O autor da epístola aos Hebreus recorre a fórmulas incomparáveis para proclamar a transcendência de Cristo e, ao mesmo tempo, expressa com realismo a extrema solidariedade que une Jesus a "seus irmãos", nós, seres humanos. A epístola nos traz a perspectiva de que coloca Cristo como o centro; o motivo pelo qual todas as coisas acontecem. Ele está acima delas, tendo o poder de criá-las, bem como de desfazê-las e, ainda, recriá-las se assim quiser. Inclusive, os grandes questionamentos, como Deus pôde se tornar homem? Ou até mesmo, como pôde ser Deus e homem ao mesmo tempo? Não fazem sentido ao compreendermos o poder ilimitado de Deus, o qual faz e desfaz o que bem entende apenas pela Sua Palavra.
A humanidade de Cristo em Hebreus
A respeito da humanidade de Cristo, encontramos um texto
muito oportuno na epístola aos Hebreus que vale a pena ser citado: “Pois ele,
evidentemente, não socorre anjos, mas socorre a descendência de Abraão. Por
isso mesmo, era conveniente que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos
seus irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas
referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo. Pois, naquilo
que Ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são
tentados.” (Hb 2.16-18) Jesus, o verdadeiro homem, passou pelas mesmas
dificuldades que nós passamos em nossa vida. Para compreender melhor os
aspectos humanos de Cristo e o porquê Ele veio se tornar humano em nosso lugar,
vale a pena conferir o Capítulo 2 de Hebreus na íntegra.
A divindade de Cristo em Hebreus
A respeito da divindade de Cristo, temos em Hebreus uma
referência à superioridade de Cristo em relação a qualquer "tipo" ou
figura que possa tê-lo representado no Antigo Testamento. Contudo, vou me deter
a um ponto para elucidar de maneira clara esta questão. O autor de Hebreus nos
fala de Cristo como sumo sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque.
A Bíblia na Nova Tradução Linguagem de Hoje (NTLH), em
muitas passagens de Hebreus, iguala a importância de Cristo à de Melquisedeque
com a expressão "tipo de Melquisedeque". A Bíblia Almeida Revista e
Atualizada utiliza a expressão "segundo a ordem de Melquisedeque", o
que, para muitos teólogos em estudos recentes, evidencia o fato de que Cristo e
Melquisedeque são a mesma pessoa.
Pfeiffer aprofunda a questão quando diz que: "Jesus não
era de Levi, mas de Judá. Isto o exclui da ordem dos sacerdotes sob a Lei. Sua
humanidade o relacionava com a tribo de Judá, e, portanto, Ele não era
qualificado no plano humano para servir no altar como sacerdote, pois Moisés
não pronunciou nenhuma palavra concedendo autoridade ou função sacerdotal a
Judá."
Das tribos de Israel, a única que foi designada para possuir
sacerdotes era a de Levi. Como Jesus era da tribo de Judá, ele não estava
ligado a nenhum sacerdócio humano, de acordo com a ordem do sacerdócio de Levi.
A ordem de Melquisedeque, por sua vez, não fazia parte de nenhuma ordem humana,
pois não fazia parte das tribos de Israel.
Melquisedeque aparece em Gênesis 14.18 como um sacerdote de
Deus. Ele traz vinho e pão e abençoa Abraão, que na época se chamava Abrão.
Naquela ocasião, Abraão lhe dá o dízimo de tudo. O autor de Hebreus explica
(capítulo 7) que não há uma genealogia para Melquisedeque, não se sabe de onde
ele veio ou para onde foi.
Embora alguns intérpretes entendam que existam apenas
semelhanças entre Cristo e Melquisedeque, é o próprio Cristo quem aparece como
Melquisedeque para abençoar Abraão. O sacerdócio de Cristo e Melquisedeque não
pertence à ordem humana, segundo a tribo de Levi, mas sim à ordem divina.
Sacerdotes humanos que diariamente ofereciam sacrifícios,
primeiramente pelos próprios pecados, depois pelos do povo, pertenciam à ordem
de Levi. Porém, Cristo, ao oferecer a si próprio como sacrifício perfeito, de
uma vez por todas, pertence a uma ordem superior, a de Melquisedeque, a quem
Abraão deu o dízimo do que possuía (Gênesis 14.20).
Para uma melhor compreensão desta realidade, é recomendável
ler o capítulo 7 da Epístola aos Hebreus na íntegra. A comparação das
semelhanças entre Cristo e Melquisedeque é extensa e, aqui, foram apresentadas
apenas as que formam a base desta compreensão tipológica.
Concluindo, encontramos em Cristo tanto a divindade quanto a
humanidade na Epístola aos Hebreus. Como homem, passou por dificuldades e
tentações, mas ao mesmo tempo é Deus e é superior a todo aspecto e ministério
humano. Ele é quem fez e faz tudo, o cordeiro que se entrega e simultaneamente
o sumo sacerdote que faz o sacrifício e intercede pelo povo.
A epístola aos Hebreus nos ajuda a entender que o dito popular está certo quando diz: sem Deus não somos nada.
Por Marlon Anezi
Referências bibliográficas:
BÍBLIA, Português. A Bíblia Sagrada: Antigo e Novo Testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Edição rev. e atualizada no Brasil. Brasília: Sociedade Bíblia do Brasil, 1969.
BÍBLIA, Português. A BÍBLIA TEB. São Paulo: Paulinas e Loyola, 1995.
PFEIFFER, Charles. Comentário Bíblico Moody – vol. 2. Editora Batista Regular, 2010.
Comentários
Postar um comentário