Há quem diga que sim, continuamos sendo pecadores, e há quem diga que não somos mais pecadores a partir da justificação. A resposta para esta questão é um pouco mais complexa do que apenas dizer sim ou não Isso se deve aos diferentes sentidos da palavra pecador.
No sentido amplo do termo, todos somos pecadores, pois assim nascemos e até que sejamos glorificados, assim seremos, possuidores de uma velha natureza que nos leva, mesmo justificados, a cometer erros, pecar, seja em pensamentos, palavras, ações ou omissões. Mesmo após a justificativa, esta realidade continua fazendo parte de nossas vidas e, por isso, precisamos de perdão, não apenas no momento em que aceitamos por Cristo fomos remidos, mas igualmente durante toda a nossa vida ao lado de Cristo. Paulo se declarou em 1Tm 1.15 como o pior dos pecadores, e ele não falou isso a respeito do passado, quando não conheceu a Cristo, mas no tempo presente, após já ter sido justificado.
Porém, o apóstolo João fala que “todo aquele que nele permanece não está no pecado”. E mais adiante afirma que “todo aquele que é nascido de Deus não pratica o pecado, porque a semente de Deus permanece nele” (1Jo 3.6,9). Este é o sentido restrito do termo, o discípulo amado está delimitando uma mudança em nossa relação com o pecado, pois a partir da justificação não somos mais escravos do pecado, não somos mais praticantes do pecado. O pecado não é mais o nosso senhor. O pecado não impede mais a nossa comunhão com Deus. Ele não nos domina mais, ou seja, não carrega mais poder sobre nós, pois agora em Cristo somos nova criatura. Dentro desta perspectiva, a nossa identidade pecadora é substituída pela identidade cristã, somos chamados justos por causa e por amor de Cristo Isso não significa que nunca mais iremos pecar, mas sim que nossa tendência para o pecado está subjugada pela imagem dei, que é a imagem de Deus em nós.
Se unirmos o sentido amplo ao sentido restrito, iremos nos deparar com a nossa realidade: somos simultaneamente justos e pecadores. Lutero foi quem disse a famosa frase, "simul justus et peccator" que significa simultaneamente justo e pecador. No sentido amplo, somos pecadores, pois é a nossa velha natureza; e no sentido restrito, justos, pois esta é a nossa nova identidade em Cristo. Em Cristo há o resgate da imagem de Deus em nós, não ainda de forma completa, mas parcial. Por isso, não podemos nos afirmar apenas como justos, pois a velha criatura ainda mora em nós e volta e meia tenta tomar o lugar da nova criatura. Mas a força do novo homem é Cristo Jesus, que não permite que a nossa natureza pecaminosa volte a dominar sobre as nossas vontades, desejos, razão e emoção.
Uma boa notícia para quem já foi justificado por fé é que não é mais apenas pecador, há diferença entre ser pecador em todos os sentidos e ser um pecador por natureza, no sentido amplo apenas. O pecador em todos os sentidos está perdido, vive sob a culpa do pecado, o pecador, apenas no sentido amplo, que já foi feito simultaneamente justo, tem a justiça de Cristo trabalhando por ele, o Espírito Santo como seu auxílio na luta contra o pecado e consolo nas horas complicadas da vida, e pode simplesmente chamar o Deus Pai de seu pai, porque a partir de Cristo somos aceitos como filhos. Aquele que um dia julgará as nações não é mais simplesmente um juiz para aquele que foi justificado, pois Ele nos adotou como filhos.
Somos pecadores após a justificação? Sim, mas isso é um
detalhe ínfimo, pois enquanto ainda não somos perfeitos, vivemos sob a tutela
de um Deus que nos tornou justos por causa daquilo que Ele fez por nós e não do
que qualquer um de nós fez.
Por Marlon Anezi
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