquela pessoa preciosa por quem Cristo também morreu.

O resgate de uma vida nunca vem através da afirmação dos nossos direitos, mas sempre através do amor.

Com carinho, 

Marlon Anezi


Se esta reflexão te ajudou, salve-a como um lembrete. E eu te convido a pensar: existe alguma área da sua vida onde o exercício da sua liberdade pode estar se tornando uma “pedra de tropeço” para alguém? Como o amor pode te guiar a agir diferente?

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