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A cruz e a loucura da salvação

A palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. 1Co 1.18

Nossa natureza pecaminosa não aceita facilmente a salvação pela graça. A salvação e conversão não acontecem por conta de alguma iniciativa nossa, como dizem os pelagianistas. Ou ainda, como os sinergistas, que entendem que após o ato de Deus existe nossa cooperação na obra redentora. A verdade que aprendemos através das Escrituras é que a salvação vem inteiramente de Deus, como um presente. Por meio da Lei, é que nós compreendemos que necessitamos de uma salvação que vem de fora de nós.

Como diz Mueller:

“A conversão, no seu verdadeiro sentido, não é outra coisa senão que uma pessoa, uma vez aterrorizada pela Lei em virtude dos seus pecados, é convertida em um crente em Cristo, confiando para sua salvação nas divinas promessas do Evangelho.”

O grande desafio do Apóstolo Paulo no seu tempo era lidar com algumas filosofias que rondavam a Igreja da época. O pensamento grego era contrastante em relação à mensagem da cruz e trazia certa confusão à mente dos crentes do século I na cidade de Corinto.

Para os gregos, a cruz era um grande escândalo, pois eles não acreditavam que a salvação pudesse vir através do ato de Jesus na cruz. Como Mueller explica na obra Dogmática Cristã, nossa natureza pecaminosa tende a se aproximar de uma concepção de salvação baseada em nossas próprias ações, em vez de simplesmente receber passivamente o ato salvífico de Cristo.

Quando Paulo fala que a cruz é loucura, ele está se referindo justamente a essa ideia. É louco pensar que a salvação possa vir dessa forma. Mas é exatamente assim que ela vem, e não cabe a nós, meros seres humanos, questionar ou tentar mudar isso para incluir nossos próprios méritos na obra da salvação. Deus é quem determina os meios pelos quais somos salvos, e se Ele escolheu salvar-nos através da cruz, então seja louvado porque Ele nos provê a salvação de graça através do amor incomparável de Cristo, demonstrado por nós.

A salvação é um ato de Deus. Ele realizou por nós o que não poderíamos ter realizado, se entregou como pagamento pelos nossos pecados. Atualmente, na pessoa do Espírito Santo, realiza a obra de conversão na vida daqueles que estão a perecer.

Por Marlon Anezi

Referência:

MUELLER, J. T. Dogmática Cristã. Porto Alegre: Concórdia, 2004.

 

 

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