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Qual deve ser a relação com quem vive em pecado deliberado na igreja?

Mas agora estou lhes escrevendo que não devem associar-se com qualquer que, dizendo-se irmão, seja imoral, avarento, idólatra, caluniador, alcoólatra ou ladrão. Com tais pessoas vocês nem devem comer. 1Co 5.11

Paulo continua o assunto do capítulo 4 de forma contundente e sóbria. O assunto sobre o julgamento não se encerrou, o Apóstolo trata de um caso em que o filho estava deitando-se com a esposa do pai e repreende fortemente a Igreja de Corinto por sua postura de conivência em relação ao acontecido. A questão do julgamento é retomada, pois, ao contrário do que é falado no capítulo anterior, ele espera uma postura de julgamento por parte da Igreja em relação ao irmão que se encontra vivendo uma vida de pecado.

E aqui vale novamente fazer a distinção: todos pecamos, mesmo os cristãos, porém cristãos não deveriam viver uma vida de pecado, que consiste em pecar deliberadamente, conhecendo o erro cometido e prosseguindo em direção à prática constante deste erro. Ceder constantemente à tentação não condiz com uma vida em processo de santificação. Por isso, Paulo faz distinção entre o julgamento em relação aos de fora da Igreja e os de dentro da Igreja. Cabe a nós deixarmos que Deus julgue os de fora, eles não possuem os mesmos parâmetros e conhecimento que aqueles que pertencem à fé cristã, não estão sob o senhorio de Cristo, não firmaram um compromisso com Ele. Porém, quando um irmão na fé se encontra em uma vida de pecado, cabe à Igreja avaliar a situação e verificar se de fato este irmão na fé está respeitando a sua aliança firmada com Deus. Caso este irmão não esteja, o Apóstolo endossa a Igreja como responsável por afastá-lo da comunhão e nem mesmo comer mais com esta pessoa; é uma espécie de tratamento de choque.

Essa orientação de Paulo nos traz alguns ensinamentos importantes. Primeiramente, que o pecado é algo sério e precisa ser tratado com seriedade. Apesar de Jesus ter perdoado a mulher adúltera (Jo 8), Ele diz: “vá e não peques mais”. Ou seja, Ele dá a ela o tom com que o pecado deve ser tratado. Parafraseando Jesus, é como se Ele dissesse: “Afaste-se do pecado. Aqui você foi perdoada, você tem perdão em mim, mas não estou te autorizando a levar uma vida igual à que você levava, uma vida em pecado deliberado”. E de fato, é exatamente isso que o apóstolo dos gentios está afirmando em 1 Co 5. Ele fala sobre o fermento velho e o fermento novo (v. 6-8). O fermento somos nós, as antigas atitudes do velho homem atrapalham a formação de um novo homem em Cristo, os mesmos velhos pecados atrapalham. Ele aplica isso igualmente para a Igreja e para as pessoas que se dizem cristãs, mas vivem no lamaçal do pecado. Elas não deveriam estar em comunhão com a Igreja, pois já não estão em comunhão com Jesus e não têm se importado com isso. Sabemos que a Igreja não é um clube social (embora muitos a tenham sob esta perspectiva). Ela não existe com esta finalidade. A Igreja é a comunhão dos santos, os santos são aqueles que estão em comunhão com o Cristo que os santifica, não são os que não erram, são aqueles que constantemente se arrependem. Aquele que se afundou no pecado e não busca mais arrepender-se é o alvo da orientação de Paulo quanto ao afastamento da comunhão com a Igreja.

Outro ensinamento interessante que nos é trazido através deste capítulo diz respeito ao quanto estamos cientes da aliança que temos com Deus como algo sério. O compromisso que temos com Deus deve ser tratado com seriedade, o que, na atualidade, é cada vez mais difícil. A cultura vivida pela sociedade se distancia de compromissos. “Vamos ver se vai dar certo...” “Vamos fazer um teste...” A Palavra de Deus, contudo, não pode ser invalidada por esta cultura. Em diversos momentos somos ensinados através da Bíblia a reconhecer a Jesus como nosso único Senhor. Isso envolve compromisso. Se não aprendemos a ter compromisso com nada, estamos automaticamente desabilitados a viver a comunhão com Deus.

Viver em pecado deliberado e ao mesmo tempo dizer-se cristão não é a atitude esperada de alguém em processo de santificação. Precisamos nos conscientizar de que não podemos viver uma vida dupla. Por isso, Deus nos chama ao arrependimento, à comunhão com Ele. Ele conhece nossas lutas e batalhas. Abandonar os velhos hábitos não é fácil, porém, o Seu Espírito está conosco e nos fortalece para uma nova vida.

Talvez não seja você quem está com problemas para se libertar de algum antigo pecado, mas se você conhece alguém nesta situação, antes de pensar em afastar-se desta pessoa, certifique-se de que ela está ciente de que Deus deseja auxiliá-la a se libertar de tudo que a tem afastado d’Ele. Ele quer salvar a todos, não é o seu desejo que aquela pessoa se perca. Portanto, cabe à Igreja, antes de qualquer decisão drástica, estender a mão a esta pessoa, demonstrando a possibilidade de reabilitação em Deus.

Por Marlon Anezi


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