Não somos salvos por realizarmos coisas boas, mas realizamos
coisas boas porque já fomos salvos. Entender essa afirmação é fundamental,
porque, caso contrário, invertemos completamente o modo como nos aproximamos da
prática do bem. A Teologia Católica destaca a salvação por meio das obras, algo
que deve ser alcançado por meio da caridade e fraternidade. Já na Reforma, o
retorno à exegese bíblica correta nos permitiu compreender que é a graça de
Deus que torna a salvação possível, através da fé. O apóstolo Paulo apresentou
essa verdade em Romanos 5, mas a Igreja Católica da época estava longe da
Palavra, imersa em mandamentos criados por homens. A venda de indulgências foi
o ápice de uma teologia separatista, meritocrática e totalmente afastada das
verdades de Deus.
Ao compreendermos que a salvação é o que nos faz agir em
boas obras, assim como manifestar o fruto do Espírito, também assimilamos
outra verdade: o que move as pessoas às boas obras não é a lei, e sim o
evangelho. Talvez você não compreenda tão bem essa distinção entre lei e
evangelho, por isso darei uma explicação sucinta.
A Bíblia contém em si lei e evangelho. A lei consiste
naquelas partes da Escritura que nos acusam, que nos demonstram que somos
pecadores, as partes que nos falam sobre algo que temos que fazer. Que na
verdade não nos trazem salvação, pois a salvação ocorre pela graça. O evangelho
consiste nas partes da Palavra que nos demonstram o amor de Deus, tudo o que
Ele fez, faz e fará por nós, o evangelho é a salvação através do Seu Filho
Jesus Cristo. Tanto a lei quanto o evangelho estão espalhados por toda a
Palavra de Deus: Antigo e Novo Testamento.
Retornando ao que estava sendo falado anteriormente, não é a
lei que nos move às boas obras, é o evangelho. Não é a ordem, é o que eu recebi
de Deus que de alguma forma me capacita a agir. Por isso, pouco adianta que se
busque o ativismo de uma comunidade cristã através das palavras de lei no
púlpito, procurando convencer sobre o que deve ser feito, muitas vezes se
utilizando até de manipulação e culpa para forjar a ação da Igreja. Quando, na
verdade, o evangelho ainda não penetrou nos corações verdadeiramente, a obra da
cruz ainda não foi de fato compreendida, aceita na vida daquele crente. O
Espírito Santo não o capacitou ainda de forma que as boas ações nasceram, sem a
necessidade de constantes repetições da lei. Não pense que apenas cristãos
iniciantes na fé precisam ouvir o evangelho do amor de Deus, todos precisam,
pois o nosso crescimento e o mover em boas obras só é saudável a partir do
evangelho, não a partir da lei. Quando falo sobre pessoas que não compreenderam
a obra da cruz não me refiro também a recém-nascidos na fé, me refiro a pessoas
que talvez tenham anos de Igreja, que já ouviram centenas de sermões, mas que a
salvação através de Jesus não as move à prática dos bons frutos da salvação. A
verdade é que a lei faz hoje na pregação de grande parte das Igrejas um papel
que é do evangelho, o evangelho que deveria impulsionar, a promessa de Deus de
vida eterna deveria impulsionar, o perdão imerecido deveria impulsionar, a
salvação conquistada na cruz deveria impulsionar. O que Ele fez deveria nos
levar além, não o que nós fazemos. Consegue entender a diferença? É através do
evangelho que crescemos, porque estamos debaixo da graça, não da lei. É por
meio daquilo que Ele fez que nossas ações são pautadas, que seguimos por um
lado e não pelo outro.
É somente n’Ele, por Ele e para Ele que algo de bom consegue
ser realizado através de nós.
Caso você tenha o costume de se motivar para agir através da
lei, comece a fazer este exercício de meditar constantemente no ato da cruz, na
salvação oferecida a você e a toda a humanidade. Deixe brotar em seu coração o
sentimento genuíno de gratidão por este descanso dado pelo Senhor a você, por
Ele ter te livrado da morte eterna. Ao meditar na cruz e na salvação dada a
você, automaticamente o Espírito fará este sentimento de gratidão crescer em
seu coração. Com esta meditação constante, também sua consciência prestará
atenção devida nos atos de Deus por você, em tudo que Ele já fez. Através do
evangelho, Deus quer te ganhar para Ele, não apenas sentimento, nem apenas
razão: mas razão, sentimento e volição (vontades). Ele quer você por completo
debaixo da graça que salva, purifica e transforma.
Por Marlon Anezi
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