“As pessoas só entendem o que elas querem”. A gente costuma dizer isso sobre os outros, não é mesmo? Vemos isso em discussões, em debates, na forma como as notícias são distorcidas. É fácil apontar como os outros fecham os ouvidos para a verdade.
Mas, e se essa frase também for verdade sobre a forma como nós ouvimos a Deus?
Tem uma passagem em que Jesus, com uma honestidade cortante, descreve exatamente essa condição. Ele diz, citando o profeta Isaías:
“Porque o coração deste povo está endurecido, de mau grado ouviram com os ouvidos e fecharam os olhos; para não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração, se convertam e sejam por mim curados.” (Mateus 13.15)
Pense nisso. Jesus não diz que as pessoas não entendem porque a mensagem é complicada. Ele diz que elas fecham os olhos e os ouvidos. É um ato deliberado.
E por que faríamos isso? Por que nos recusaríamos a ouvir a voz do próprio Deus?
Acho que, no fundo, fazemos isso porque a verdade, muitas vezes, dói. Assim como colocamos açúcar no suco de limão para torná-lo menos azedo, nós tentamos adoçar a Palavra de Deus para que ela não nos confronte tanto. Nós distorcemos o que ouvimos para justificar o que queremos continuar fazendo. Vemos isso nos fariseus, que ouviam Jesus não para aprender, mas para encontrar uma falha, uma brecha, uma desculpa para rejeitá-Lo.
Mas Jesus vai ainda mais fundo. Ele revela o motivo final para fecharmos os ouvidos: para que não sejamos... curados.
À primeira vista, isso soa absurdo. Quem não quer ser curado?
Mas pense na cura como uma cirurgia. Ninguém gosta de receber um diagnóstico ruim. Ninguém anseia pelo desconforto do procedimento, mesmo que ele seja para o nosso bem. A Palavra de Deus, muitas vezes, funciona como um exame de imagem. A Lei divina expõe a nossa doença, o nosso pecado, as áreas de nossa vida que precisam de uma intervenção cirúrgica. E o nosso primeiro instinto, muitas vezes, é fugir do diagnóstico, porque temos medo do bisturi do tratamento.
Nós nos esquecemos do coração do Médico.
As palavras de Jesus, mesmo as mais duras, nunca foram para condenar, mas para diagnosticar. A intenção d’Ele sempre foi nos levar ao Evangelho, à sala de recuperação, onde Ele nos oferece a cura através do perdão, da graça e da misericórdia. O exame doloroso da Lei tem como único objetivo nos fazer desejar o remédio doce do Evangelho.
O nosso coração, por natureza, não é um solo fofo e fértil. A Bíblia diz que ele é “enganoso”. Por nós mesmos, sempre vamos nos defender da verdade que nos expõe.
A única atitude que nos resta, então, é a do doente que finalmente admite que está doente e que precisa de um Salvador. É chegar diante de Deus e orar: “Senhor, meu coração é terra batida. Minha audição é seletiva. Por favor, quebra a dureza. Tira a minha arrogância, a minha atitude defensiva, e me dá um coração humilde, pronto para receber a Tua Palavra, mesmo a que dói. Eu quero ser curado.”
Quando fazemos isso, a Palavra deixa de ser uma ameaça e se torna o que ela sempre foi: a voz do Médico que nos ama e quer nos ver sãos.
Com carinho,
Marlon Anezi
Se esta reflexão te tocou, salve-a. E eu te convido a se perguntar, como eu me pergunto: qual verdade de Deus eu tenho evitado ouvir ultimamente, por medo do que ela poderia curar em mim?
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