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Por que sofremos?

Primeiramente, porque sofremos as consequências do pecado no mundo. Estamos no mundo e, consequentemente, vulneráveis àquilo ao qual o mundo está vulnerável. E aqui não falo sobre mundo na definição moral de mundo, aquela que contrapõe mundo e Igreja, mas me refiro ao mundo enquanto criação de Deus, o planeta Terra e toda sua estrutura.

Os males presentes no mundo são muitos: morte, violência, corrupção, desastres naturais, desequilíbrio ambiental, perigos dos mais diversos decorrentes das três principais consequências do pecado: morte eterna, morte física e morte espiritual.

A morte eterna significa que após o pecado, o homem está eternamente separado de seu Criador. A morte física diz respeito à morte que todos passamos nesta vida, a morte do corpo físico. E a morte espiritual diz respeito à perda da imagem divina no homem, a descendência de Adão não carrega a imagem e semelhança de Deus no seu sentido restrito, que diz respeito à vida espiritual que antes do pecado possuía. Após o pecado, não há vida espiritual e sim morte espiritual.

A solução para todas as consequências do pecado está na redenção trazida por Jesus. Ele nos devolveu a oportunidade de viver eternamente ao lado de nosso Criador, nos devolveu a chance de ressurreição após a morte física, e nos devolveu a imagem de Deus em nós, agora temos vida espiritual novamente. Mas, se recebemos tudo isso, por que ainda sofremos? Porque a maioria destes benefícios ainda não são experimentados em sua plenitude. Na volta de Jesus, o mal chegará ao seu fim, a morte chegará ao seu fim, assim como a dor e as lágrimas.

Será que quanto mais pecamos, mais sofremos? Não é isso que aprendemos lendo o livro de Jó, o homem mais íntegro da terra foi provado terrivelmente e não compreendia seu sofrimento, pois seus amigos o acusavam de ter feito algo terrível para estar passando pelo que passava. Em uma das curas de Jesus, Ele é questionado pelos discípulos sobre quem havia pecado para que aquele homem tivesse nascido cego, se fora ele ou seus pais. E Jesus categoricamente responde: “Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus.” (João 9.3) De alguma forma, Deus se manifesta através do sofrimento humano, Sua graça opera na nossa deficiência. Jesus diz que os sãos não precisam de médico, Paulo afirma que quando fraco é que é forte. É no vazio do coração humano que Deus se manifesta, pois só é possível preencher um coração vazio. Só é possível dar água àquele que dela necessita e dela tem sede. Assim, no sofrimento nos tornamos sedentos das obras de Deus que vem ao nosso resgate e nos libertam.

Jó é liberto da sua carga pesada de sofrimento e no final daquela provação recebe o dobro de tudo que tinha. O cego de nascença sofreu por longos períodos de sua vida, mas assim como muitos outros que encontraram com Cristo, recebeu a cura dos seus males. Deus ainda se manifesta no sofrimento dos Seus filhos, Ele ainda trabalha nos bastidores para preencher os vazios e no tempo certo nos libertar das adversidades. Isto não significa que num passe de mágica a vida passa a ser perfeita, enquanto estivermos neste mundo teremos problemas. Esta é a teologia da cruz, seguimos Jesus e encontramos vida levando a cruz. Há ainda uma outra resposta para a pergunta: “quanto mais pecamos, mais sofremos?” Sofremos as consequências de nossos maus atos. Então sim, sofremos consequências dos nossos pecados e erros de qualquer tipo. Não porque Deus estará nos castigando, mas porque nossas ações geram resultados, consequências. Mesmo que se peça perdão e Deus perdoe, as consequências continuarão existindo a menos que por graça, Deus as remova. Mas do contrário, a prática do pecado conduz a vida ao sofrimento, um sofrimento que é cavado com as próprias mãos.

Em suma, sofremos por causa do pecado presente no mundo, que nos faz entrar em contato com o sofrimento. Através do nosso sofrimento, as obras de Deus podem se manifestar e Ele é glorificado. A verdade de que não somos nada e Ele é tudo fica evidente através da ação de Deus em meio ao nosso sofrimento. Ou seja, como diria CS Lewis, “o sofrimento é o megafone de Deus.” Ele é um promulgador da verdade, tão bom quanto qualquer um de nós que fala com palavras, o sofrimento fala com fatos e manifestações inegáveis de Deus em nosso meio. E ainda em uma terceira compreensão, sofremos as consequências de nossos atos.

Deus não é o responsável por nenhum tipo de sofrimento. Nós sofremos as consequências do que Adão fez lá atrás, no início deste mundo. E sofremos as consequências dos nossos pecados. O próprio pecado, tanto o de Adão como o nosso, por nos separar de Deus é capaz de tornar os nossos problemas uma bola de neve e nos cobrar uma conta altíssima. Não é necessário que Deus nos castigue ou tome alguma atitude diante do nosso erro para que venhamos a sofrer. Há como fugir do sofrimento ou deixar de sofrer? Não, porque não estamos livres da ação do pecado no mundo. E mesmo justificados, apesar de não mais escravos do pecado, continuamos a pecar. Mesmo que você diga que não vai mais pecar, isso não depende de você, porque pecamos mesmo que involuntariamente. O sofrimento só terá o seu fim quando, na volta de Jesus, Ele acabar com a existência do pecado por completo no universo.

Por Marlon Anezi

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