As consequências do pecado estão
presentes no mundo e podem ser vistas em todos os lugares. Enquanto muitos
acreditam que o mundo está evoluindo (sob certos aspectos, certamente está), a
Palavra de Deus nos apresenta um mundo que está regredindo, que se deteriora
cada vez mais, devido ao pecado e às suas consequências.
1. A involução como consequência do
pecado no mundo
As consequências do pecado estão
presentes no mundo e podem ser vistas em todo lugar. Enquanto muitos acreditam
que o mundo está evoluindo (sob certos aspectos, certamente está), a Palavra de
Deus nos apresenta um mundo que involui, que se deteriora cada vez mais, por
conta do pecado e suas consequências.
A transição do homem do Éden para
uma vida sob cansaço e perigos é um exemplo disso. Após muitos anos, uma
destruição total acontece por meio do Dilúvio, sendo uma família humana e um
casal de cada espécie animal poupados. Após essa tentativa de recriar a raça
humana para que multiplicasse a partir de uma família temente a Deus, o pecado
novamente cumpre o seu papel destruidor e a terra não demora muito a ter
problemas.
Na pós-modernidade, muito se fala
em evolução, porém, não precisamos pensar muito longe para ver como a ordem
natural das coisas em nosso mundo leva à degradação, à involução. Para
entendermos isso de uma forma mais prática, vamos explicar a lei da entropia.
A lei da entropia é um princípio da
termodinâmica que defende uma tendência à desorganização das moléculas em um
determinado sistema. Um exemplo de como ocorre a entropia é colocar uma
bicicleta na rua e deixá-la lá. Com o passar dos dias, ela irá pegar chuva,
sol, vento, poeira, etc. Em alguns meses, ela não vai evoluir, pelo contrário,
vai se degradar. O princípio da entropia nos ensina que a tendência é de que as
coisas piorem, de que tudo o que é matéria se deteriore sob o efeito da
natureza. O nosso mundo é formado de matéria, essa mesma sofre este efeito.
Nós mesmos ficamos mais velhos a
cada dia (e não conseguimos modificar isso), fazemos parte deste sistema que
nos leva a envelhecer e um dia morrer fisicamente. A explicação da Bíblia para
isso é: a morte em todos os seus aspectos é consequência do pecado. A
involução, o contrário de evolução, é apenas a estrada percorrida até a morte.
Primeiramente, estamos condenados à
esta morte porque Adão pecou, o conhecido pecado original. E depois, por causa
do pecado de Adão, todos já nascemos pecadores.
Nos nossos dias, o conceito de
pecado é refutado e ridicularizado na maioria das rodas de conversa, meios de
discussão científica e programas de televisão. Porém, não precisamos ir muito
longe em nosso pensamento para entendermos que há algo de errado com o mundo.
Veja esta constatação de Ferreira:
Se passarmos dez minutos assistindo
às notícias na televisão, ou lendo qualquer jornal das grandes cidades, será
suficiente para as pessoas com o mínimo de bom senso chegarem à conclusão de
que há algo tragicamente errado com o mundo. Guerras, fomes, enchentes,
genocídios, corrupção, opressão e exploração dos pobres, assassinatos e todo
tipo de injustiça e violência contra o ser humano parecem ser normais no
cotidiano.
Não é preciso olhar muito longe
para ver as consequências do pecado no mundo, elas estão presentes em toda
parte e em todas as pessoas.
2. Algumas verdades bíblicas sobre
o pecado
2.1. Todos estão condenados diante
de Deus. Rm 3.19
Esta é uma forte afirmação. Por
conta do pecado, estamos condenados em nossa própria justiça. Ou seja, ninguém
consegue atingir uma vida tão justa que possa, por sua própria justiça,
salvar-se. O Apóstolo Paulo diz em Romanos 3.19:
Ora, nós sabemos que tudo o que a
lei diz aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda boca esteja fechada e
todo o mundo seja condenável diante de Deus. (ARC)
Ninguém está apto a condenar
ninguém, por isso a expressão “para que toda boca esteja fechada”, pois todos
estão no mesmo barco: o barco dos pecadores que necessitam da graça que os
resgata da condenação.
2.2. Por não atingirmos a justiça perfeita, estamos sob maldição. Gl 3.10
Paulo afirmou aos Gálatas que é
“maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da
lei, para praticá-las.”
Observando os versos posteriores,
vs. 11 à 14, nós vemos Paulo explicando melhor essa questão, ele diz que não
devemos procurar salvar-nos pela prática da lei, pois quem assim o faz está sob
maldição."
Maldição é uma palavra forte, mas é
assim que Paulo se refere aos que estão sob a justiça da lei, ou que procuram
pela justiça da lei realizarem a obra de Deus. O que devemos observar aqui,
dentro do contexto deste estudo, é que existe uma maldição em todos os que
tentam se salvar pela lei; porque não conseguem se salvar pela lei. A Bíblia
diz que a nossa justiça humana se assemelha a trapos de imundícia (Is 64.6), e
isso nos torna inaptos a alcançar a salvação pela nossa tentativa de obedecer
aos mandamentos de Deus.
2.3 O salário do pecado é a morte.
Rm 6.23
Deus é quem define qual é a
condenação por conta do pecado. Em Rm 6.23, o Apóstolo Paulo diz que "o
salário do pecado é a morte".
O nosso mundo, por sofrer as
consequências do pecado, está condenado a um salário que não é nada agradável:
a morte. Morte em todas as instâncias, assim como aconteceu logo após o
primeiro pecado no jardim do Éden. Deus afirmou que no dia em que Adão ou Eva
comessem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, certamente
morreriam. (Gn 2.17)
A pergunta é: eles morreram no
momento ou no dia em que comeram? Depende do ponto de vista. Na perspectiva
ensinada por Mueller, ele afirma que sim, a morte ocorre imediatamente após o
ato pecaminoso. Mas, a Bíblia não afirma que eles viveram por mais tantos anos,
e tiveram filhos? Sim, viveram, porém já estavam mortos.
As consequências do pecado nos
fazem morrer em três instâncias: espiritual, temporal e eterna.
A condenação de Adão e Eva se
estendeu a todas as pessoas, como explica Paulo:
Portanto, assim como o pecado
entrou no mundo por um só homem, e através do pecado a morte, assim também a
morte passou a todos os homens, porque todos pecaram. (Rm 5.12, ARA)
2.4. Após o pecado, a descendência
de Adão não recebe a imagem divina pelo nascimento. Gn 5.3
Para o teólogo Mueller, a morte
espiritual é além do distanciamento de Deus, devido ao pecado, é a perda da
imagem divina no sentido restrito. Em Gn 5.1, a palavra de Deus afirma que Adão
foi criado à imagem e semelhança de Deus. Então Adão viveu 130 anos e gerou
Sete à sua imagem e semelhança, conforme expõe Gênesis 5.3.
Após Adão, Deus não imprimiu mais
sua imagem e semelhança no homem (no sentido restrito). Recebemos a imagem de
nossos pais.
Porém, Jesus veio à Terra e não foi
criado como Adão, à imagem e semelhança de Deus. Ele foi gerado e sempre
existiu, sendo Ele próprio Deus. Jesus resgata em nós esta imagem e semelhança
de Deus que havíamos perdido, ou seja, é através de Jesus que saímos da morte
espiritual para a vida espiritual.
Adão e Eva estavam mortos
espiritualmente, afastados de Deus. "E chamou Deus ao homem e lhe
perguntou: Onde estás?" (Gn 3.9) Estavam mortos temporalmente, porque
agora estavam vulneráveis à dor e doenças, lágrimas e tristeza, vivendo a
possibilidade dos perigos e da fome, caso Adão não trabalhasse e protegesse sua
família. (Gn 3.16-19) E Adão e Eva estavam condenados à morte eterna, a qual
não passaram no mesmo dia em que comeram do fruto, pois estava nos planos de
Deus salvá-los.
2.5 A condenação principal é a
morte eterna. 2Ts 1.9
Paulo falava a respeito daqueles
que perseguiam a Igreja, causando sofrimento e tribulação àqueles que viviam o
evangelho de Cristo. E ele então fala sobre a condenação que viria sobre estas
pessoas:
Estes sofrerão penalidade de eterna
destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder, quando vier
para ser glorificado nos seus santos. (2Ts 1.9)
Somos pecadores, e automaticamente
condenados por isso, pois nascemos com a imagem de Adão.
Porém, pela salvação trazida por
Cristo podemos não mais estar debaixo desta maldição ou condenação do pecado.
Como ocorrerá a morte eterna? A
pessoa vai ficar para sempre queimando no inferno, ou será destruída e
não-existirá mais eternamente? Este já é o tema que daria um outro estudo, pois
é bem complexo, então vou deixar esta questão em aberto para você ir refletindo
a respeito.
2.6. A promessa de salvação existe
para todos, assim como a condenação por meio do pecado. Rm 5.12
Todos, sem exceção, pecaram. Muitos
se perguntam: por que eu tenho que pagar pelo que Adão fez? A resposta é
simples: porque você também já pecou.
Assim como por um só homem entrou o
pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os
homens, porque todos pecaram. (Rm 5.12, ARA)
Todos estão condenados porque
pecaram. Adão nos trouxe essa natureza caída, mas nós temos responsabilidade
por absolutamente tudo o que fazemos diante de Deus, e mesmo que quiséssemos,
não conseguiríamos viver uma vida inteira sem pecar nenhuma vez. A culpa pelo
meu pecado é minha, mas Adão não nos ajudou, pois trouxe o pecado para este
mundo.
E assim como o mundo foi
contaminado por completo com as consequências do pecado, Deus, em Jesus, veio
"contaminar" o mundo por completo com a Sua promessa de salvação, por
meio do evangelho.
[...] se, pela ofensa de um só,
morreram muitos, muito mais a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem,
Jesus Cristo, foram abundantes sobre muitos. (Rm 5.15)
2.7. A promessa de salvação por
meio da graça é tão abundante quanto a condenação pelo pecado. Rm 5.17
A promessa de Deus para a salvação
tem tanto poder quanto a condenação à morte trazida pelo pecado.
Se pela ofensa de um só, reinou a
morte, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça
reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo. Pois assim como, por
uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim
também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a
justificação que dá vida. (Rm 5.17,18)
A graça está disponível a todos. A
salvação foi comprada por um único ato de justiça. Adão comprou a morte para
todos nós e nos presenteou com ela, mas Jesus comprou a vida e nos deu de
presente. Ao morrer na cruz e ressuscitar ao terceiro dia, Cristo nos deu a
possibilidade de vida.
No final das contas, a salvação em
Cristo também é uma consequência do pecado. Se não houvesse pecado, ele não
teria que vir à terra morrer em nosso lugar e muito menos nos presentear com a
sua abundante graça que cobre a multidão de pecados da terra.
Antes falei a respeito da lei. A
lei traz a ofensa, porque se não soubéssemos pela lei que estávamos pecando,
não estaríamos pecando. A lei nos trouxe o conhecimento do pecado, sendo o
pecado, a transgressão da lei.
Paulo diz que:
Onde abundou o pecado, superabundou
a graça. A fim de que, assim como o pecado reinou pela morte, assim também a
graça reinasse pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso
Senhor. (Rm 5.20,21, ARA)
Muitos pensam que esses versículos
significam que podemos viver uma vida pecando sem restrições, pois a graça
superabundou sobre o pecado, o que implica perdão incondicional.
Porém, o propósito do texto é
afirmar a grandiosidade da promessa de salvação, que é maior do que a
condenação pelo pecado. Ou seja, o presente de Cristo, a vida nele, é maior e
nos alcança de maneira mais eficaz do que o presente de Adão, a morte eterna
por meio da natureza pecaminosa.
Esta promessa da vinda de Cristo
foi dada logo após o pecado acontecer. Muitos acreditaram nesta promessa antes
da primeira vinda de Cristo e receberam salvação através dela. Gênesis 3.15
profetiza o nascimento de Cristo, que viria para ferir a cabeça da serpente, ou
seja, para pisar sobre a cabeça do inimigo das almas, Satanás, frustrando seus
planos.
2.8 Muitos negam os castigos
temporais e eternos relacionados ao pecado. Rm 1.32
Em Rm 1.28 a 32, Paulo descreve
vários tipos de pecado e como Deus entregou as pessoas que cometem esses
pecados a uma disposição mental reprovável, devido a essas pessoas terem
desprezado o conhecimento sobre Ele. Segundo o Apóstolo, essas pessoas sabem da
sentença de Deus para com suas práticas, incluindo a respeito da morte eterna,
mas continuam a proceder da mesma forma e dão sua aprovação para aqueles que
procedem da mesma forma.
Não há dúvida de que os textos de
Paulo escritos no século I continuam aplicáveis até hoje, principalmente devido
a tantas ideologias que reprimem o conhecimento de Deus e fazem com que o
padrão de comportamento que intensifica o pecado seja considerado apropriado
para a maioria das pessoas.
No entanto, a consciência dos
homens acusa-os sobre o que é certo ou errado, pois, mesmo sem conhecer a lei,
eles podem seguir sua própria lei. (Rm 2.14) Os castigos pelo pecado existem
independentemente de as pessoas ignorarem a existência desses castigos.
Por isso, Jesus enfatizou isso tão
claramente quando disse:
[...] se a tua mão te faz tropeçar,
corta-a; pois é melhor entrares maneta na vida do que, tendo as duas mãos, ires
para o inferno, para o fogo inextinguível. (Mc 9.43)
Em seguida, Cristo faz a mesma
recomendação em relação aos pés e olhos.
A hipérbole que Jesus apresenta é
uma tentativa de mostrar quão terrível é a condenação eterna, e que a obtenção
da vida eterna é mais importante do que ter todas as partes do corpo em
perfeita condição. Não é uma ordem expressa para a automutilação, mas uma forma
de nos fazer entender que receber a morte eterna é pior do que qualquer dor ou
privação que possamos passar nesta vida.
2.9. O sofrimento dos crentes nesta
vida são correções paternais. 1 Co 11.32
Em 1Co 11.32, Paulo diz que:
[...] somos disciplinados pelo
Senhor, para não sermos condenados com o mundo.
A vida em Deus requer estar pronto
para ser disciplinado, corrigido e exortado. Estamos sempre reendireitando
nossa rota, e devemos prosseguir assim até que Jesus volte ou sejamos chamados
para o lar eterno. Mas até lá, necessitaremos passar por esta obra
transformadora de Deus em nós, e por vezes esta obra nos causa algum
sofrimento.
É só pensarmos em nossa vida,
quantas coisas tivemos que passar para nos tornarmos quem somos hoje. Para
crescer, você precisou ser corrigido e precisou também passar por algumas
situações adversas para aprender algumas lições. Sim, situações que doeram em
você certamente, mas você precisou passar por elas para aprender algo que
carrega até hoje.
Deus, como um pai, nos corrige e
também permite que certas coisas nos aconteçam. Mesmo que seja muito duro
passar por certos sofrimentos, devemos confiar que Deus sabe o porquê passamos
por eles, não precisamos entendê-los como uma condenação da parte d'Ele, mas
sempre como uma maneira de Deus nos ensinar alguma coisa.
No Salmo 94.12, o salmista diz:
"Bem-aventurado o homem, Senhor, a quem tu repreendes." Hebreus 12.6
afirma que o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe.
"Que maneira de amar um filho, açoitando-o" você deve pensar. Mais
adiante, o autor da epístola diz que os nossos pais segundo a carne nos
corrigiam e respeitávamos eles. Quanto mais não devemos maior submissão ao
nosso Pai espiritual, que é Deus? E aqui entra uma verdade muito interessante:
Pois eles nos corrigiam por pouco
tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina para
aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade (Hb 12.10, ARA).
Deus nos disciplina com um objetivo. Este propósito é de que nos tornemos
participantes da Sua santidade e recebamos o Seu caráter em nós. Em Apocalipse
3.19 também está escrito: "Eu repreendo e disciplino a quantos amo."
Mueller diferencia o sofrimento dos cristãos com o dos não-cristãos, e conclui
que apesar de possuírem a mesma forma de castigo: um representa a ira divina
sob os ímpios, enquanto o castigo dos crentes seria como diz Lutero:
"castigo gracioso."
2.10. Em Jesus há salvação. Rm 5.17
Pelo guardar ou obedecer à lei
ninguém será salvo. O propósito da lei é o conhecimento do pecado, não é salvar
o ser humano do pecado. A única justiça que pode salvar o homem das
consequências do pecado é a de Cristo. Ou seja, em Cristo estamos salvos.
Porque, se pela ofensa de um só, a
morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça e do dom
da justiça reinarão em vida por um só, Jesus Cristo. (Rm 5.17, ARC)
Concluindo, as consequências do
pecado estão presentes no mundo de diversas formas, e diretamente em nossas
vidas, o único que pode nos livrar dos efeitos do pecado no mundo é o próprio
Cristo, que estabelece uma aliança com o homem lhe dando a oportunidade de
viver espiritualmente e eternamente.
Encerro com estes dois versos:
Eu vim para que tenham vida e a
tenham em abundância. (Jo 10.10)
[...] sem mim vocês não podem fazer
coisa alguma. (Jo 15.5b)
Por Marlon Anezi
Referência:
MUELLER, J. T. Dogmática Cristã.
Porto Alegre: Concórdia, 2004.
Comentários
Postar um comentário