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A loucura que nos salva

Amigos,

Vamos ser honestos por um instante. No fundo do nosso coração, todos nós gostamos da ideia de mérito. Se eu me esforçar, eu consigo. Se eu fizer o bem, serei recompensado. Se eu for uma boa pessoa, coisas boas acontecerão para mim. É a lógica do bom senso, a lógica que rege o nosso mundo.

E é exatamente por isso que a mensagem da cruz é, e sempre será, um escândalo.

O apóstolo Paulo não tentou adoçar a pílula. Ele disse com todas as letras, sem pedir desculpas:

“A palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.” (1 Coríntios 1.18)

Loucura. Por que uma palavra tão forte?

Porque a cruz vira a nossa lógica de mérito de cabeça para baixo. Ela é loucura para a nossa natureza orgulhosa, que sempre quer ter uma pequena participação na própria salvação. Nós sempre tentamos encontrar um jeito de “ajudar” a Deus, de “cooperar” com a nossa salvação, de colocar um pequeno tijolo nosso na construção.

Mas a Bíblia nos mostra um caminho diferente. Primeiro, ela nos apresenta a Lei. A Lei é como um espelho perfeito. Ela nos mostra a santidade de Deus e, em contraste, a nossa total incapacidade de alcançá-la. A Lei não nos dá uma escada para subirmos até Deus; ela nos mostra que nossa escada está quebrada e que estamos presos no fundo do poço.

E é aí, quando estamos no chão, aterrorizados pela Lei e conscientes da nossa falha, que o Evangelho chega como um remédio.

A conversão é exatamente este movimento: do pavor diante da nossa incapacidade para a confiança na promessa de Deus. É parar de olhar para nós mesmos e olhar para Cristo.

E essa é a “loucura” da cruz. A de que a salvação não tem nada a ver com o que nós fazemos, mas tem tudo a ver com o que recebemos passivamente pelo que Cristo fez. É um presente. De graça.

Não cabe a nós, com nossa lógica limitada, tentar “corrigir” o plano de Deus para torná-lo mais “sensato” aos nossos olhos. Se Deus escolheu nos salvar através da aparente fraqueza e do escândalo de um Messias crucificado, nossa única resposta é o louvor e a gratidão por um amor tão incompreensível.

Porque essa mensagem, que é loucura para o mundo, “para nós, que somos salvos, é o poder de Deus”.

A cruz não é um símbolo de uma falha trágica, mas a demonstração do poder supremo de Deus — o poder de perdoar o imperdoável, de redimir o irredimível e de dar vida onde havia apenas morte. É a sabedoria de Deus, disfarçada de loucura para confundir os sábios deste mundo.

Com carinho e gratidão, 

Marlon Anezi


Se esta reflexão te ajudou, salve-a. Como você tem aprendido a descansar na “loucura” da cruz, em vez de confiar em seus próprios méritos? Adoraria ler sua perspectiva nos comentários.

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