A chave está em perceber a quem Paulo está se dirigindo e por quê. Primeiro, ele deixa claro que não somos chamados para sermos os juízes do mundo. “Deus julgará os de fora”, ele diz. Nossa tarefa não é policiar a moralidade de quem não conhece a Cristo.
Mas, para com a nossa família na fé, a nossa responsabilidade é diferente. Somos chamados a ser guardiões do bem-estar e da integridade da nossa própria comunidade.
E aqui precisamos fazer uma distinção crucial, com muito cuidado pastoral. Paulo não está falando de um irmão que tropeça, que luta contra um pecado, que cai e se arrepende com o coração quebrantado. Se fosse assim, todos nós, sem exceção, estaríamos fora da igreja!
Ele está falando de algo muito específico: de alguém que se diz irmão, mas que escolhe viver deliberadamente em um padrão de pecado, sem arrependimento, sem luta, de forma pública e desafiadora, tratando com leviandade a aliança que fez com Deus.
A medida radical que Paulo recomenda — o afastamento da comunhão — não é um ato de punição fria, mas um “tratamento de choque” que nasce de um coração pastoral. O objetivo não é condenar, mas despertar. É fazer a pessoa perceber a gravidade espiritual de sua situação, sentir a dor da comunhão que ela mesma quebrou e, com a graça de Deus, levá-la a um arrependimento sincero.
É o mesmo coração de Jesus que, ao perdoar a mulher adúltera, lhe diz com amor e firmeza: “Vá e não peques mais”. A graça do perdão não é uma licença para o pecado, mas o poder para abandoná-lo.
Mas essa medida drástica nunca é o primeiro passo. Antes de qualquer disciplina, o primeiro movimento da Igreja deve ser sempre o de estender a mão. O de procurar o irmão que se desvia, o de aconselhar, o de chorar junto, o de mostrar o caminho de volta e a possibilidade de restauração em Cristo. O desejo de Deus nunca é que alguém se perca, mas que todos se salvem.
Ser igreja é mais do que ser um clube social. É uma aliança. E levar essa aliança a sério significa, às vezes, tomar atitudes difíceis, não para excluir, mas na esperança amorosa de restaurar. É amar o irmão o suficiente para não ser conivente com um caminho que leva à destruição.
Com carinho e sobriedade,
Marlon Anezi
Se esta reflexão te ajudou a entender esse tema difícil, salve-a. Como podemos, em nossas comunidades, praticar essa responsabilidade mútua com mais amor e sabedoria, buscando sempre a restauração do irmão?
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