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O Deus que entende a nossa dor

Amigos,

Se há um livro na Bíblia que me deixa de joelhos em admiração, é a carta aos Hebreus. Nenhum outro escrito, talvez, pinte um retrato tão majestoso e, ao mesmo tempo, tão intimamente reconfortante de quem é Jesus. É um livro que segura a nossa cabeça para que olhemos para a glória do Cristo transcendente e, ao mesmo tempo, coloca a mão em nosso ombro, nos lembrando que Ele entende a nossa dor.

A primeira verdade que Hebreus nos mostra é a humanidade de Jesus.

Às vezes, pensamos em Jesus de uma forma tão elevada que esquecemos que Ele se tornou um de nós. O autor de Hebreus nos lembra que Ele não veio para socorrer anjos, mas a nós, descendentes de Abraão. E, para fazer isso de forma genuína, era preciso que Ele se tornasse, “em todas as coisas, semelhante aos seus irmãos” (Hebreus 2.17).

Pense no que isso significa. Significa que Ele conhece o cansaço no fim de um dia longo. Ele conhece a pontada da tentação. Ele conhece a dor da perda e da traição. O autor nos diz que, justamente porque Ele mesmo sofreu e foi tentado, Ele é “poderoso para socorrer os que são tentados” (Hebreus 2.18).

Nosso Salvador não é um Deus distante que nos olha de cima com pena. Ele é um Deus que desceu, vestiu a nossa pele e caminhou em nossos sapatos. Ele entende.

Mas Hebreus não para por aí. Ele nos mostra a divindade de Jesus.

Ao mesmo tempo em que nos mostra um Jesus tão perto, o autor nos eleva para contemplar um Deus absolutamente superior a tudo e a todos. E, para fazer isso, ele nos leva a um dos encontros mais misteriosos do Antigo Testamento: a história de Melquisedeque.

A lógica é fascinante e bela:

  1. Os sacerdotes do Antigo Testamento, que ofereciam sacrifícios a Deus, eram da tribo de Levi. Mas Jesus era da tribo de Judá. Como, então, Ele poderia ser o nosso Sumo Sacerdote?

  2. A resposta do autor é: porque o sacerdócio de Jesus não pertence a uma ordem humana, falha e passageira. Ele pertence a uma ordem superior e eterna: a ordem de Melquisedeque, aquele sacerdote misterioso que abençoou o próprio Abraão e que aparece na Bíblia sem pai, sem mãe, sem genealogia, como uma figura do próprio Cristo.

O que isso nos ensina? Que o trabalho de Jesus por nós não é apenas uma versão melhorada do que os homens faziam. É algo de uma categoria completamente diferente: divino, perfeito e eterno.

A beleza que nos salva

E aqui está a beleza que a carta aos Hebreus nos revela, onde as duas verdades se encontram: Jesus é, ao mesmo tempo, o Cordeiro perfeito que é oferecido em sacrifício e o Sumo Sacerdote perfeito que oferece o sacrifício.

Por que isso importa tanto para nós? Porque, sendo plenamente homem, Ele pôde morrer em nosso lugar e hoje entende cada uma de nossas fraquezas. E, sendo plenamente Deus, Seu sacrifício foi suficiente para nos salvar para sempre, e hoje Ele tem todo o poder para nos ajudar.

A carta aos Hebreus nos deixa com essa certeza humilde e gloriosa: sem esse Deus-homem, nós realmente não seríamos nada. Nele, temos tudo.

Com carinho, 

Marlon Anezi


Se esta reflexão despertou sua curiosidade, eu te convido a fazer algo simples esta semana: leia os capítulos 2 e 7 de Hebreus. Deixe que essa imagem de Cristo, tão grande e tão perto, ministre ao seu coração. E, se quiser, me conte nos comentários o que mais te tocou.

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