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O fogo que purifica o ouro


Amigos,

Quando a provação chega — a notícia ruim, a dificuldade financeira, a dor da perda —, a primeira pergunta que brota no coração é quase sempre a mesma: “Por quê? Por que isso está acontecendo comigo?”

E, se não tomamos cuidado, essa pergunta nos leva a um labirinto escuro de culpa e especulação. Começamos a vasculhar nosso passado, a listar nossos erros, tentando encontrar em nossas próprias falhas uma razão para a nossa dor. É um caminho que quase sempre termina em desânimo e paralisia.

                          

É para esse coração aflito que o apóstolo Pedro escreve, oferecendo uma perspectiva que vira o jogo. Ele nos diz:

“Nisso vocês exultam, ainda que agora, por um pouco de tempo, devam ser entristecidos por todo tipo de provação. Assim acontece para que fique comprovado que a fé que vocês têm, muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado pelo fogo, é genuína...” (1 Pedro 1.6-7)

Pedro nos dá uma imagem poderosa: a nossa fé é como o ouro. E as provações? São o fogo.

O propósito do fogo, no processo de refino, não é destruir o ouro, mas purificá-lo. É queimar as impurezas, as escórias, tudo aquilo que não é precioso, para que o ouro puro possa brilhar com mais intensidade e valor.

É uma verdade dura de engolir, eu sei. Ninguém escolhe passar pelo fogo. Mas Pedro nos garante que a fé que sai desse processo é “muito mais valiosa do que o ouro”. Deus está fazendo algo eterno e precioso em nós, justamente através das dificuldades que acontecem ao nosso redor.

Isso nos leva a uma verdade profundamente consoladora, como nos lembra o teólogo Ênio Mueller:

Saber que Deus está por trás de tudo, sem dúvida, nos permite encarar tudo sob uma luz diferente. O renascido, o cristão, não está à mercê do destino, mas está resguardado no poder e na vontade de Deus.

Nossas vidas não são uma sucessão de acidentes. Não estamos à mercê de um destino cego ou do acaso. O cristão descansa na certeza de que, por trás de tudo, mesmo da dor que não compreendemos, está a mão soberana e boa de um Pai.

Podemos, então, pensar nesta vida como a nossa escola. Estamos aqui para aprender, para sermos moldados, para ter nossa fé purificada como o ouro.

E, em breve, a aula vai acabar. O Pai virá nos buscar para nos levar para o nosso verdadeiro lar. E lá, o fogo das provações dará lugar à glória, e a fé, já purificada, finalmente se transformará em visão.

Com carinho, 

Marlon Anezi


Se esta reflexão te trouxe um pouco de consolo, salve-a para os dias difíceis. E me conte nos comentários: como a imagem da fé sendo purificada como o ouro te ajuda a olhar para as suas lutas de uma forma diferente?

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