Portanto, não julguem nada antes da hora devida; esperem até que o Senhor venha. 1 Co 4.5
As pessoas julgam constantemente,
seja pela forma como nos vestimos, como falamos, pela cor da nossa pele, do
nosso cabelo, pela aparência do nosso nariz, se estamos muito magros ou muito
gordos, se somos muito baixos ou muito altos, não faltam motivos e parâmetros,
alguém sempre encontrará alguma classificação para enquadrar as outras pessoas.
Isso acontece quase que automaticamente quando não usamos palavras empáticas.
Muitas vezes, as pessoas preferem fazer julgamentos, talvez porque tenham medo
de ficar em silêncio constrangedor ou porque querem mostrar uma percepção
elaborada sem realmente analisar a situação. São aquelas famosas situações onde
seria melhor que a pessoa tivesse ficado quieta. Por exemplo, se eu souber que
alguém está acima do peso e que essa pessoa ficaria mal se eu a chamasse de
gorda, evitaria usar esse termo, porque estaria ofendendo a pessoa com minhas
palavras. Nas relações interpessoais, esperamos que o respeito e o amor ao
próximo sejam a base da convivência.
O apóstolo Paulo auxilia a Igreja
de Corinto a compreender isso, ele recomenda que “não julguem nada antes da
hora devida”. Dentro do convívio da Igreja, por vezes ouvi frases como: “o
fulano saiu da nossa denominação, apostatou da fé”, ou então, “apenas 5% da
Igreja irá se salvar, porque só irão se salvar os que vêm aos cultos de
quarta-feira”. Dentre tantos outros comentários que já nem me lembro mais de
tão absurdos. Essas frases, apesar de muito presentes em alguns contextos entre
os irmãos de fé, não deixam de ser julgamentos, formas de impor uma percepção
aos outros sem a devida avaliação e consideração empática pelo próximo. É muito
fácil enxergar a ruptura de um membro com uma denominação como um abandono da
fé cristã; essa pessoa pode viver a fé em outras igrejas cristãs, esse é o
conceito da Igreja invisível, que muitos, aliás, ignoram como se não existisse.
Deus não está vinculado a uma denominação, quanto mais a uma religião; quando
não temos este tipo de compreensão, nossa reação frente a determinadas
situações é de julgamento e imposição da nossa percepção, nunca algo que busca
compreender o outro.
E quanto à outra frase? Nela
subentende-se que podemos definir quanto por cento da Igreja será salva, o que
é mais absurdo ainda. Sim, conheci pessoas que tentavam, além de definir os
salvos através do procedimento, fazer cálculos de porcentagem de pessoas que
seriam salvas. O pensamento apresentado por Paulo, sobre não julgar antes da
hora devida, está bem longe desta prática tão presente entre alguns irmãos na
fé. Quando tentamos assumir o papel de Deus, nada de bom acontece, pois
machucamos outras pessoas e fazemos o que eu chamaria de “serviço porco”.
Quando não nos é dada a capacidade para efetuar algo e mesmo assim decidimos
fazê-lo, entregamos um serviço de baixa qualidade, pois não sabemos como fazer
aquilo, mas por teimosia decidimos fazer. Não temos as informações e
competências necessárias, porém, pensamos que temos. Essa é a nossa relação com
os julgamentos, apesar de saber que não somos donos da verdade, somos a todo
momento tentados a julgar e dizer “quem será salvo e quem não será”, “quem faz
parte do povo de Deus e quem não faz”. Paulo apenas diz: “não julguem antes da
hora, esperem até que o Senhor venha”. Sim, Deus virá exatamente para cumprir
este papel, o qual não temos capacidade de cumprir, precisamos assim como Paulo
reconhecer que não a temos e que não fomos chamados por Deus para isso.
Ensinamos a Palavra tal qual ela é,
e assim estamos orientados a fazer, porém, precisamos tomar cuidado para que
não venhamos a agir por impulsividade, dando voz às nossas falhas percepções
sobre os outros. É preciso procurar sempre compreender e pôr em prática as
reações que se esperam de uma pessoa cristã, pois o resgate não vem nunca
através do julgamento, se há alguém a ser resgatado, o será através do amor.
Somos despenseiros do amor e administradores das chaves do perdão que têm poder
para alumiar o escuro da alma e trazer vida ao mais sedento coração, assim
Jesus nos ensinou a viver pelo Reino, atraindo a todos através do amor. Quem
fazia o contrário eram os fariseus, e quanto a estes, a ninguém atraíam e a
ninguém resgatavam, pelo contrário, afastavam as pessoas de Deus, colocando
fardos de culpa sobre elas. Definitivamente, este não é o nosso papel.
Por Marlon Anezi
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