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Quando o caminho atravessa o vale

Amigos,

Mais cedo ou mais tarde, o caminho de todos nós atravessa um vale. É um lugar escuro, sombrio, onde as respostas somem, a luz parece não chegar e o medo se torna nosso companheiro. Seja na dor de uma doença, em um dilema emocional ou na angústia de uma perda, todos nós sabemos o que é caminhar por esse vale.

E, no meio da escuridão, a pergunta que a alma grita é quase sempre a mesma: “Por quê?”.

Se não tomamos cuidado, essa pergunta nos leva a um labirinto de culpa. Começamos a vasculhar nosso passado, procurando um erro que justifique a dor, o que quase sempre nos leva a um desânimo que nos paralisa.

É para o nosso coração, perdido e aflito nesse vale, que a voz do salmista Davi ecoa como a mais poderosa das promessas:

“Ainda que eu ande por um vale escuro como a morte, não terei medo de nada. Pois tu, ó Senhor Deus, estás comigo; tu me proteges e me diriges.” (Salmo 23.4)

Perceba a beleza radical dessa declaração. A promessa de Davi não é que não haverá vale. A promessa é que não estaremos sozinhos no vale. A razão para não temer não é a ausência do mal, mas a presença do Bom Pastor.

Essa presença de Deus conosco muda a nossa perspectiva sobre o próprio sofrimento. Ao contrário do que algumas teologias ensinam, o Evangelho não promete uma vida livre de problemas. A fé não é um amuleto que nos isenta da dor que é comum a toda a humanidade neste mundo quebrado.

Pelo contrário, a Bíblia nos ensina que o sofrimento, quando visto pela ótica de Deus, pode ser um instrumento de crescimento e santificação. É na fraqueza que o poder d’Ele se aperfeiçoa. É na provação que nossa fé é purificada como o ouro. Esta vida é a nossa escola, e as lições mais difíceis, muitas vezes, são as que mais nos moldam à imagem de Cristo.

Para nos ajudar a caminhar, Deus nos deu uma esperança que opera em dois tempos:

A nossa esperança para o agora é a presença e a vitória de Cristo. Ele nos avisou: “No mundo tereis aflições”. Mas, na mesma frase, Ele nos deu o antídoto: “mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João 16:33). Porque Ele venceu, podemos enfrentar a batalha de hoje com a Sua força, amparados pelo Seu consolo.

E a nossa esperança para a eternidade é a promessa de Cristo. A promessa de que o sofrimento tem um prazo de validade. Um dia, Ele “enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Apocalipse 21:4).

Enquanto esse dia não chega, nós caminhamos. E, às vezes, o caminho atravessa o vale. Mas não caminhamos em direção à escuridão, e sim em direção à aurora. Não caminhamos sozinhos, mas ao lado do Pastor que nos protege e nos dirige, até o dia em que chegaremos ao lar.

Que esta seja a nossa oração:

Bondoso Deus e amado Pai! Ajuda-nos a confiar em Ti para lidar com nossas lutas e sofrimentos. Que, ao passar pela dor, possamos aprender o que Tu queres nos ensinar, e nos sentir aliviados ao saber que Tu estás do nosso lado. Ajuda-nos a não perder de vista a eternidade que tens preparada para nós, onde não haverá mais dor. Em nome de Jesus, amém!

Com carinho, 

Marlon Anezi


Se esta reflexão te trouxe consolo, salve-a para os dias difíceis. Qual promessa de Deus tem sido a sua luz nos vales escuros da sua vida?

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