Hoje quero conversar sobre uma pergunta que parece um nó na cabeça de todo cristão: se eu fui salvo e justificado por Cristo, por que eu ainda peco? Eu ainda sou um pecador aos olhos de Deus?
É uma daquelas questões que nos deixam confusos, porque a própria Bíblia parece nos dar duas respostas diferentes.
De um lado, a voz da nossa experiência diária, e a do apóstolo Paulo, nos diz com honestidade: “Sim, claro que você ainda é pecador”. Paulo, mesmo depois de anos de ministério, se considerava o “pior dos pecadores” (1 Timóteo 1.15). Nós olhamos para nossas próprias vidas e vemos essa mesma verdade: os pensamentos, palavras e atos que nos mostram que a velha natureza ainda está aqui.
Do outro lado, ouvimos a voz do apóstolo João nos garantindo que “todo aquele que é nascido de Deus não pratica o pecado” (1 João 3.9). Esta voz nos fala de uma nova identidade, de uma ruptura fundamental com o nosso passado.
Então, quem está certo? Paulo ou João?
A resposta libertadora é: os dois. E a chave para desfazer esse nó nos foi dada pelo reformador Martinho Lutero, em uma famosa frase em latim que resume perfeitamente a nossa realidade: simul justus et peccator.
Significa: simultaneamente justo e pecador.
Gosto de pensar nisso como uma espécie de dupla cidadania.
Por um lado, por causa da nossa velha natureza, nossa herança de Adão, nós ainda temos uma “cidadania terrena”. Somos pecadores. Essa natureza ainda mora em nós, nos puxando para o erro e nos lembrando que a obra de santificação ainda não terminou.
Mas, ao mesmo tempo, pela fé em Cristo, nós recebemos uma nova e definitiva “cidadania celestial”. Diante de Deus, por causa do sacrifício perfeito de Jesus, fomos declarados 100% justos. Essa é a nossa verdadeira identidade, o nosso passaporte para o céu, carimbado com o sangue do Cordeiro.
E por que essa verdade da “dupla cidadania” é a notícia mais libertadora que um cristão pode ouvir?
Ela nos livra do desespero. Quando pecamos, não precisamos achar que perdemos nossa salvação ou que Deus deixou de nos amar. Nossa identidade de “justo” em Cristo é o nosso status oficial e permanente, e não depende da nossa performance do dia.
Ela nos livra do orgulho. Ao mesmo tempo, a consciência de que ainda somos “pecadores” em nossa natureza nos impede de cair na arrogância de achar que já somos perfeitos. Ela nos mantém humildes, de joelhos, dependendo da graça e do perdão de Deus a cada novo dia.
A diferença entre ser apenas um “pecador” e ser um “pecador justificado” é a diferença entre ser um órfão perdido e ser um filho amado que, às vezes, tropeça.
Para o pecador justificado, o pecado não é mais o seu senhor. A culpa não tem mais a palavra final. E o Juiz de todo o universo não é mais um acusador temível, mas um Pai que nos acolhe, nos disciplina em amor e nos ajuda a levantar.
Então, sim, nós ainda pecamos. Mas, como dizia um velho teólogo, essa verdade é agora um “detalhe ínfimo”, completamente ofuscada pela gloriosa realidade de que, em Cristo, fomos feitos justiça de Deus.
Com carinho,
Marlon Anezi
Se esta reflexão sobre a nossa “dupla cidadania” te trouxe paz, salve-a. Como essa verdade de ser “justo e pecador” ao mesmo tempo te ajuda a lidar com suas lutas diárias? Adoraria ler sua perspectiva nos comentários.
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