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A alegria que convive com a lágrima

Haja o que houver, meus irmãos, alegrem-se no Senhor. Fp 3.1

                                    

Eu leio essa frase do apóstolo Paulo e, dependendo do dia, meu coração reage de formas diferentes. Em dias bons, com o céu azul e as coisas no lugar, é fácil concordar. Mas em dias de luta, de tristeza, de cansaço... essa ordem soa quase impossível, não é mesmo? Parece até uma negação da nossa dor.

Mas então eu me lembro de onde Paulo estava quando escreveu isso aos filipenses: não em um palácio ou em um retiro espiritual, mas em uma prisão. E essa informação muda tudo.

A alegria sobre a qual Paulo fala não tem nada a ver com a felicidade que o mundo vende. Não é a ausência de problemas. Pelo contrário, muitas vezes ela nasce e floresce justamente no meio deles. É a “perfeita contradição” da fé, como diz a canção do Pe. Fábio de Melo: “na dor da peleja há luz, no riso tem lágrima”.

A vida cristã é cheia desses paradoxos. E talvez o maior deles seja este: é possível sentir alegria e tristeza ao mesmo tempo.

De onde Paulo tirava essa força? Como ele podia, preso e incerto do seu futuro, insistir tanto na alegria? Ele mesmo nos dá a chave em outra de suas cartas:

“... mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, o nosso homem interior se renova de dia em dia.” (2 Coríntios 4.16)

O segredo de Paulo não era uma negação da sua realidade sofrida, mas um foco em uma realidade mais profunda. Por fora, seu corpo se desgastava, suas circunstâncias eram terríveis. Mas por dentro, no lugar que só o Espírito de Deus pode tocar, ele estava sendo renovado, fortalecido, vivificado. A sua alegria não estava ancorada nas circunstâncias externas, mas na renovação interna.

E isso me liberta de uma tirania: a tirania de esperar o “momento perfeito” para me alegrar. Se eu esperar até que todos os problemas se resolvam, que todas as contas estejam pagas, que a saúde esteja perfeita e que ninguém que eu ame sofra... eu só viverei a alegria na eternidade.

O chamado do Evangelho é para nos alegrarmos agora, mesmo em meio às dificuldades. Não uma alegria falsa, com um sorriso forçado no rosto, mas uma confiança profunda que nos serve de luz e força para enfrentar a luta.

Isso só é possível porque a nossa alegria não depende da nossa força para vencer os problemas, mas da certeza de que Jesus já venceu o problema fundamental. Ele mesmo nos disse: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (João 16.33).

A alegria cristã não é um sentimento que temos que fabricar. É o descanso confiante na vitória de Cristo, uma vitória que nos sustenta mesmo quando nossos olhos naturais só enxergam a batalha. É a luz que brilha na peleja. É a paz que segura a nossa mão, mesmo enquanto a lágrima rola.

Com carinho, 

Marlon Anezi


Se esta reflexão te trouxe um novo olhar sobre a alegria, salve-a para os dias difíceis. E eu adoraria saber nos comentários: como você tem aprendido a encontrar a alegria de Deus mesmo quando as circunstâncias não são favoráveis?

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